Brasil foi atingido por tsunami em 1755 provocado por maior terremoto da Europa
Maremoto de Lisboa é evento central para a compreensão da história moderna brasileira e portuguesa; desastre não ficou reservado ao Atlântico Norte, mas causou vítimas no Brasil
Você sabia que o litoral do nordeste brasileiro já foi atingido por um tsunami? Segundo estudos recentes, o maremoto de 1775 em Lisboa, que destruiu a cidade portuguesa e teve efeitos na Irlanda, no Marrocos, no Caribe e nos EUA, também causou destruição na costa nordeste brasileira naquele ano.
Os registros são poucos, mas foram coletados por Alberto Veloso, autor do livro Tremeu a Europa e o Brasil também e também publicados em um artigo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2020. Segundo as pesquisas, as ondas foram grandes e superaram os dois metros, algo incomum para aquelas regiões. Em Tamandaré (PE), as ondas avançaram por mais de 800 metros para dentro do vilarejo e em Lucena, na Paraíba, mais de 300 metros depois da costa foram inundados também.
Documentos da época, como cartas, afirmam que o terremoto fez vítimas. “Em Lucena e Tamandaré, a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua (4 a 5km) terra adentro e levou algumas casas de palhoça e falta um rapaz e uma mulher”, diz uma carta recolhida por Alberto Veloso.
O maremoto de Lisboa de 1775 foi causado após um terremoto de 8,5 pontos na escala Richter ser registrado nas proximidades da costa portuguesa. Apenas um bairro da capital portuguesa ficou intacto e toda a cidade foi reconstruída sob as ordens de Marquês de Pombal, figura controversa da história do Brasil e de Portugal.
E seria possível que um evento sísmico do outro lado do Atlântico causasse algo similar a um tsunami na costa brasileira nos dias de hoje?
O risco de tsunami no Brasil de hoje
Desde semana passada, uma grande atividade sísmica vem sendo registrada na região de Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias, um território espanhol que se localiza no Atlântico Norte. Desde um estudo realizado no início dos anos 2000, pesquisadores tentam entender quais seriam os impactos de uma erupção de grandes proporções na costa Atlântica.
Em um cenário bastante específico, ou seja, caso uma parede lateral do vulcão de Cumbre Vieja se rompesse e o magma fosse direcionado ao Oceano Atlântico, é possível que um tsunami de grandes proporções afetasse o Brasil. Entretanto, a chance de ocorrer o rompimento da parede lateral do vulcão das Ilhas Canárias é ínfima.
“Os pesquisadores enfatizaram o pior cenário ao admitir a caída total do bloco rochoso, uma vez que ele poderia vir abaixo, em partes, e o impacto final seria bem menor. Outra questão é saber se o tsunami se dispersaria rapidamente, ou se se propagaria a distâncias transoceânicas, implicando, nesse caso, grande perigo às populações costeiras. Apesar de todas as incertezas de ocorrência, um tsunami dessa natureza produziria danos por quase todo o Atlântico”, explica, em artigo de 2016, o professor Alberto Veloso.
Hoje, o mundo assiste à erupção do vulcão de Cumbre Vieja, mas, pelo que indicam os dados, não existe possibilidade da erupção afetar o Brasil. Veja algumas imagens:
Ainda segundo Veloso, alguns registros de tsunamis originários de atividade sísmica no Brasil existem. Eles os classifica como ‘minitsunamis’, porque são originários de eventos sísmicos de pequena proporção e também não causam muitos danos. De acordo com o professor, os casos ocorreram em Cananeia (SP) em 1789 e na Baía de Todos os Santos (BA) em 1919. Portanto, para quem lembra de ‘Insolação do Coração’, do Babado Novo, esquece: o Brasil tem terremoto, sim. Tsunami, pelo visto, só dos pequenos.
Fonte: Hypeness