Economia

Empresários da Serra otimistas com o cenário econômico

Em tempos de pandemia e isolamento social, a volta ainda tímida do comércio anima os empresários do setor de hotelaria e bares e restaurantes. Tomando todas as medidas de higiene e prevenção recomendadas a gerente geral e proprietária do Hotel Jardins, Marinna Zatta Rodrigues, e o casal proprietário da Churrascaria Esteio, Ashley e Gabriela Mesnner, falam dos seus segmentos de atuação e criticam a falta de investimento do poder público no turismo do município da Serra e do Espírito Santo.
Os dois empreendimentos localizam-se no município serrano e enfrentam basicamente os mesmos obstáculos no que tange ao desenvolvimento turístico e empresarial no município e no Estado. Com a pandemia, o setor se viu obrigado a se reinventar para não sucumbir ao terrível momento econômico provocado pela covid-19.
Apesar da pandemia, que obrigou as pessoas a ficarem em casa e os comércios a fecharem as portas, Marinna Zatta acredita numa recuperação do segmento muito em breve. Para ela, a rede hoteleira está passando por um momento delicado, assim como a sociedade, mas o turismo, de forma geral, também vem passando por uma fase extremamente complicada desde o início da pandemia, e em função dela, as pessoas não estão viajando.

Marinna Zatta Rodrigues, gerente geral do Hotel Jardins, na Serra

“O Hotel Jardins participa de um grupo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e, então, temos muitos contatos com outros hotéis que são cadastrados e há muita troca de informações, assim sabemos como está a maioria dos hotéis no cenário nacional. Está complicado para a maioria, tem uma quantidade enorme que chegou a fechar e continua fechada, uma quantidade muito grande de demissões, recebemos muitos currículos pedindo emprego porque nós nos mantivemos abertos. Estamos sofrendo com o momento, as indústrias pararam, o comércio parou e isso afeta o nosso movimento normal”.
O Hotel Jardins tem três anos e o seu maior público é o corporativo. “Investimos mais nesse público pela falta de investimentos no turismo. Estamos próximos a diversas praias, restaurante e shoppings, ao Parque da Cidade e, mesmo assim, temos pouca movimentação advindas do turismo, por falta de investimento em divulgação do município”, reclama.

Gabriela e Ashley Oliveira, proprietários da Churrascaria Esteio (Foto: Haroldo Cordeiro Filho)

Ashley e Gabriela, também focaram no público corporativo. “A nossa localização é altamente comercial, temos micros, pequenas, médias e grandes empresas, bancos e órgãos públicos ao nosso redor e isso nos favoreceu muito”, dizem.
Assim como Marinna, Ashley também reclamou da falta de empenho do poder público. “Não perdemos em nada para nenhum Estado. O Rio de Janeiro, com Búzios, e a Bahia, com Porto Seguro, têm praias lindíssimas, mas nós também temos. Um certo dia ouvi uma fala da secretária de Turismo do Rio Grande do Sul dizendo que o Espírito Santo é lindo, só que não divulga — Gramado é lindo e fica esplendoroso por conta da divulgação”, cita.

Fachada do Hotel Jardins, Serra (ES) (Foto: Haroldo Cordeiro Filho)

Complementando a fala de Ashley, Marinna concorda que falta investimento para o Espírito Santo deslanchar no turismo. “Na ABIH, isso é muito discutido, todos nós acreditamos que a falta desse público do turismo, se deve à falta de divulgação do poder público. Há uma falta de foco no turismo do nosso Estado. Ele geraria divisas para o Estado… Temos potencial para isso, não falta praticamente nada para impulsionarmos, a natureza foi generosa com os capixabas que têm belas praias, montanhas, boa gastronomia, bons restaurante, boas pousadas, ótimos hotéis, bons centros de convenções, as pousadas, o clima é favorável, até a segurança, se comparada com cidades maiores”, analisa.
Apesar desse cenário desolador, Marinna vê um pequeno retorno à ‘normalidade’. “Acho até que as coisas estão começando a retomar a sua normalidade lentamente, mas hotéis fecharam e muitos permanecem fechados em função da baixa taxa de ocupação. Muitos deles dependem do turismo e sabemos que é uma área com pouco investimento dos governos municipais e do Estado”, critica.
“Cito como exemplo o monumento natural localizado no nosso município, o Morro Mestre Álvaro que, com investimentos simples o retorno seria certo. Colocar trilhas, guias, guardas municipais para dar segurança aos visitantes, aos aventureiros, cobrar taxa de preservação dos visitantes, que sejam baratas, mas que tragam atratividade para a região… um ponto turístico que se tornaria referência e seria mais um atrativo que ajudaria a fomentar a economia local”.

Buffet da Churrascaria Esteio, Serra (ES) (Foto: Haroldo Cordeiro Filho)

Fazendo coro à fala de Marinna, Ashley diz que “Entendo que o nosso turismo não é tratado como investimento, como prioridade… temos muita coisa para ser mostrada, que poderiam atrair muito mais turistas, mas a falha é muito grande dos órgãos governamentais. A cultura dos nossos gestores é de trazer fábricas, não sabendo que essa indústria é local, e a indústria turística não é simplesmente local, ela é muito mais abrangente”, enfatiza Ashley.
A maneira como o governo estadual tratou a situação toda, também gerou descontentamento no meio empresarial capixaba. “Algumas ações tomadas pelo governo de fechar uns segmentos e outros não, no meu entender não foi acertada…. Eu, como funcionário público que sou, posso deitar e acordar amanhã tranquilo porque o meu salário vai estar lá, mas como empresário, eu deito pensando que no dia seguinte não sei se vou poder arcar com as obrigações fiscais, que no Brasil não são baixas”, ressalta Ashley.
Assim como Marinna, Ashley e Gabriela também têm a sensação de que as coisas estão entrando nos eixos novamente. “Venho sentindo melhoras nas últimas semanas, então, é segurar que as coisas vão voltar ao normal. Estamos passando por uma fase e, como toda fase passa, acredito que quem conseguir se manter, sairá na frente”, acredita.

Interior da Churrascaria Esteio (Foto: Reprodução Facebook)

Ao fim da entrevista, para deixar bem claro do que estava falando e mostrar que a Serra é uma cidade com tanto potencial, ainda inexplorado, Ashley disse que os sogros, André José Aresi e Rose Mary Aresi, expandiram os negócios da família com a inauguração de uma área de lazer e eventos em Serra Dourada, também na Serra.
Que o exemplo desses empreendedores, que lutam diariamente, para que o seu município se desenvolva, abrindo portas de emprego — em um País com mais de 12 milhões de desempregados — seja um incentivo para àqueles que, infelizmente, tiveram que fechar as portas e, talvez, desistir ou ver ruir um sonho.
Acredito que pessoas como Marinna, Gabriela e Ashley, hoje representam uma gama de pessoas que se estão em uma situação difícil ou até mesmo desesperadora. Mas lição que fica desse trio — que merece todo o nosso apoio e reconhecimento — é a de que, apesar das circunstâncias adversas, é possível sonhar e realizar. E que, neste ano eleitoral, sejamos sensatos nas nossas escolhas. Pois essa pandemia nos mostrou que não somos apenas nós, fazemos parte de um todo e se a minha escolha for pensando somente em mim ou nos meus negócios, corremos o risco de nos afundar ainda mais como sociedade. Fica a dica!

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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