Política

A Cesan e os mananciais da Serra —Final

Depois de citar a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) como uma das maiores causadoras da poluição do espelho d’água do município da Serra em entrevista à coluna Olhar de Uma Lente (Fatos & Notícias), na edição anterior, Cláudio Denicoli, secretário de Meio Ambiente do município, foi enfático em dizer que “nunca teremos a Jacuném ou a Juara, maiores lagoas da Serra, sendo utilizadas pela população de forma recreativa e sustentável com o sistema de tratamento arcaico e obsoleto empregado atualmente pela Cesan, isso eu afirmo e provo, nunca vai acontecer, infelizmente”, enfatizou o secretário.
De acordo com o secretário, o município é dono desse ativo e não tem o cronograma de execução, metas a serem alcançadas, investimentos no tratamento de esgoto, o município não sabe absolutamente nada. “Então, como dar uma concessão se você não tem conhecimento do que vai ser feito, em qual horário vai trabalhar, e qual o produto ele vai te entregar… Para se ter uma ideia, o município não sabe nem o que está rendendo aos cofres. A partir de agora é que vamos exigir dados, mesmo porque, foi um compromisso de campanha do novo prefeito, Sérgio Vidigal, resolver o problema do saneamento”, afirma.
Denicoli faz questão de frisar que não é contrário às concessões ou qualquer contrato com a iniciativa privada, mas que a contrapartida tem e deve ser cumprida para que os dois lados ganhem. “Quero que as empresas tenham lucro porque precisamos de viabilidade econômica, mas os contratos devem ser cumpridos de forma correta. Tem um programa chamado “Se liga na rede da Cesan” que eu sou contra. Não vou para rua notificar exigindo do cidadão, que tem família para cuidar, a ligação na rede, isso é um absurdo! Como fazer isso se temos uma companhia que tem Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) tratando esgoto de 30 mil pessoas, sem outorga do órgão estadual e sem licença ambiental? Eu seria a primeira pessoa a ir para rua notificar, a partir do momento que a comprovação de laboratório creditar que as ETEs estão funcionando de forma adequada, outorgadas e com licença ambiental. Serei o primeiro a notificar e multar o munícipe infrator, porque aí ele teria o tratamento de esgoto de forma correta, dentro da legislação não e estaria degradando o meio ambiente”, acrescenta.
Para Cláudio é preciso corrigir o que está errado e prejudicando sobremaneira a população na saúde ambiental, pois a falta de saneamento básico sobrecarrega os postos de saúde, contamina a água, deixa esgoto a céu aberto e mananciais poluídos. Como exemplo, ele cita o rio Manguinhos, que já há algumas décadas agoniza com a poluição. “Esta semana o rio Manguinhos estava cheio de espuma, provocada por uso de sabão e detergente descartados sem o tratamento devido. Cadê a concessionária terceirizada responsável? Chamo a atenção em dizer que nesses sete anos não houve melhora nenhuma e a situação tende a piorar, porque o município está crescendo e o tratamento que é o final não está funcionando, precisamos encontrar uma solução urgente”, alerta.
Como responsável por uma pasta tão complexa e necessária atualmente, dada a grande mobilização mundial em prol da natureza, Cláudio Denicoli expõe com autoridade a situação lastimável de córregos, rios, mares, mangue, lagos e lagoas da cidade e faz jus a sua atribuição ao não fechar os olhos a problemas tão graves que atingem em cheio a população serrana. “O meu trabalho, como técnico, é identificar o problema, fazer o que é de minha competência. Notificar e conversar com a empresa, de encontrar uma solução, exigir um cronograma e multar, se for o caso, esse é o meu papel. A questão política cabe ao prefeito, ao governador… não sei o que a Cesan está levando para o governador Renato Casagrande, não entro nesse mérito, faço política pública e não partidária”, reafirma.

“Minha sala é aberta, não consigo trabalhar em ambiente fechado, gosto de olhar meus companheiros nos olhos, aprender com eles e transmitir o que sei, interajo e estudo bastante porque sou apaixonado pelo assunto. Sou altamente acessível, gosto de conversar, tentar acertar — dentro de uma coerência e prazo estabelecido. O poder público precisa ter prazo, saber o que está acontecendo. Sou o responsável pela qualidade de vida das pessoas dentro da questão ambiental, tenho a obrigação de zelar por isso. Meio ambiente não é só a fauna e a flora, muita gente pensa isso, mas não é, a qualidade de vida das pessoas é o nosso objetivo com o meio ambiente equilibrado”, ressalta.
O secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, terminou a entrevista citando o Art. 2º da Política Nacional de Meio Ambiente, em que diz que temos que preservar o Meio Ambiente garantindo o desenvolvimento socioeconômico. “A Serra tem um potencial industrial muito grande, queremos que as indústrias produzam emprego e renda, mas sempre na linha do desenvolvimento sustentável, essa é a minha visão”, garante.

Cesan

A redação enviou e-mail à Cesan solicitando explicação técnica sobre as denúncias do secretário de meio ambiente e engenheiro sanitarista ambiental, Cláudio Denicoli, mas, até o fechamento da matéria, não obtivemos resposta.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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