Geral

Liderar é deixar um caminho, não apenas pegadas

Por Francisco Neto

Quando fui convidado para ser colunista deste estimado jornal, sempre vislumbrei que meu primeiro texto seria sobre liderança, afinal estou convicto de que não existe bom empreendimento sem um líder forte. E aí, naturalmente, lembrei de um aspecto muito importante que um líder desenvolve: a habilidade em lidar com a pressão dos resultados. Se é verdade que o século XXI apresenta a exigência de performance quase em tempo real, a história nos mostra também exemplos fartos de que resultados sustentáveis ou transformadores surgiram, principalmente, quando a liderança entendeu a importância de não sucumbir ao imediatismo efêmero visando sempre o mérito duradouro. O livro “A Arte da Guerra” (500 anos a.C.) já estabelece logo em seu primeiro capítulo: “o general que vence uma batalha faz muitos cálculos em seu templo antes da batalha ser travada. O general que perde uma batalha faz poucos cálculos de antemão. Assim, muitos cálculos levam à vitória, e poucos à derrota”.

Steve Jobs (Foto: Creative Commons)

Em maio de 1976, a Microsoft já despontava como a maior empresa de computadores do mundo e praticamente ditava sozinha as tendências de mercado. A Apple, ainda que já tivesse obtido sucesso com o Apple I, não conseguia ameaçar este domínio até que Steve Jobs, um dos fundadores, liderou o processo de criação de um novo produto. Veja bem, não estou defendendo a forma pela qual Jobs (conhecido por ser egocêntrico, arrogante e controlador) exerceu esta liderança. Entretanto, é importante ressaltar o conteúdo de suas ações: suportou pressões internas à Apple (que precisava de um produto para sobreviver), os ataques dos concorrentes (como seu colega/rival Bill Gates) e o descrédito do mercado para, em junho de 1977 (pouco mais de um ano depois), lançar o Apple II, revolucionando o mercado de personal computers (PCs) e colocando a empresa como o player mais diferenciado do mercado.

Gustavo Kuerten (Foto: Getty Images)

Em 1997, após ganhar seu primeiro troféu em Roland Garros, Gustavo Kuerten se tornou o primeiro tenista masculino do Brasil a ser campeão de um dos quatro maiores torneios do circuito, gerando enorme expectativa no Brasil. Na sua biografia “Guga, um brasileiro”, o tenista revelou que aquele título, ainda que muito bem-vindo, não era algo dentro do planejamento inicial que tinha com seu treinador, pois ainda acreditavam que havia uma curva de aprendizado e evolução para poder alcançar voos mais altos. O impacto entre o planejamento de Guga e a frustração dos brasileiros com o sucesso imediato que não ocorreu, não abalou em nada a convicção do tenista brasileiro, líder de seu próprio destino. Três anos depois, em 2000, bicampeão de Roland Garros e do Masters Cup, Gustavo Kuerten se tornou o primeiro e único tenista masculino brasileiro a assumir o topo do ranking, nos mostrando que sua perseverança estava correta.

(Foto: Reprodução Internet)

Em 25 de abril de 2025, ocorreu um grande apagão no sistema elétrico da Espanha. Em tempos de X, TikTok, burnout e marketing do absurdo, sobraram “especialistas” para determinar, um dia após o evento, as causas raiz do evento (cujas falhas ainda estavam gerando impactos).

Hipóteses diversas foram divulgadas (ciberataque, terrorismo, sobrecarga por energias renováveis e teste de armas altamente tecnológicas), causando desinformação e pânico. Liderando um processo de análises para determinar o motivo do evento indesejado, os agentes federais e o operador do sistema elétrico espanhol procederam com suas devidas etapas de investigação e avaliação, seguindo processos de qualidade com metodologia validada ao longo de décadas de estudos. A divulgação da conclusão de sua análise quase dois meses depois do evento afastou de vez qualquer uma das especulações anteriores e tratou os motivos reais de forma objetiva.

O que um empreendedor de tecnologia, um tenista e agentes federais mostraram em comum nestes exemplos?

  1. Planejamento: houve cuidado em seguir um plano, buscar uma meta, almejar o resultado;
  2. Expertise: todos sabiam exatamente aonde chegar. O alvo não era apenas ‘um resultado’, mas ‘o resultado’, aquele inegociável, sonhado. Não era uma aventura, mas uma missão com propósito definido;
  3. Resiliência: fatores externos não abalaram as convicções originais;
  4. Persistência: o sucesso da empreitada só ocorreu pela sinergia inabalável entre os itens anteriores.

Liderar não é sempre chegar em primeiro lugar; é chegar quando todas as condições se tornam favoráveis para o resultado de excelência. A capacidade de distinguir entre esses dois momentos é a verdadeira marca de um grande líder. É a diferença entre uma vitória passageira e um legado que transforma pessoas, mercados e gerações. E você, como tem equilibrado sua liderança? O que você tem levado mais em consideração quando lidera uma equipe rumo aos resultados?

Francisco Neto
Engenheiro eletricista, CEO da Conexa Engenharia
Especialista em gestão de projetos, empreendedorismo e inovação
@eng.fneto

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish