Economia

A importância da produção de biodiesel em propriedades rurais

O Espírito Santo se destaca por seu agronegócio, sendo um de seus importantes polos, apesar de sua diminuta extensão geográfica. Em solo capixaba se destacam as culturas agrícolas do café conilon e uma fruticultura com destaque para o mamão-papaia (Carica papaya), além de outras variedades como abacaxi, banana, coco, maracujá, manga, morango, uva, acerola, caju e goiaba.
Apoiar o agronegócio é vital para o desenvolvimento nacional, pois este setor responde por aproximadamente 29% do PIB brasileiro em 2025, segundo dados disponíveis da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Além dos desafios naturais deste segmento (gestão eficiente de custos, investimentos em tecnologia, alterações climáticas, alterações tributárias, etc.), o agronegócio brasileiro enfrenta também preconceitos ideológicos lastreados por visões anacrônicas que não correspondem à realidade do setor.

Este artigo tem como objetivo apresentar uma pequena contribuição para o agronegócio capixaba, destacando a importância da produção de biodiesel em propriedades rurais, como alternativa ao óleo diesel. Os custos do óleo diesel para os produtores rurais são significativos em seus empreendimentos, impactando diretamente no preço final dos seus produtos. O valor é influenciado pelo preço do combustível, que varia com o mercado e a logística associada, e também pelo consumo que depende da lavoura e da intensidade do maquinário utilizado. Aumento dos custos de óleo diesel afetam diretamente a rentabilidade e a sustentabilidade deste setor.

Curiosamente, o óleo diesel foi idealizado, inicialmente, como uma fonte de origem vegetal. Rudolph Diesel, o criador do motor diesel, apresentou seu protótipo na Exposição Mundial de Paris em 1900. Projetado inicialmente para operar com óleo de amendoim ou óleo de colza (oleoginosa comum na Alemanha), expressava a visão deste notável engenheiro de que o combustível destes motores seria cultivado pelos próprios agricultores, reduzindo sua dependência de grandes empresas petrolíferas.

Sua patente não especificava um único tipo de combustível, mas demonstrava a capacidade de usar uma variedade de materiais de origem vegetal e mineral. Com base nesta versatilidade e do grande desenvolvimento da indústria do refino de petróleo ao longo do século XX, praticamente todos os motores a diesel operam atualmente com óleos diesel de origem fóssil.

Produzir, portanto, biodiesel é uma espécie de retorno aos conceitos de sustentabilidade idealizados por Rudolph Diesel, e para um país de dimensões continentais como o Brasil, uma oportunidade econômica para as milhares de propriedades rurais distantes dos grandes centros logísticos que comercializam óleo diesel.

O biodiesel é definido tecnicamente como um biocombustível formado por ésteres de ácidos graxos, ésteres alquila (metila, etila ou propila) de ácidos carboxílicos de cadeia longa e hidrocarbonetos de origem vegetal. Recomendo ao leitor interessado no tema, o artigo de Ana Paula Santos e Angelo Pinto, “Biodiesel: uma alternativa de combustível limpo”, disponível em https://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc31_1/11-EEQ-3707.pdf. Pode inclusive ser de grande auxílio para professores de Química do ensino médio para o desenvolvimento deste assunto em suas aulas, principalmente em escolas de áreas rurais.

Como a reação se dá por uma transesterificação de triglicerídeos (um constituinte natural de quase todas as oleoginosas), temos uma disponibilidade de uma enorme variedade e abundância de matrizes em território brasileiro, como p.ex., a soja, mas também outras culturas como girassol, mamona, milho, dendê, canola, babaçu, pinhão-manso e macaúba. Além disso, gorduras animais (“sebo”) e óleos residuais (“frituras”) também podem ser utilizados como matéria-prima.

Desta forma, é possível produzir biodiesel em pequena escala, como em uma micro usina, para uso próprio nas propriedades rurais, sendo uma alternativa para o produtor rural, agregando valor à sua produção (fonte: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/agroenergia/biodiesel).

O biodiesel pode ser produzido pelos processos de craqueamento ou transesterificação (ou esterificação), podendo ser realizado por via etílica (etanol anidro) ou metílica (metanol), sendo a transesterificação o processo mais utilizado para a produção de grandes volumes. O processo de craqueamento (também chamado de pirólise) é o mais adequado para a produção em micro usinas, localizadas em propriedades agrícolas, pelo seu baixo custo de implantação e facilidade de operação, apesar de sua produção se dar em pequenos volumes (bateladas).

Os processos são representados na figura a seguir:

Fonte: PROPEQ (2021) acessado em https://revistaft.com.br/os-veiculos-eletricos-realmente-ajudarao-com-a-sustentabilidade-no-mundo/

Diferente do método tradicional (transesterificação), o craqueamento (ou pirólise) usa altas temperaturas (acima de 350ºC) e, em alguns casos, catalisadores para quebrar as moléculas grandes de óleos vegetais e gorduras animais em moléculas menores, semelhantes ao diesel de petróleo. É o modelo adequado para micro usinas localizadas em propriedades rurais, onde o agronegócio se destaca, como é o caso do Espírito Santo.

Robson Valle

Robson Valle

Engenheiro químico, vice-presidente da Associação Profissional dos Químicos do ES (Aproquimes) Página pessoal: https://rvalle.com.br/eqes/

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