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O que o futuro do morar nos reserva? Eis as tendências apontadas em novo estudo

Pesquisa mostra que a conectividade, o conforto, o lazer e o bem-estar são pilares que norteiam os desejos dos moradores na criação de lares mais funcionais, flexíveis e afetivos

Por Laura Raffs

Com a rotina atribulada, a casa acabou se tornando apenas um dormitório, onde seus moradores passavam para dormir, descansar e se preparar para o novo dia. Porém, nos últimos anos, a tendência é outra: os nossos lares estão se transformando em locais de conforto e lazer, cada vez mais voltados para o bem-estar — seja físico, mental ou social.

Nós, como seres humanos, temos nossas conexões enquanto mamíferos. Somos seres sociais e precisamos nos apoiar uns nos outros. Portanto, essa questão biológica fala muito no futuro do morar: estar junto e socializar conduzem nossos hábitos”, aponta o designer Jader Almeida.

São estas tendências que são apresentadas pelo estudo O Futuro do Morar, realizado pela Dexco, a maior empresa produtora de painéis de madeira industrializada do Brasil. A pesquisa obtida em primeira mão pela Casa Vogue prevê o que as pessoas desejam em relação a sua casa ao analisar comportamentos e emoções do consumidor.
A pandemia desempenhou um papel essencial nas questões do morar. Com ela, muitos foram obrigados a passar mais tempo dentro de seus lares, o que contribuiu para um maior foco na busca por bem-estar dentro da própria casa.

A pandemia não trouxe nada de novo, tudo o que vivemos nela de alguma forma já estava manifestado. Ela trouxe uma lente de aumento, permitindo que tenhamos uma visão mais clara sobre o que estava acontecendo”, explica Mateus Silveira, head do design office da Dexco e responsável pela condução do estudo.

Inclusive, dados da WGSN, empresa norte-americana de previsão de tendências mostram quais as maiores preocupações dos consumidores relacionadas à despesa do lar e em quais setores realmente recebem mais atenção. O resultado é que as pessoas acabam valorizando mais o lazer do que pensam: o setor representa a maior parcela dos gastos das pessoas, totalizando 21,4%.

A relação com a moradia sempre está no campo do conforto, mas após a pandemia, quando fomos obrigados a ficar dentro de um espaço compartimentado, isso ressaltou muito a importância de termos algo que nos faça bem em termos de arquitetura, design e produtos. Foi um episódio que reforçou mais ainda nossa essência como humanos, que condicionamos o meio a nós mesmos para nos sentirmos melhor”, destaca Jader Almeida.

A conexão da casa com o eu, a comunidade e o planeta

Segundo Guto Requena, é possível que o avanço tecnológico e aconchego andem lado a lado (Foto: Filippo Bamberghi)

Uma das principais tendências do morar é em relação à conectividade — no sentido mais amplo da palavra. Além de representar a automação da casa e tecnologia, que facilita o dia a dia dos moradores, o conceito representa uma conexão com a sustentabilidade e preservação da natureza, com práticas mais equilibradas.

Usar tecnologias digitais para criar novas espacialidades é um ponto importante. Tenho feito isso em projetos do meu estúdio quase em sua totalidade. Adoramos trabalhar com algoritmos e arquitetura paramétrica. Um dos pilares é a questão da tecnologia, seja através do uso de algoritmos para criar uma nova estética ou através de casas conectadas e, portanto, sustentáveis”, afirma o arquiteto Guto Requena.

Ainda, a casa precisa estar conectada com diferentes atividades que pertencem a rotina do morador, sendo necessário que ela esteja preparada para ser ao mesmo tempo um espaço de trabalho e também de sociabilização. Ou seja, cada vez mais, o lar se torna um espaço multifuncional. “Precisamos entender como a casa se reconfigura. Antes, ela era um local de passagem — a nossa vida acontecia fora de casa. Depois da pandemia, tudo tem que ficar dentro de casa”, explica Mateus Silveira.

Outro ponto é a questão do homejoy, que fala sobre tornar as moradias propícias ao entretenimento, à diversão e a receber amigos e família. De acordo com estudo realizado pela multinacional IKEA, com foco em móveis e decoração, 54% dos entrevistados acreditam que o aspecto mais importante do lar é a capacidade de celebrar e relaxar. Neste sentido, o design e a arquitetura entram com o objetivo de proporcionar espaços onde estas interações podem acontecer.

A biofilia, o cultivo de plantas dentro de casa, é algo que está muito em voga também – e pode ser feita com automatização. O meu apartamento é um exemplo disso: tem mais de 100 espécies de plantas e se tornou uma grande floresta urbana”, comenta Requena, que já abriu as portas de seu lar para a Casa Vogue.

A flexibilidade e criação de espaços afetivos

(Foto: Divulgação/Dexco)

O bem-estar, por sua vez, nunca foi tão discutido. Espaços residenciais têm sido adaptados para evocar serenidade e calma, trazendo uma conexão com o morador por meio de suas histórias pessoais, espiritualidade e introspecção. Além desta tendência se manifestar com a volta de designs de décadas anteriores, como as dos anos 1950 e 1970, ela pode chegar a uma esfera mais profunda, em que o resgate ancestral-afetivo passa pela reverência ao artesanato local, à arte popular, ao naif e a tudo o que é autêntico brasileiro.

A flexibilização dos espaços também faz parte do novo morar, contribuindo para a criação de uma casa que dialoga com seu entorno e atua como um ponto de conexão entre indivíduo, comunidade e planeta. Um exemplo disso é a criação de móveis versáteis, que se transformam de acordo com as necessidades do morador, podendo ser utilizado para sentar, reclinar, deitar ou como apoio.
Como diz o arquiteto Guto Requena em seu livro Habitar híbrido: subjetividades e arquitetura do lar na era digital, a casa é uma mistura entre a espacialidade concreta e digital, o que contribui para a desmaterialização da moradia e expansão do lar para territórios muito mais simbólicos. “É poder reconfigurar, redesenhar e customizar as nossas casas”, diz.

E os desafios?

Projetado pelo arquiteto Roby Macedo, este apartamento possui inúmeros quadros da artista maranhense Dileusa Dinis Rodrigues, expoente da arte Naif (Foto: Denilson Machado/MCA Estúdio)

É consenso que o grande desafio nas novas tendências do morar gira em torno da acessibilidade. Nem todos possuem acesso e condições para implantar essas medidas e transformar o seu lar. “As desigualdades sociais têm elitizado todas essas ideias, então o desafio é popularizar. Todos precisam morar melhor, com mais verde, com iluminação melhor e outros aspectos. Isso impacta na qualidade de vida”, ressalta Requena.

É claro que o acesso ao capital sempre foi determinante. O poder aquisitivo condiciona as pessoas a buscarem conforto. Infelizmente, estamos em um país em que as pessoas vivem em subcondições. Durante a pandemia, isso também gritou para nós: como uma família pode viver em 10 m²?”, completa Jader Almeida.

O propósito do estudo é, inclusive, entender como as tendências podem ser traduzidas de forma mais acessível para os consumidores. “Queremos antecipar ao máximo esse futuro para as pessoas, conectando essa realidade de um ponto de vista mais democrático, criando soluções que não sejam acessíveis a apenas uma fatia da população”, afirma Mateus Silveira.

Fonte: Casa Vogue

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