A impressionante múmia de Amósis I
Medindo 1,68 m de altura, o faraó tinha dentes proeminentes e não foi encontrado em sua pirâmide
Embora tivesse construído uma pirâmide durante seu reinado, assim como a maioria dos faraós egípcios, Amósis I não foi encontrado dentro dela. O fato é que nem a própria estrutura sobreviveu com o tempo: foram encontrados apenas seus restos em 1899 e, posteriormente, identificados como dele em 1902.
As pedras que revestiam a pirâmide foram retiradas do local e implantadas em outras obras ao longo do tempo — provavelmente roubadas. Além disso, a parte interior entrou em colapso. Hoje, apenas ruínas marcam o que é considerada a última pirâmide real conhecida do Egito. Ainda assim, Amósis I não foi encontrado em seus destroços.
O que egiptólogos propõem para resolver essa situação incerta é que a pirâmide foi construída para ser um cenotáfio, uma espécie de túmulo honorário. Ou seja, o local seria apenas em memória do faraó, e seu corpo mumificado não havia sido deixado ali por seus descendentes. Sugere-se, ainda, que ele tenha sido colocado originalmente na necrópole de Dra’ Abu el-Naga’, com outros membros das dinastias do final do século 17 e 18 do Egito Antigo.
O mistério da múmia
No entanto, não foi lá que sua múmia foi encontrada. O que se sabe é que o sarcófago, como inúmeros outros, sofria com constantes saques feitos por vândalos que iam até à região. Os pesquisadores acreditam que a múmia apenas sobreviveu a essas drásticas situações devido a uma tentativa de proteger os cadáveres mumificados de importantes líderes do Egito Antigo. Isso teria acontecido quando, em algum momento durante a dinastia 21, pessoas coletaram algumas múmias e as colocaram em uma outra tumba, para, assim, enganar saqueadores.
Ficou claro para os pesquisadores que Amósis I não havia sido colocado em Deir el Bahri, na Necrópole de Tebas, logo após sua morte. Embrulhado em um tecido amarelo, o corpo foi colocado dentro do local que pode ser considerado uma espécie de esconderijo para múmias que sofriam com ataques brutais de saqueadores.
Além de Amósis I, as múmias de Tutmés I, Tutmés II, Tutmés III, Seti I, Ramsés I, Ramsés II, Ramsés IX e Amenófis I também foram encontradas no local. Junto deles, também estavam alguns dos faraós da 21ª dinastia como Pinedjem I, Pinedjem II e Siamun. A tumba, também conhecida como túmulo DB320, abrigava ainda pelo menos 50 restos mortais de faraós, rainhas e nobres do Egito Antigo, contando ainda com muitos equipamentos fúnebres dessas pessoas.
Amósis I
Ao encontrar a múmia de Amósis I, os arqueólogos puderam descobrir mais informações sobre o faraó, como o período em que ele governou, com quantos anos ele morreu e, ainda, características físicas do homem que governou o Egito Antigo. Foi o egiptólogo francês Gaston Maspero quem desembrulhou o corpo mumificado em 9 de junho de 1886.
Embora a cabeça tivesse sido retirada do corpo por saqueadores, ela foi, desajeitadamente, colocada de volta. O nariz, porém, foi quebrado. Com 1,68 m de altura, o líder possuía um rosto muito comum, sem características que o demarcassem. No entanto, seus dentes, provavelmente mais proeminentes, podem ser considerados uma característica entre sua família, visto que seu descendente, Tutmés II, também a possuía.
Ele foi encontrado em um caixão que exibia seu nome escrito em hieróglifos. Com um estilo que provavelmente remonta à 18ª dinastia, a madeira de cedro demonstra o período em que ela foi esculpida para dar lar ao antigo faraó. Em seu pescoço, ainda foi colocada uma guirlanda de flores azuis de delphinium.
Em seus escritos, Maspero descreveu a múmia: “Ele era de estatura média, pois seu corpo, quando mumificado, media apenas 5 pés e 6 polegadas (1,68 m) de comprimento, mas o desenvolvimento do pescoço e do peito indica força extraordinária. A cabeça é pequena em proporção ao busto, a testa baixa e estreita, os ossos da bochecha projetam-se e os cabelos são grossos e ondulados. O rosto se assemelha exatamente ao de Tao II e a semelhança proclamaria a afinidade, mesmo se ignorássemos o relacionamento íntimo que unia esses dois faraós”.
Ao longo do tempo, análises mais específicas puderam ser realizadas com a múmia. Um exame de radiocarbono revelou que o período de seu reinado foi entre 1570 e 1544 a.C., sendo o ponto médio 1557 a.C. Além disso, no início, pensava-se que se tratava de um homem de 50 anos, mas exames mais recentes demonstraram que ele provavelmente tinha por volta dos 30 a 35 anos quando morreu. Subindo ao trono aos 10 anos, Amósis I teria tido um reinado de 25 anos.