Saúde

Medicamento para Alzheimer mostra-se promissor, mas contém efeitos colaterais

Lecanemab vem sendo testado em mais de 1,7 mil pessoas nos últimos 18 meses

Pesquisadores divulgaram, no dia 29 de novembro, detalhes acerca de estudo com droga controlada de perto para o Alzheimer, lançando luz aos seus riscos e benefícios. Suas descobertas foram publicadas no New England Journal of Medicine. A droga está sendo produzida e testada pelos laboratórios Eisai e Biogen e se chama lecanemab. O estudo, realizado com mais de 1,7 mil pessoas com estágios iniciais de Alzheimer, entre 50 e 90 anos de idade, durante 18 meses, mostrou que houve retardo do declínio cognitivo em 27% quando comparada com um placebo.

Os efeitos do medicamento foram moderados e associados a inchaço e sangramento no cérebro, dizem os cientistas. Eles recomendam estudo mais longo. 17,3% dos pacientes administrados com lecanemab tiveram sinais de sangramento cerebral, ante 9% do grupo administrados com placebo. Inchaços cerebrais aconteceram em 12,6% das pessoas sob tratamento medicinal, versus 1,7% de pessoas com placebos.
Contudo, mais de um quarto dos pacientes sob efeito do lecanemab lidaram com reações negativas à sua infusão, ante 7,4% dos pacientes que receberam placebo. Os dados recolhidos com este estudo eram muito esperados desde setembro, quando a Eisai divulgou altos níveis de sucesso com a droga, aumentando as esperanças de médicos e pacientes na busca por um melhor tratamento e até uma cura para o Alzheimer.

Os laboratórios que trabalham no lecanemab já solicitaram ao FDA (órgão estadunidense semelhante à Anvisa) que aprove o medicamento com base em um estudo anterior, que revelou que ela reduziu os níveis do amiloide, proteína que fica no cérebro e que é associada ao Alzheimer. Espera-se que a agência decida sobre o pedido em 6 de janeiro de 2023.
Com os novos dados, a Eisai espera obter aprovação total para usar o novo medicamento. Para alguns médicos ouvidos pelo The Wall Street Journal, estes dados recentes são provavelmente bons o bastante para sustentarem a aprovação da droga, pois ela alcançou os objetivos da pesquisa, mas questionam-se se sua eficácia é forte o suficiente para superar seus efeitos colaterais potenciais para uso em massa.

Ninguém sabe ainda se os benefícios dela [nova droga] serão clinicamente significativos. Pode ser que leve anos para se determinar isso e o debate, provavelmente, continuará”, afirma Samuel Gandy, professor de neurologia e psiquiatria no hospital Mount Sinai de Nova York.

Gandy e outros médicos também compartilharam suas preocupações com recentes notícias de pacientes que morreram enquanto eram testadas com lecanemab. Sobre o assunto, um porta-voz da Eisai disse que os dois pacientes mortos tinham outros problemas médicos relevantes, o que impede de associar suas mortes ao medicamento em teste.
Todavia, os efeitos colaterais relacionados à infusão do medicamento, conjuminado com o sangramento e inchaço cerebrais, podem ter alertado alguns pacientes e cuidadores de que estavam recebendo a droga e não o placebo, o que, na visão de Michael Greicius, diretor médico do Centro de Desordens de Memória da Universidade de Stanford, pode influenciar os resultados do estudo. “Não é uma terapia benigna”, afirma.

Mesmo se os resultados suportarem as análises estatísticas corrigindo potenciais vieses, “ainda estaremos presos com o peso dessa diferença bem limítrofe ao longo de 18 meses com uma droga que causa sangramento cerebral em 1% dos pacientes”, alerta.

FDA já aprovou medicamento da Eisai e da Biogen para Alzheimer
A FDA já aprovou, ao longo dos anos, alguns medicamentos que prometem retardar os efeitos do Alzheimer, ainda sem cura. Em 2021, o órgão aprovou outra droga para a doença fabricada pelos mesmos laboratórios da lecanemab, chamada Aduhelm.

Contudo, muitos médicos questionaram a efetividade do Aduhelm, cujo foco é o mesmo de seu “irmão” mais novo, o de reduzir o amiloide no cérebro. O amiloide é associado há muito tempo com o Alzheimer, mesmo não havendo consenso sobre a eficácia ao retirar tal proteína no retardo da doença.

Fonte: Olhar Digital

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