Cultura

Pobre moça

A pobre moça vivia
Tão atarefada e envolta
Em afazeres e agendas
Que nem mais lhe sobrava
Tempo para cuidar do seu
Belo rosto

Eram tantas idas
E vindas, tantos horários
E compromissos, tantos
Cursos e tantas contas
Para pagar que ela nem
Mais se dava conta do
Tempo que passava ao
Largo

Vivia num desatino um
Verdadeiro descompasso,
Um louco frenesi, era
Tanta correria que nem
Mais no espelho da vida
Ela se olhava

Logo ela que sempre
Fora tão vaidosa, agora
Cuidava de tudo, na vã
Tentativa de controlar o
Mundo, enquanto que,
Por sua vez, descuidara-se
Dela própria

O tempo passou ligeiro
E no corre-corre do dia,
A jovem menina, sem se
Dar conta perdeu o frescor
E a alegria da juventude,
Ela já não ria e nem sequer
Vestia a sua melhor roupa,
Não tratava mais do seu
Cabelo e há muito tempo
Já não se maquiava

Nesta toada louca, sem
Perceber ou se dar conta,
A moçoila se isolou e perdeu
O seu brilho e o seu fulgor,
É que na ânsia de agradar
A todos, acabou esquecendo
De si, negligenciou-se

Pobre menina triste, hoje
Vive só e entristecida, chora
Magoada uma lágrima sentida,
Vive torturada de remorso pelos
Dias idos e desperdiçados

Vive murcha e acabrunhada,
Envolta num penoso dilema,
Um amargo paradoxo existencial,
Pois, logo ela que tanto amou,
Hoje jaz num canto esquecida.

Mário Vieira

Mário Vieira

Capixaba, casado, autor e advogado

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