Comportamento & Equilíbrio

Por que histórias de princesas reforçam relações abusivas e punem mulheres?

Ser beijada sem consentimento prévio? Apaixonar-se perdidamente por um recém-conhecido? Validar-se para o homem? Psicólogas discutem

Por Júlia Flores

Uma publicação do Instagram tem gerado discussão na internet. O post questiona e desromantiza famosos contos de fadas em que mulheres como, por exemplo, Branca de Neve, Bela e a Fera, Cinderela e Jasmine submetem-se a relacionamentos abusivos e o quanto isso pode ter interferido na maneira como normalizamos relações tóxicas.
Já parou para pensar que a Bela Adormecida foi beijada sem consentimento prévio? Que a Branca de Neve “confiou” em sete homens e entregou tudo da sua vida a completos estranhos? Que Ariel, da Pequena Sereia, teve que mudar fisicamente para se encaixar na vida do amado? Que Jasmine aceitou casar com Aladdin mesmo após todas as mentiras que ele havia contado?

Pois é! Não é só a internet que acredita que essas histórias precisam ser reescritas. Na visão da psicóloga e ativista Gabriele Menezes, é preciso contextualizar estes contos. A maioria deles surgiu em períodos em que o machismo e o patriarcado eram extremamente valorizados — Branca de Neve, aliás, foi lançada em 1937.

Nessa época, mulheres dependiam muito dos homens. Então essas histórias ajudavam a manter o status quo da figura masculina”, reflete Gabriele.

A ativista da plataforma Força Meninas, Deborah De Mari, também pontua: “Os contos de fadas muitas vezes retratam personagens masculinos como heróis que são recompensados por comportamentos inaceitáveis, como assédio, agressão sexual e controle sobre as mulheres”.

Além disso, na visão de Deborah, essas histórias punem a independência, autoconfiança e o orgulho das personagens femininas. “As matriarcas e mulheres chefes de família frequentemente são representadas como antagonistas, transmitindo a mensagem de que mulheres no poder são intrinsecamente malévolas”, analisa.
Sem contar no acirramento da amizade feminina e da falta de sororidade entre as personagens.

Essas narrativas perpetuam a ideia de que as mulheres são motivadas pelo ciúme e pela vaidade, tornando-as antagonistas ou personagens secundárias negativas”.

Mudando paradigmas
Para as duas especialistas, contudo, este cenário está mudando. “Nos últimos anos, temos visto uma tentativa de remodelar os contos de fadas de maneira positiva, como é o caso de Frozen, Moana e a nova Pequena Sereia“, diz Deborah.

Gabi vê esse novo movimento cinematográfico como fruto da revolução feminista nos últimos anos. “Cada vez que as mulheres ganham mais voz mais elas também podem falar ‘opa, mas eu não preciso mais perpetuar isso’. É assim que quebramos o ciclo”.
Deborah acredita que é preciso revisitar histórias tradicionais e recontá-las de forma inclusiva e abrangente ressignificando as relações.

Personagens femininas podem ser protagonistas de suas próprias jornadas, desenvolvendo relacionamentos saudáveis e superando desafios sem depender de um salvador. Além disso, acredito na importância de abraçamos a diversidade de experiências, corpos e origens para que estas histórias sejam mais ricas e possam gerar mais identificação no público que as assiste”, finaliza.

Fonte: Terra

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