Comportamento & Equilíbrio

Por que algumas pessoas não agradecem e não se desculpam

Pessoas assim podem ser insensíveis, imaturas, ingratas, prepotentes, narcisistas e até psicopatas

Seja por segurar o elevador, ceder a vez na fila do supermercado, emprestar alguma coisa ou relevar um esbarrão acidental, todo mundo espera de volta alguma gentileza do outro, como no mínimo um “obrigado” ou um pedido de desculpas. Não há nada de errado em esperar por isso. O ser humano se desenvolve socialmente e só evoluiu e se manteve até hoje como espécie dominante no planeta por conta dessa característica de precisar do outro.
Portanto, nesse sentido, quem não retribui uma gentileza ou um favor e não se desculpa por ter cometido algo que muito ou pouco tenha prejudicado o outro é que “destoa” do que se espera do viver em sociedade. “Ah, mas tanta gente se comporta assim”, alguns argumentam. Realmente, e esse padrão se repete em diferentes gerações e tem acompanhado o aumento populacional, tanto que vem impulsionando a ciência a estudar o assunto.
Em 2016, por exemplo, pesquisadores das Universidades de Berlim, Haifa e Montreal, respectivamente em Alemanha, Israel e Canadá, decidiram investigar se as pessoas estão realmente mais “incivilizadas” e — pasmem — os resultados sugeriram que sim. Publicada no periódico Europe’s Journal of Psychology, a pesquisa com mais de 100 voluntários revelou que todos tendiam a não se importar tanto com suas grosseiras ou reconhecê-las, mas não agiam igual com as dos outros.

Além da falta de educação
Se já não bastassem ser mal-educadas, algumas pessoas também podem ser insensíveis, imaturas, ingratas, prepotentes, narcisistas e até psicopatas. “Nunca se desculpar ou agradecer são fortes indícios de transtorno de personalidade. Na visão de alguém assim, os outros é que estão errados, são inferiores, indignos e têm por obrigação fazer tudo por eles”, aponta Marina Vasconcellos, psicóloga e terapeuta pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Claro que não dá para generalizar, cada caso deve ser avaliado individualmente. Por isso, podem ser levantadas algumas hipóteses, num contexto em que a pessoa percebe a situação, mas, de alguma forma, não reage ou responde para se desculpar ou agradecer: rigidez excessiva, inibição, mágoa, negação do que fez ou de que precisa de algo. Nessas condições, embora possa não expressar, sente culpa, vergonha e outros efeitos na relação com o outro.
Por falta de inteligência emocional, para um sujeito que não gosta de se desculpar ou agradecer, fazer isso pode ser interpretado como um ato de submissão, ou de se aceitar uma culpa ou dependência do outro. A ideia de ter que estabelecer algum tipo de aproximação ou vínculo com quem não se quer por perto também pode passar pela cabeça e, às vezes, por obrigação de se desculpar ou agradecer, cria-se até raiva e fala-se mal do outro pelas costas.

Pessoas assim podem ser insensíveis, imaturas, ingratas, prepotentes, narcisistas e até psicopatas (Foto: iStock)

Nem sempre há um culpado
Se colocar no lugar de alguém e ter responsabilidade sobre o que faz são requisitos fundamentais para um convívio saudável, mas não apenas válidos como um lembrete para quem demonstra com atitudes rudes e explícitas não se importar com isso. Quando há interação com um indivíduo indiferente, também é preciso se perguntar se o problema para ele agir assim pode não estar em nós, em querer barganhar algo em troca, ou se mostrar superior e o dono da verdade.
Seu interlocutor, mesmo que erroneamente, pode estar reagindo a isso. De acordo com Elisa Teixeira, psicóloga líder do Hospital Português, de Salvador (BA), não é porque alguém fez ou deu tanto que deve receber de volta na mesma intensidade, isso não seria uma ajuda genuína, de boa vontade. Por essa lógica, também não caberia cobrar ou exigir do outro desculpas.
“A expectativa aumentada de retribuição pode, sim, ser um problema. De fato, é comum a frustração quanto à reação do outro em relação à reciprocidade, quando a expectativa é elevada. A dimensão dela deve ser sempre levada em consideração, com a possibilidade de se tratar em terapia a ‘demanda por reconhecimento e reciprocidade'”, acrescenta a psicóloga, lembrando também que nem todo gesto é traduzido em palavras e é preciso se atentar a isso.

Escolhas a se tomar
O agir com pessoas que não agradecem ou não reconhecem seus próprios erros vai depender do tipo de relação e contexto. Se for um desconhecido, o melhor a se fazer é deixar para lá. Agora, sendo alguém que se tenha intimidade, da família ou do trabalho, e havendo algum tipo de prejuízo, desconforto ou uma necessidade de se entender o comportamento alheio para esclarecer algum mal-entendido, vale dialogar, mas sem esperar por uma resolução imediata.
Pode não haver motivo e se tratar de algo patológico, que produza sofrimento ou algum impacto na vida do outro, que também pego de surpresa pode reagir com agressividade ou se esquivar. Por isso, tente observar e sondar antes o que pode haver por trás, para conversar e ter sucesso. “O diálogo deve ser franco e reservado, sem acusações, cobranças e imposições”, aconselha Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e da Associação Americana de Psiquiatria (APA).
Ainda de acordo com o psiquiatra, é preciso estar disposto a ouvir e ser paciente, pois, num primeiro momento, a outra parte, muito provavelmente, não se sentirá confortável, terá de fazer uma leitura do seu comportamento, admitir estar errada ou procurar uma justificativa para separar suas ações do seu caráter. Se com franqueza conseguir expor o que sente e pedir desculpas, dará uma nova chance ao relacionamento, que pode até se fortalecer. Do contrário, se ignorar ou agir com superficialidade, o melhor a se fazer é não insistir e evitar o contato.

Fonte: UOL

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