Política

Lagoa do Juara pede socorro – Parte I

Localizada no município de Serra, região da Grande Vitória, Estado do Espírito Santo, a lagoa do Juara, com uma extensão de quase 10 km, faz parte de uma hidrografia composta por rios e praias. Na década de 80, foi palco de etapas de regatas com participação de equipes tradicionais do remo capixaba como Saldanha da Gama e Álvares Cabral. Aconteciam passeios ecológicos organizados por pescadores e moradores de Jacaraípe, de outros municípios e até mesmo de outros estados. Todo tipo de esporte aquático era praticado nos finais semana como jet ski, canoagem e pedalinhos. Famílias inteiras se deliciavam, contemplando e desfrutando de sua beleza presenteada por Deus.
Mas como nem tudo são flores, nos últimos anos, a lagoa vem pedindo socorro pelas constantes ações do homem. As mais frequentes são feitas pela especulação imobiliária e desastradas intervenções do município na tentativa de suprir as necessidades da população, que vem crescendo desenfreadamente e sem nenhum planejamento. Segundo seu Elias Floriano Efgem, um dos fundadores da Associação dos Pescadores da Lagoa do Juara (APLJ) e morador há 37 anos, por décadas a lagoa vem servindo de depósito de esgoto residencial e industrial dos bairros de Laranjeiras II, Serra Dourada, Grande Jacaraípe e até da Serra Sede.
“Eles falam que o esgoto dessas comunidades é tratado, mas é mentira, isso é conversa para inglês ver. O esgoto jogado na lagoa e o desmatamento precisam ser combatidos pela fiscalização dos órgãos competentes. Cadê a Secretaria de Meio Ambiente do município para fiscalizar? O Estado precisa interceder, temos uma maravilha nas mãos e nada está sendo feito para conter a degradação”, critica.
Para seu Elias, a abertura do rio Jacaraípe foi péssima para os peixes nativos da lagoa. “Hoje as coisas não estão nada bem. A limpeza feita no rio Jacaraípe foi necessária, mas a obra fez com que a água salgada tomasse conta da lagoa e isso prejudicou muito os peixes nativos daqui. Há alguns anos, morreram muitos peixes nativos, perdemos mais de 40 toneladas de peixes da associação dos pescadores e peixes nativos, foi muito triste”, reclama.
Zé Pikira, filho de pescador e morador também da região há mais de 30 anos, se diz triste pela forma com que se encontra hoje a Lagoa. “Está muito poluída, os órgãos ambientais não se preocupam. Abriram o rio Jacaraípe para não dar enchente em Jacaraípe e isso prejudicou a Lagoa do Juara. Temos duas situações hoje, uma que é a poluição e a outra que é a salinização provocada pela abertura do rio Jacaraípe. Nas marés cheias, que acontecem em março, a água do mar adentra a lagoa matando os peixes nativos. A lagoa tinha jacarés e peixes como tucunarés, robalos e tainhas, mas hoje não encontramos mais nenhuma dessas espécies. O maior poluidor da lagoa é o esgoto residencial. Tem um córrego que sai da rua Guarani na parte de cima de Jacaraípe, passa por vários bairros e deságua na lagoa. A prefeitura sabe disso e nada faz”, denuncia o morador.

“Por esses e tantos outros motivos é que aproveito essa oportunidade para dizer que a Serra não é lugar de aventureiros, em 15 de novembro, precisamos eleger um maquinista com maturidade e experiência para conduzir essa locomotiva e não manobrista”, acrescenta Zé Pikira.
O protético e turista capixaba, Wanderson de Sena, hoje residindo em Minas Gerais, e que estava visitando a lagoa com familiares da esposa, que são mineiros, disse que “o lugar é um presente de Deus, mas os homens, infelizmente, estão degradando a lagoa, não a estão valorizando, o que é uma pena. O poder público está se omitindo da sua obrigação que é fiscalizar e manter preservada”, lamentou.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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