Disciplina é Liberdade

Quando a coragem de uma mãe ensina o Brasil a flutuar
Há histórias que nascem pequenas, discretas, quase tímidas — e, ainda assim, carregam dentro de si uma revolução. A Titibum é uma dessas histórias. E talvez seja por isso que, com a chegada do verão, eu não consiga deixar de pensar no brilho dessa empresa capixaba que transformou segurança aquática em liberdade, e liberdade em alegria.
Mas antes de ser empresa, a Titibum foi dor. Foi preocupação. Foi tentativa e erro. Foi o olhar de uma mãe — Cássia Dillem — diante da frustração de ver sua filha não conseguir brincar na água. A pequena não se adaptava às boias de braço. Chorava. Se irritava. E o que era para ser diversão virava angústia. A maioria das mães aceitaria o limite imposto pelo produto. Cássia, não.
Ela olhou para a filha e decidiu que, se não existia no mundo a solução que ela precisava, então ela mesma iria criar. É aí que a disciplina, tema central desta coluna, mostra seu lado mais poderoso: disciplina não é rigidez — é compromisso com o que importa. É recusar o “não dá” como resposta final.

Assim, munida de coragem, criatividade e amor, ela costurou o primeiro protótipo da Titibum em casa. O que antes eram pedaços improvisados de macarrão de piscina virou, com o tempo, uma engenharia inteligente: flutuadores distribuídos no tronco, liberdade total dos braços, postura natural na água, confiança imediata. Um conceito tão essencial e tão simples que só alguém profundamente atento à dor real poderia ter percebido.
E quando uma solução nasce da dor verdadeira, ela encontra outras dores semelhantes. Não demorou para que famílias inteiras reconhecessem, no projeto de Cássia, uma resposta a frustrações antigas: crianças que não gostavam de boias tradicionais, adultos com medo de água, pessoas com deficiência ou no espectro autista que desejavam experimentar a piscina sem tensão, sem insegurança, sem barreiras. A Titibum virou inclusão. Virou autonomia. Virou dignidade. Virou a liberdade de existir na água.
Da invenção caseira ao reconhecimento público, o caminho foi árduo, mas contínuo. A empresa recebeu apoio da FAPES, conquistou editais de inovação, cresceu em estrutura e propósito. A disciplina de Cássia aparecia em cada detalhe: no teste de materiais, na engenharia de modelagem, nos longos processos de certificação, na busca pela patente e até no cuidado com a comunicação com pais e profissionais de educação aquática.
A repercussão nacional veio não apenas com o Shark Tank Brasil, mas também com veículos de prestígio como Pequenas Empresas & Grandes Negócios, que destacaram a inovação capixaba como exemplo de criatividade e impacto social. O país inteiro começou a enxergar o que nós, aqui do Espírito Santo, já sabíamos: a Titibum tinha nascido para ser grande.
E então veio o momento televisionado que o Brasil inteiro viu: a Titibum no Shark Tank. Eu assisti ao episódio sorrindo. Porque eu sabia que aquele pitch não era apenas uma apresentação — era o resumo de anos de luta. Joel Jota, que entende profundamente a importância da segurança aquática, enxergou de imediato a grandeza da solução. O acordo aconteceu tão rápido que se tornou histórico: o pitch mais veloz do programa. Dois profissionais que falam a mesma língua — disciplina, propósito, impacto — se encontraram.

Desde então, a Titibum passou a aparecer nas piscinas do Brasil e do mundo. Viralizou. Encantou. Tornou-se referência em segurança e aprendizagem aquática. Até mesmo Mavie, filha de Neymar, apareceu usando a peça nas redes, reacendendo o debate sobre inovação, proteção e liberdade para brincar. E agora, às portas do verão, penso no simbolismo disso tudo. Penso nas famílias que, graças à Titibum, viverão um verão mais leve. Penso nos adultos que finalmente vão entrar na água sem medo. Penso nas crianças autistas que poderão experimentar a sensação de flutuar com autonomia.
E penso em Lara, hoje uma adolescente — que cresceu junto com o sonho da mãe. Penso no sorriso orgulhoso de quem entende, agora com maturidade, que um momento difícil em sua infância se transformou no motor propulsor para que sua mãe criasse algo extraordinário, não apenas para ela, mas para crianças, adultos e famílias do Brasil inteiro e além das nossas fronteiras. Lara é hoje testemunha viva de que uma dor bem compreendida pode virar inovação, pode virar solução, pode virar legado.

Cássia, ao longo de todos esses anos, não criou apenas um produto. Criou uma ponte entre segurança e alegria. Entre inovação e afeto. Entre desafio e superação.
Neste verão, quando você cruzar com alguém usando uma Titibum — seja criança, adulto ou idoso — lembre-se de que aquela peça carrega a história de uma mãe que se recusou a aceitar a limitação como destino. Uma mãe que transformou preocupação em tecnologia, e tecnologia em inclusão.
A liberdade de flutuar pode parecer simples, mas é um ato profundo: é o corpo dizendo “eu posso”. É a mente dizendo “eu confio”. E é o coração dizendo “estou pronto”. Disciplina é isso. Liberdade é isso. E a Titibum — definitivamente — é isso.













