Como as atividades lúdicas ajudam no desenvolvimento infantil

“A criança usa esta forma de se expressar para representar aquilo que ainda não consegue nomear verbalmente”, diz especialista em desenvolvimento infantil

Por Helena Gomes

De acordo com o neurocirurgião André Ceballos, especialista em desenvolvimento infantil, primeiramente, muito antes da escrita e da fala organizadas, as crianças já se comunicam por meio de gestos, sons e desenhos. As atividades lúdicas compostas por traços, formas e cores que, aos olhos adultos, podem parecer aleatórios são, na verdade, parte de um processo de amadurecimento que envolve linguagem, cognição, coordenação e expressão emocional.

Desenhar, então, é uma forma de expressão simbólica. A criança usa o desenho para representar aquilo que ainda não consegue nomear verbalmente. Isso nos ajuda a entender como ela está percebendo o mundo, o outro e a si mesma”, afirma Ceballos.

Dessa forma, ele destaca que experiências gráficas como rabiscar, pintar ou modelar mobilizam diferentes áreas do cérebro de forma simultânea, favorecendo o amadurecimento neurológico.

Ao desenhar, a criança treina o olhar, o gesto e a organização mental de maneira natural, construindo uma base importante para etapas futuras do aprendizado”.

Mas como garantir que esse processo não seja interrompido? Além da escuta atenta dos adultos, o ambiente em que a criança desenha, inclusive os materiais que utiliza podem ter papel facilitador. Rogério de Andrade, gerente de marketing da STAEDTLER no Brasil, observa que há uma crescente valorização da experiência gráfica na infância, especialmente em períodos como as férias escolares e a volta às aulas.

O lápis, o giz ou a canetinha são, muitas vezes, os primeiros instrumentos de expressão da criança. A qualidade desses materiais em termos de adaptação à faixa etária, ergonomia e segurança influencia diretamente a forma como ela vive essa experiência”, afirma.

Ainda segundo Andrade, há uma mudança perceptível na forma como famílias e escolas enxergam o ato de desenhar. “O foco deixou de ser o desenho ‘bonitinho’ para se tornar aquilo que a criança vivencia durante a criação. É um avanço importante: ou seja, mais atenção ao processo, menos cobrança por desempenho precoce. Isso ajuda a respeitar o ritmo de cada fase da infância”.
Para o Dr. Ceballos, essa mudança de olhar é fundamental.

Quando uma criança desenha, ela está falando. Cabe a nós, adultos, educadores, cuidadores, interpretarmos essa linguagem com cuidado e respeito. E isso começa oferecendo à ela o tempo, o espaço e os meios para se expressar livremente”.

Confira os principais benefícios do desenho para a infância, segundo os especialistas.

Coordenação motora fina
Primeiramente, ao segurar um lápis ou pincel, e traçar linhas no papel, a criança exercita os músculos das mãos e dos dedos. Esse controle é essencial para tarefas futuras, como escrever, abotoar roupas ou manusear objetos com precisão.

Organização do pensamento
Desenhar envolve planejamento. Mesmo que de forma intuitiva, a criança escolhe cores, formas e onde posicionar cada elemento. Esse processo estimula a noção de sequência, causa e efeito, que são habilidades importantes para a vida escolar.

Expressão emocional
O desenho também é uma forma segura e natural de expressar sentimentos. Medos, alegrias, desejos e inseguranças frequentemente aparecem nas produções gráficas, servindo como ponte entre o mundo interno da criança e o olhar atento de pais e educadores.

Criatividade e autonomia
Ao desenhar livremente, a criança aprende a fazer escolhas, lidar com o improviso e explorar possibilidades. Esses momentos alimentam a imaginação e fortalecem a confiança em suas próprias ideias e decisões.

Concentração e autorregulação
Por fim, o envolvimento com o desenho exige atenção contínua. Durante a atividade, a criança exercita a concentração, aprende a lidar com frustrações (como errar um traço) e desenvolve habilidades de foco que se estendem para outras situações do cotidiano.

Fonte: Bons Fluidos