Hominídeo ancestral andava como ser humano e escalava como macaco
Vértebras de uma fêmea da espécie “Australopithecus sediba” descobertas na África do Sul revelam anatomia indicativa de hábitos mistos de primatas
Raras vértebras de dois milhões de anos provenientes de uma fêmea da espécie Australopithecus sediba, um hominídeo ancestral, foram descobertas próximas à caverna Malapa, na África do Sul. O achado foi divulgado nesta terça-feira (23), no jornal científico eLife.
Os fósseis, encontrados durante escavações em 2015, indicam que o A.sediba andava de modo parecido com um Homo sapiens, porém escalava como um macaco. Junto a outras ossadas previamente descobertas, a descoberta forma uma das vértebras lombares mais completas nos registros iniciais dos hominídeos.
Os ossos estavam fossilizados em uma rocha chamada de breccia, parecida com cimento. Para que não fossem danificados, os fósseis passaram por uma digitalização e só então foram comparados com ossadas de trabalhos anteriores. Assim, notou-se uma correspondência com a coluna vertebral de um A. sediba descrito em 2010.
Cientistas da Universidade de Nova York (EUA), da Universidade de Witwatersrand (África do Sul) e de 15 outras instituições apelidaram a hominídeo de “Issa”, que significa “protetora” na língua suaíli. Ela já era um dos esqueletos mais completos de ancestral humano, mas as vértebras do novo estudo fazem dela um dos primeiros que mantém a parte inferior da coluna, além da dentição.
Ao contrário do que se imaginava antes, o estudo diz que A. sediba tinha lordose, ou seja, uma lombar curvada, atrelada ao bipedismo. “Embora a presença de lordose e outras características da coluna representem adaptações claras para andar sobre duas pernas, há outras características, como os processos transversos grandes, que sugerem uma poderosa musculatura do tronco, talvez para comportamentos arbóreos”, analisa Gabrielle Russo, coautora da pesquisa, em comunicado.
Isso significa que a primata tinha espinhas transversais voltadas para cima, sinal de músculos do tronco parecidos com os de macacos. “Quando combinado com outras partes da anatomia do tronco, isso indica que o A. sediba reteve adaptações claras para escalar”, explica Shahed Nalla, que também colaborou com o estudo.
Pesquisas anteriores já haviam apontado a presença de adaptações em esqueletos de A. sediba ligadas à transição entre o caminhar de um ser humano e a escalada de macaco. Na ocasião, foram estudados a pelve, os membros superiores e inferiores. Porém, os pesquisadores ainda não sabem como essas características podem ter persistido em nossos ancestrais.
Foto de capa: Elisabeth Daynes/Photograph: S. Entres-sangle/Wits University &/NYU
Fonte: Revista Galileu