Travessia


Em algum ponto do oceano, um rapaz observa por uma fresta de seu cárcere, o majestoso mar que o cerca. Seus olhos rasos de lágrimas desejam aquele azul. Seu coração palpita um temor que resfria a sua alma.
Dentro de um olhar perdido;
Surge o tempo de uma esperança.
Por ser tornar um povo cativo;
Desejo de um refrigério, uma bonança.

Na simplicidade de sua ignorância, o negro desvenda que a imensidão do infinito é similar à sua aflição. Um grito da dor física ecoa, da carne dilacerada por correntes, e, com o seu sangue transborda a sua dignidade, quase extinta.
O grito que desperta para uma dor única;
A dor negra cravada em um punhal da escravidão.
As ruínas de um sonho de liberdade étnica;
Do amor ao próximo, a sua degradação.
Uma questão aflige os sentidos: – O que virá após a água? E a possibilidade da morte, o assombra.

A incerteza acresce a angústia;
O temor corrompe a coragem.
A morte lhe vem como uma fuga;
Para um paraíso verde de inúmeras paisagens.
Ao seu redor, no interior do navio, lamúrias, prantos de mães que perderam os filhos e de filhos que buscam pelas mães. Quanto sofrimento, pela prosperidade da nação. Infeliz sina que os envolvia, amarrados como animais no fundo de um porão. Almas sedentas de dignidade e de um alimento, chamado compaixão.

Autora: Silvia Vanderss
Título: Travessia