Comportamento & Equilíbrio

É culpa ou remorso?

Saiba identificar sentimentos e tirar peso dos ombros

Já provocou um acidente, uma briga, uma demissão? Se sim, saiba que apesar do que possa ter ocorrido, você não está só. Pessoas erram e causam estragos, às vezes até sem querer. Porém, quando não se compreende o sentimento que vem depois das ações, geralmente remorso ou culpa, os danos podem se multiplicar, prejudicando inclusive qualquer reparação.
A falta de autoconhecimento pode levar à angústia, raiva, tristeza, que se não freadas a tempo podem evoluir para transtornos, como de ansiedade, estresse, depressão, paranoia, além de causar prejuízos em diferentes áreas (social, familiar, profissional) e doenças psicossomáticas. Insônia, gastrite, taquicardia são alguns dos males que advêm de problemas psicoemocionais.

Daí a importância de se consultar com psiquiatras e psicólogos, que são os profissionais que estudam e lidam no dia a dia com esses casos, de conflitos internos, para descobrir, nomear e colocar para fora o que se sente e ser ajudado de forma eficaz. Nesse processo, também se aprende a resolver a lidar com reações alheias, pedir desculpas, se perdoar e recomeçar a vida.

Culpa envolve distorção dos fatos
De acordo com Gabriela Luxo, psicóloga, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, a culpa é caracterizada, muitas vezes, como um ressentimento, uma mágoa. A pessoa pode ter cometido um dano, mas não assume a responsabilidade por ele, sofre é pelos comentários dos outros, por ser acusada.

“Ela acaba julgando que aquelas denúncias são injustas, negativas, incoerentes. A conduta do acusador não corresponde ao que se crê, não atende suas expectativas, seus pensamentos”, continua a psicóloga, complementando que para esse alguém dói reviver as críticas, os apontamentos, levando a nutrir pena de si por se considerar incompreendido, abandonado.
Às vezes, o indivíduo pode até se sentir mal pelo que fez, mas acha as atitudes alheias para consigo bem piores, então não faz nada para solucionar o que causou. Ou então, como se sente injustiçado, um coitado, só aceita “ceder” se os outros tomarem a iniciativa de se aproximarem dele, se retratarem e aceitarem suas eventuais desculpas conforme o que considera ser a verdade.

Remorso pode ser considerado útil
A inquietação, o abatimento da consciência de quem percebe ter cometido uma falta, agido mal, recebe o nome de remorso, que para alguns pode, ou não, surgir após o sentimento de culpa. Num primeiro momento é comum agir com relutância, distorção, na tentativa de escapar das consequências, mas depois bate o arrependimento, que tem muito a ver com valores pessoais.

“Envolve preocupação com o outro, demonstração de afeto, atos genuínos, pois não adianta nada se retratar sem sentir nada, não ter intenção nenhuma, no modo automático”, afirma Eduardo Perin, psiquiatra e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Daí a grande diferença para a culpa.

Com remorso, a pessoa sofre, mas a motivação é outra, não envolve autocompadecimento incoerente, o que torna as coisas mais fáceis e pode levar a um desfecho mais positivo, para todos os envolvidos. Agora, em comum com a culpa, esse sentimento cursa com a necessidade de acolhimento, reintegração, mas por se julgar responsável por algum mal e querer o perdão.

Como tirar o peso dos ombros
Quem carrega culpa e almeja se livrar dela precisa primeiro aprender a assumir o que faz e compreender como os próprios atos afetam e prejudicam terceiros, do contrário não há como avançar. Envolve empatia, sensibilidade, humildade e a falta disso tudo é preocupante, pois sinaliza a presença de transtornos, algum grau de narcisismo e psicopatia, difíceis de tratar.
Já quando há reflexão e se reconhece como autor, digamos que é meio caminho andando.

“É um bom indicativo de que se tem auto-observação e inteligência emocional, mas para ser completo é fundamental pedir perdão e agir efetivamente”, explica Elisa Teixeira, psicóloga do Hospital Português, de Salvador (BA), mas admitindo não haver garantia de o remorso ir embora.

Em alguns casos, o arrependimento pode ser constante, como em decorrência da morte ou incapacidade física de alguém, alguma injustiça que se arrastou por anos, ou se somar a uma baixa autoestima, levando o sujeito até assumir responsabilidades indevidas. Daí, de novo, a indicação de se procurar suporte profissional, para aceitar o irreversível sem carregar culpa, pois mesmo julgando-se feitor de algum mal, há quem não consiga se perdoar e se ressinta consigo mesmo.

Fonte: UOL

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