Cientistas descobrem anticorpos que podem ser a chave para a vacina contra HIV
Pesquisadores do Instituto de Vacina Humana da Universidade Duke (DHVI, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, detectaram anticorpos capazes de neutralizar o vírus HIV. A descoberta foi publicada na revista científica Cell e pode ajudar no desenvolvimento de vacinas contra o vírus da aids. Segundo o diretor do DHVI, Barton Haynes, coautor do estudo, “esses novos anticorpos têm um formato especial e podem ser eficazes contra uma variedade de patógenos”.
Uma célula de defesa encontrada tanto em macacos quanto em humanos foi descrita pelos especialistas como a responsável pela produção de anticorpos antiglicanos, que se ligam a um revestimento de açúcares na camada externa do vírus HIV, impedindo a infecção. Tais açúcares são chamados glicanos, daí a classificação dos anticorpos como antiglicanos.
Os glicanos compõem mais de 50% da camada exterior do vírus. Há tempos, cientistas procuram um modo de invalidar tal estrutura, fazendo com que células do sistema imune, os linfócitos B, possam produzir outros anticorpos para neutralizar o agente infeccioso.
E é justamente esse o mecanismo desencadeado pelo grupo de antiglicanos recém-descobertos, que ganharam o nome de Anticorpos Reativos ao Glicano Dimerizado com Fab (FDG), em tradução livre. “Na verdade, esses anticorpos são muito mais comuns nas células sanguíneas do que outros anticorpos neutralizantes que visam regiões específicas da camada externa do HIV”, explicou Wilton Williams, primeiro autor do estudo, em entrevista à Revista Galileu.
Agente infeccioso do HIV pode se confundir com parte das células atacadas
O problema é que os açúcares do HIV se parecem muito com os glicanos do hospedeiro e funcionam como um “escudo” para o vírus da aids. Isso faz com que o agente infeccioso se confunda com parte de sua “vítima”, e não pareça de fato uma ameaça. De acordo com a pesquisa, porém, os antiglicanos conseguem combater esse funcionamento destrutivo.
Para comprovar a tese, a equipe de cientistas isolou vários anticorpos FDG e analisou as suas estruturas, percebendo que as substâncias em muito se assemelham com outro antiglicano que combate o HIV: o 2G12, descoberto há 24 anos. Os formatos dos anticorpos do FDG e dos 2G12 permitem que eles se fixem em uma porção específica dos açúcares do vírus.
Outra descoberta positiva do estudo é que esses mesmos antiglicanos também são capazes de se ligar ao fungo candida albicans, causador da candidíase na região genital, que normalmente acontece devido ao enfraquecimento do sistema imunológico ou uso prolongado de remédios que podem alterar a microbiota genital, como antibióticos e antifúngicos, por exemplo.
Além disso, os anticorpos recém-descobertos podem se conectar a outros vírus, além do HIV, incluindo o SARS-CoV-2, causador da covid-19. No entanto, são necessários mais estudos para melhor compreender como essa função poderia ser explorada em benefício da nossa saúde.
Fonte: Olhar Digital