Injustiça e Ecolalia: Jeferson, Lúcia, Regina… Pra não dizer que não falei de flores — Parte III
A Ecolalia repetida por profissionais que, por ignorância ou intencionalidade, violam os Direitos mais Naturais, que deveriam garantir. Mas sonegam. Usurpam. A retórica de maquiagem pseudocientífica, engana bem
Há justos na justiça. Conheço alguns, em quem confio inteiramente. Mas, infelizmente, são alguns. Quando penso em Jeferson, “reconhecido” por uma foto 3×4 quando tinha 14 anos, com rostinho de criança ainda, preso como assaltante. Como Jeferson, existem Raoni, João Carlos, José, Paulo, etc. Jeferson ficou seis dias numa cadeia. Têm alguns que ficaram meses, ou até 370 dias. Esses são os casos midiáticos que pertencem a algum grupo mais estruturado que ligou o megafone. Quantos serão? Nunca saberemos. Não há nenhum controle disso.
Quando penso em Lúcia, que não vê nem fala com seu filho há quase seis anos, ele lhe foi arrancado do braço, tinha quatro anos, saiu no colo de um PM de arma em punho. Como faz a Polícia, a porta foi arrombada a pontapés às seis horas da manhã. Lúcia perdeu tudo. O filho, a profissão, a moradia própria, a credibilidade, o futuro. Responde a vários processos, e foi condenada por denunciação caluniosa porque denunciou os abusos sexuais sofridos pela Criança. E, nesta condenação, foi “beneficiada” pela juíza que, lhe retirando toda a possibilidade de comunicação, também lhe cerceou o Direito de Ir e Vir, como se estivesse num regime de condicional por um homicídio. É obrigada a fazer uma fila, com criminosos, esses sim, na condicional, para assinar um livro, a cada 15 dias. É proibida de sair da cidade. Vai pagar essa detenção transparente por dois anos. Seu crime foi ter feito uma denúncia, como obriga o Art. 13 do ECA, obrigação de todos, aliás. Ela só queria proteger seu menino. Como Lúcia, conheço — pelo nome, sei a história — mais de 100 mães. Não é tão difícil guardar as histórias das Lúcias. São todas quase iguais em seu começo e no desvio de propósito tomado pelos processos. E, é o mesmo modus operandi do genitor. E da justiça.
E, quando penso em Regina, sinto uma dor diferente. É indigno uma avó ser condenada à multa e à prestação de Serviço Comunitário pela acusação de ter induzido (sic) a filha a “sequestrar” o neto, quase adolescente que implorava para que alguém o protegesse do pai, seu abusador contumaz. Como não atender, minimamente, um menino de 11 anos que, com toda a clareza e coerência expõe sua agonia e extrema revolta, frente à ameaça de ser entregue, judicialmente, ao seu abusador. Nenhuma escuta, nenhum crédito ao que relatava. Por seis anos foi abusado sem ter consciência do que era. Havia dois anos que tinha descoberto que o que o pai fazia nele e exigia que fizesse no pai eram abusos sexuais. E, agora, teria que ir morar com esse pai, que também era muito violento e cruel com ele. O desespero invadiu sua mente, a ideação de suicídio se instalou com força. Ansiedade e angústia em quantidades que preencheriam a necessidade de várias pessoas, e era apenas um menino. Cansado de repetir para inúmeras peritas que distorciam, perversamente, suas palavras, o menino não via saída. A mãe o levou para casa de parentes para evitar aquela cena grotesca da polícia invadindo sua casa de dedos nos gatilhos, para entregá-lo ao seu abusador. Esse foi o crime de sequestro pelo qual ela e a avó foram condenadas. Ficou fora apenas o tempo de sustar a inversão de guarda concedida pelo juiz de família, porque o juiz criminal acatou a sugestão de indiciamento feita pela Delegacia Especializada em Violência Contra a Criança, quando o pai, sentindo o perigo de uma possível justiça, fugiu. Essa mãe, não conseguiu mais voltar a ter seu funcionamento normal. E, a avó, com vários problemas de saúde, desrespeitados pelo Estado que fere o Estatuto do Idoso, agora condenada por ter protegido o neto.
Quantas Reginas eu conheço! E quanto tempo elas vão aguentar? A Ecolalia repetida por profissionais que, por ignorância ou intencionalidade, violam os Direitos mais Naturais, que deveriam garantir. Mas sonegam. Usurpam. A retórica de maquiagem pseudocientífica, engana bem. Afinal, os termos técnicos, que foram forjados em anos de trabalho científico, em pesquisas seguindo os rigores das leis da Ciência, são encaixados em método de copiar/colar inescrupuloso.
O romance de Franz Kafka, O Processo, ilustra bem o tema aqui tratado. A personagem do livro, Josef K., é surpreendido por dois guardas pela manhã cedo, no dia em que estava completando 30 anos. Os guardas entram em seu quarto, tomam o café que ele havia preparado para si, e sugerem que teriam sido subornados, levando Josef K. preso. E sem saber o motivo daquela detenção, sem ter cometido nenhum ato que justificasse, começa sua trajetória de ilusão, acredita que vai explicar, esclarecer, e a verdade se imporá. A sequência vai se desenrolando, e sempre confiando na justiça e na verdade, aquele homem correto, bem-sucedido no trabalho, competente para várias coisas da vida, não consegue voltar para sua vida. Nem Inspetor, nem seu advogado, nem tribunal do júri, sem saber qual teria sido seu crime, é condenado. Desiste, como chegou e nunca saiu de perto o neto da Regina. “O Processo” de Kafka, é real e atual.
Na próxima semana, pretendo continuar a pensar o contexto de Regimes Autoritários que propiciam o aparecimento desse tipo de situação. O momento é muito grave. Josef K., todos conhecemos muitos porque existe o Regime Autoritário Transparente, exercido por pequenos grupos, de rótulo intelectual, que se valem da Deturpação, da Semântica à Ideológica para experimentar o prazer do Pequeno Poder sobre o outro.