Comportamento & Equilíbrio

Neurocientista ensina como aprender e nunca mais esquecer

Aprender é difícil, mas deixar esse conhecimento escapar da memória pode ser muito fácil

Acontece com quase todo mundo: a escola é o nosso primeiro contato com algum grau de frustração. É nela que percebemos, pela primeira vez, que precisamos aprender para não esquecer. O que deveria ser regra nem sempre é tão simples, uma vez que o nosso cérebro é único e reage de diferentes maneiras aos estímulos que recebemos.
Será possível então aprender e não esquecer nunca mais? Segundo Lívia Ciacci, neurocientista do SUPERA — Ginástica para o Cérebro, a resposta é sim. Primeiro é preciso entender que a aprendizagem é a capacidade de adquirir e armazenar dados para pensar e agir. Essa capacidade está intimamente ligada a outra habilidade cognitiva essencial, que é a memória.

A todo momento temos contato com o mundo e recebemos milhares de estímulos e informações pelos canais sensoriais, como durante a leitura, por exemplo, onde por meio da visão é possível codificar frases e interpretar o sentido. Essa é a primeira fase do processo: a aquisição da informação.

Após o primeiro contato, esse conteúdo fica na memória de curto prazo e pode ser recuperado de horas a alguns dias. Para um conteúdo sair da memória de curto prazo e se tornar memória de longo prazo, é necessário acontecer um processo neurofisiológico conhecido como consolidação”, explica Lívia Ciacci.

Como fazer para que o cérebro aprenda e não esqueça mais
A primeira coisa que temos que entender neste processo é que o cérebro só consolida as informações que considera mais relevantes, e existem duas maneiras de “mostrar” pra ele que aquilo que queremos aprender é relevante.
✓ Repetição — ou seja, voltando ao conteúdo várias vezes, pensando sobre ele e procurando fazer conexões com outros conhecimentos já consolidados.
✓ Impacto emocional e/ou sensorial — pois nós sempre vamos registrar com mais facilidade aquilo que gera apelos emocionais ou que ativam intensamente nossos sentidos.

Imagine que você estuda dois assuntos, um que não se interessa tanto e outro que gosta bastante. Será muito mais fácil consolidar as memórias do assunto que se gosta, por causa do emocional estar mais envolvido, potencializando a atenção. Mas não é impossível aprender mesmo sem ter muito interesse, aí nesse caso a repetição é uma boa estratégia”, destaca a neurocientista.

Os segredos para aprender um conteúdo para sempre são: se envolver com o assunto, procurando ter interesse suficiente para pensar profundamente sobre ele, focar bastante a atenção e repetir sempre! E depois que aprendeu, como não esquecer mais? E por que algumas coisas ficam em nossa memória para sempre? Para entender isso, novamente precisamos falar sobre memória.

No cérebro, a memória declarativa (aquela que expressamos por meio da linguagem) de longo prazo é ilimitada, ou seja, tudo que passar pela consolidação ficará disponível para evocação ao longo de anos. Por outro lado, se o aprendizado aconteceu em um momento e a pessoa passa muito tempo sem utilizar aquilo ou sem pensar de novo sobre o assunto, quando ela quiser retomar, o esforço será bem grande e talvez não consiga lembrar de tudo. Imagine que você guardou um caderno, mas quando foi buscar, já tinha uma pilha de outros cadernos e livros por cima, o esforço será grande para achá-lo lá no fundo.

Isso acontece porque o cérebro tem mecanismos de ‘limpeza’, apagando memórias que ele percebe que já não são acessadas ou usadas. Então nós temos sim a capacidade de memorizar algo para sempre, mas é necessário retomar essas informações vez ou outra para reforçá-las!”, ponta Lívia.

Quem aprende mais fácil?
Somos capazes de aprender em todas as idades, mas de fato, as crianças conseguem aprender mais rápido que adultos e idosos, pelo fato de terem a neuroplasticidade trabalhando intensamente, afinal, é um cérebro que está aprendendo a lidar com o ambiente para conseguir sobreviver.

Nos adultos, o cérebro já está organizado e já faz um gerenciamento da plasticidade, como se direcionasse mais ‘recursos’ para aquelas áreas que são mais exigidas. Por exemplo, um guitarrista usa muito a percepção auditiva e a motricidade das mãos, então ele tem essas áreas no cérebro mais desenvolvidas e com mais facilidade para aprender uma música nova ou um movimento novo”, continua.

E o que é determinante para aprender e não esquecer mais?
Por fim, é importante entender que as preferências, profissões e estilo de vida influenciam muito no tipo de aprendizado de longo prazo que a pessoa terá mais facilidade na vida adulta e idosa.

Os idosos também têm capacidade de aprender, mas provavelmente com uma menor velocidade de processamento das informações, que é algo natural do envelhecimento ou também devido a problemas nos órgãos dos sentidos, como a visão ou audição. Nessa fase da vida é importante não parar”, conclui a especialista.

Fonte: CicloVivo

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