Comportamento & Equilíbrio

Qual a diferença entre atração, desejo e paixão? Onde entra o amor?

Coloque-se na seguinte situação: você sai para passear com o cachorro, cruza com alguém fazendo caminhada que lhe cumprimenta e, dias depois, no mesmo local e na mesma hora, já trocam risadas, conversas sobre intimidades e sentem um clima “diferente” no ar. Em casa, você comenta com sua irmã, que rebate ser só desejo, atração, embora sua mãe diga notar que você fala com um tom de paixão, até que sua avó, lá da sala, escuta e grita que “é o amor”.
Brincadeiras à parte, pode parecer que é tudo igual, mas não é, e saber as diferenças não só ajuda você a se compreender melhor e nomear o que sente, como expressar isso para a parte correspondente, ainda mais se ela estiver à espera de uma resposta sua, ou para não gerar nela falsas expectativas. Em terapia, também fica mais fácil se comunicar com assertividade e até aos pais é importante, assim reconhecem, explicam e aumentam o repertório dos filhos.
Na verdade, esse é um assunto que vai muito além de diferenciar atração de paixão e amor. É preciso tomar consciência, distinguir e aprender a gerir todo e qualquer estado sentimental. Alguns, do campo “romântico”, explicaremos a seguir. Quanto à reflexão sobre outros, como, por exemplo, raiva x ódio x irritação, alegria x euforia x felicidade, se tiver dúvidas, fica a dica para se procurar um “emocionário”, que, como o nome sugere, é um dicionário só de emoções.

Atração desperta o desejo de ter
Marina Vasconcellos, psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com especialização em psicodrama terapêutico, explica que a atração geralmente é a primeira etapa do “gostar de alguém”, mas é diferente do desejo. A atração, explica, seria um interesse, seja por um sujeito ou algo que ele faça, relacionado a sua aparência, seus gestos, seu vestir, podendo ser algo focado ou ampliado, e que quando chama muito a atenção leva ao desejo.

“Você começa a querer o objeto ao qual se sente atraído, a pensar naquela pessoa, fantasiar situações, procurar algum meio de estabelecer um contato, uma mera aproximação que seja”, continua a psicóloga.

Mas ela assegura que relações afetivas são complexas, não seguem roteiros pré-definidos, e que a atração pode, sim, dar as caras só depois de se conhecer bem alguém, como acontece com casais que antes de apaixonarem mantinham relação de amizade.
Quanto ao desejo, relacionado à libido, vontade sexual, diz poder estar envolvido com paixão, ou não, quando se limita a apenas uma transa, por exemplo, mas é essencial estar presente em qualquer relacionamento romântico. “Pode ter amor sem uma paixão avassaladora, ainda mais quando se conhece o outro há bastante tempo, com intimidade, segurança, mas amor sem atração e desejo não é romântico, pode ser de amigos, fraterno”, diz a psicóloga.

Saber a diferença ajuda você a se compreender melhor e nomear o que sente (Foto: Jasmine Carter/Pexels)

Paixão é fogo que arde sem se ver
O poeta português Luís Vaz de Camões criou um soneto no qual compara o amor a “um fogo que arde sem se ver”, mas, passados quase 500 anos, a compreensão a respeito mudou muito, informa Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA). Esse “fogo” ao qual se refere Camões se encaixa mais à ideia de paixão. “Seria um aumento, uma amplificação do desejo. Daí ficamos ansiosos, desconcentrados, bobos, direcionados somente para o outro”.
O organismo entra num ritmo intenso. Secreta altas doses de dopamina, que causa bem-estar, prazer e motivação, e eleva de temperatura, fazendo a sensibilidade ao toque aumentar e os lábios se encherem de sangue, ficarem maiores, corados, sedutores. Os batimentos aceleram em razão da adrenalina, que é liberada para nos prontificar para fortes emoções e fazer sexo e, com o orgasmo, vem o hormônio oxitocina, que nos relaxa e “cega” para os defeitos alheios.

Ao final dessa fase “nas nuvens”, o corpo então volta à normalidade e a paixão pode evoluir para amor, se houver envolvimento afetivo consolidado e aceitação espontânea e respeito ao que o outro realmente é, com o que há de bom e ruim. Do contrário, evolui para sofrimento, tanto que esse é o significado de paixão, do latim “passio”, “ato de sofrer, suportar”, daí também o motivo de se ouvir “paixão de Cristo”, pois remete a seu final de vida sofredor.

Acredite, amor está em toda parte
A etapa final do ciclo romântico, ou consequência, como já adiantado, é o amor. Mas esse sentimento não se restringe apenas a quem foi flechado pelo cupido. As características que o definem (aceitação, respeito, valorização, compromisso, afeição, intimidade, admiração mútua, amizade, pureza, bondade, paciência) podem ser estendidas para todo tipo de relação humana, que inclusive pode transformar ou multiplicar um amor em outro e até expandi-lo.

“Amor é um conceito bastante amplo e existem diversos tipos, por amigos, cônjuges, pais, irmãos, filhos, animais, podendo variar também de intensidade”, aponta Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex). Vasconcellos complementa que para os gregos antigos existiam sete tipos de amor: Ágape, Eros, Philia, Storge, Philautia, Pragma e Ludus.

Alguns autores ainda consideram outros, mas, como são muitos, atentemo-nos aos que foram pontuados. Ágape é o amor universal, incondicional, por tudo e todos; Eros é o romântico, que envolve atração e paixão; Philia, de amizade, companheirismo; Storge diz respeito a laços de sangue, antigos, profundos, partilhado entre família, pais e filhos; Philautia é o amor-próprio; Pragma, relativo ao amor desenvolvido a partir de experiência, vínculo, convivência; Ludus é o amor lúdico, divertido e até descompromissado. Portanto, cada qual sabe amar a seu modo.

Fonte: UOL

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