Economia

Quais empresas do Brasil perdem com as tarifas de Trump e quem pode sair ganhando

Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos

Por Vandré Kramer

As tarifas de 25% impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre aço e alumínio importados começaram a valer nesta quarta-feira (12), afetando diretamente o Brasil. Embora algumas empresas instaladas no Brasil saiam perdendo com a taxação, pelo menos uma companhia brasileira do setor pode sair ganhando.
O aço é o segundo principal item de exportação para os Estados Unidos, que são o destino de quase metade das vendas externas das siderúrgicas brasileiras. O Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, exportou 4,1 milhões de toneladas em 2024, ficando atrás apenas do Canadá, de acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

A receita das siderúrgicas brasileiras com essa venda foi de US$ 5,7 bilhões em 2024, 17,1% a menos do que no ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os negócios estão em queda desde 2022 e os principais itens exportados são produtos semimanufaturados sem liga e lingotes. Analistas apontam que um grande desafio será a diversificação de mercados a partir da medida adotada por Trump, dificultada pela forte concorrência chinesa. Outra opção seria direcionar o excedente para o mercado interno, que deve ter desaceleração no crescimento neste ano.

Quais empresas são mais afetadas, e quem pode sair ganhando
Os impactos serão mais sentidos por multinacionais como ArcelorMittal e Ternium, que produzem e exportam placas de aço do Brasil para os EUA. Siderúrgicas brasileiras, como CSN e Usiminas também devem ser afetadas, mas em menor escala, segundo relatório do Itaú BBA divulgado pela BBC. E pelo menos uma empresa, a Gerdau, pode até se beneficiar.

Maior produtora de aço do Brasil, a Gerdau está reavaliando de seus investimentos no México, onde planejava investir entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões na construção de uma unidade. Sua produção nos EUA, de 4 milhões de toneladas por ano, é destinada exclusivamente ao mercado interno. Não há exportações do Brasil.

O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou em teleconferência que a empresa está analisando alternativas, incluindo realizar o investimento da nova usina em etapas ou expandir a capacidade nas fábricas de Michigan e Arkansas. Ele destacou o aço especial como estratégico para o grupo nas Américas e mencionou que as tarifas podem resultar em maior produção nos EUA e mais lucratividade. Atualmente, a Gerdau opera com 70% de sua capacidade de laminação nos EUA.

Com presença sólida nos EUA, a Gerdau deve se beneficiar das tarifas impostas por Trump como proteção contra o protecionismo, segundo a agência Reuters. Em contraste, a CSN, que exporta cerca de 4% de sua produção no Brasil aos EUA, será mais impactada, agravando dificuldades do setor, que já enfrenta margens estreitas e desafios para geração de caixa, segundo analistas.
A Usiminas, que exporta apenas 1% de sua produção aos EUA e registrou prejuízo de R$ 117 milhões no último trimestre, será menos atingida do que a CSN.

A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) destacou que os efeitos imediatos das tarifas serão a redução das exportações e o acesso mais difícil ao mercado americano. Apesar de ressaltarem a qualidade e sustentabilidade dos produtos brasileiros, a sobretaxa os tornará menos competitivos. Embora o Brasil represente menos de 1% das importações de alumínio dos EUA, as vendas do metal ao país equivalem a 16,8% das exportações brasileiras, movimentando US$ 267 milhões.

Brasil tenta reverter medidas, enquanto Lula mostra estridência
O governo brasileiro tenta reverter diplomaticamente a posição norte-americana, mas em certos momentos vem mostrando estridência, como foi o posicionamento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (11), durante visita a Betim (MG). “Não adianta o Trump continuar gritando de lá, porque aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo”.

Um dos interlocutores brasileiros é o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin. Uma das alternativas em análise é a renovação das cotas de importação de aço, como foi feito no mandato anterior de Trump, em 2018.

Naquela ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil negociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados. Tal medida flexibilizou decisão anterior do presidente Donald Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%.

Alckmin chegou a se reunir remotamente com o secretário de Comércio do governo Trump, Howard Lutnick, e com o representante comercial americano Jamieson Greer. Os Estados Unidos pedem, em troca, uma redução do imposto de importação que o Brasil aplica sobre o etanol importado, de 18%. Há a expectativa de que eles voltem a se reunir nesta semana.

Empresas americanas já sentem impactos das tarifas de Trump sobre aço e alumínio
As medidas foram anunciadas em fevereiro por Trump com a justificativa de fechar brechas e isenções existentes e supostas práticas de comércio injustas. Cerca de um quarto do aço usado nas fábricas americanas é importado. O insumo é essencial para a indústria automobilística e da construção civil, por exemplo.

Outro objetivo, também, seria o de proteger a indústria norte-americana. Trump vê as tarifas como uma forma de incentivar a produção no longo prazo. Segundo a Bloomberg, mesmo antes do início da taxação, as fábricas americanas estariam pagando mais pelos suprimentos de alumínio e cobre do que as suas concorrentes no exterior. A medida estaria enfraquecendo a confiança das empresas do país e já estaria alimentando a inflação. Nesta segunda (11), o alumínio estava cerca de 23% mais caro comparativamente à Europa e o aço, 40%.

Fonte: Gazeta do Povo

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