Saúde

Idosos e HIV: viver mais e bem com o vírus já é realidade

Com os avanços no tratamento e prevenção, é possível ter um envelhecimento saudável mesmo após o diagnóstico da IST

Estereótipos criados em torno de pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) existem há muitos anos. Apesar da frequente associação dessas doenças com a população jovem, o número de idosos portadores de condições como o HIV vem crescendo com o tempo.
Segundo dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), se o número de casos de HIV seguir o mesmo ritmo de crescimento que vem apresentando nos últimos anos, é possível que, em 2030, 70% da população mundial com 60 anos ou mais esteja infectada com o vírus.
Assim, é importante que esse grupo seja visto de forma diferente, entendendo que a idade não é um empecilho para ser uma pessoa vulnerável a esse tipo de doença. Campanhas de prevenção e orientação sobre o uso de preservativos, normalmente direcionadas para jovens, também devem ter como público-alvo os idosos, servindo como um alerta para os riscos de contrair HIV.

Risco do HIV em idosos

De acordo com Paula Massaroni Peçanha Pietrobom, infectologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, atualmente, o risco da população que envelhece com o HIV está ligado à maior suscetibilidade de desenvolver outras doenças crônicas, como:

Além disso, é possível que a população idosa desenvolva problemas de saúde relacionados aos medicamentos utilizados no tratamento do HIV. Mesmo com opções extremamente seguras e eficientes no mercado, todo tipo de remédio pode apresentar efeitos colaterais.
“Como exemplo, no primeiro esquema de tratamento, é possível ter dois efeitos clássicos, mas que tentamos evitar: a nefropatia, que pode prejudicar o funcionamento dos rins, e a osteoporose. Por serem enfermidades mais prevalentes na população idosa, temos que manter um acompanhamento periódico também quanto a esses efeitos colaterais”, explica a médica.

HIV e expectativa de vida

O surgimento do HIV na vida dos idosos nem sempre acontece exclusivamente nesse período. Hoje em dia, com os avanços na medicina, é possível encontrar pessoas que contraíram o vírus há anos e foram capazes de ter uma velhice saudável e longeva.

“Diferente do cenário da década de 80, que a doença levava à aids, ao estado de imunossupressão grave e a óbitos em pessoas jovens, hoje, quem vive com o vírus consegue atingir uma expectativa de vida semelhante a quem não tem este problema. Com o diagnóstico precoce e boa adesão ao tratamento durante toda a vida, qualquer pessoa pode conviver com o vírus”, afirma a infectologista.

Essa nova realidade fez com que o número de mortes causadas pelo vírus diminuísse de forma considerável com o passar do tempo. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, foram registrados 10.980 óbitos por causa básica de aids — número que representa um decréscimo de 22,8% quando comparado com 2014.

“Não é incomum encontrar no consultório pacientes há mais de 20 anos com a doença e vivendo muito bem. Além deste contexto, temos algumas infecções nesta faixa etária por cada vez mais manterem uma vida sexual ativa, e, portanto, implicando nos riscos, incluindo o HIV”, conta Paula Pietrobom.

Sexualidade e idosos

Alguns contextos sociais devem ser considerados ao analisar a sexualidade da população idosa. O incentivo ao uso do preservativo não era algo habitual há alguns anos, fazendo com que muitas pessoas crescessem com pouca informação sobre a importância da camisinha durante as relações sexuais.
Além de começarem a ser vistos como um grupo sexualmente ativo, é importante que estereótipos sejam quebrados e conversas sobre o risco de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis sejam realizadas com pessoas nessa faixa etária. Assim, as chances de um diagnóstico precoce aumentam, tornando o tratamento mais eficaz.

“Caso aconteça a infecção, não é motivo para não ser feliz. É preciso, mais uma vez, quebrar o preconceito e compreender que não é uma doença restrita a nenhum grupo específico e, sim, mais uma doença crônica. Os idosos costumam já ter mais comorbidades e, por isso, é preciso atenção pelo aumento do risco de consequências indesejáveis”, esclarece a infectologista.

A especialista alerta ainda para a importância de incluir exames periódicos na rotina, assim como colocar em prática cuidados básicos no dia a dia, com uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física. Dessa forma, é possível que haja um controle médico que permita um envelhecimento sem grandes complicações.

Fonte: Minha Vida

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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