Letras Tortas


Letras tortas que, sem
Querer, tropeçam nas
Próprias pernas e nas
Próprias formas, tudo
Na difícil e dura tarefa
De tentar se expressar
De forma clara, de tentar
Dizer o que sentem e o
Que pensam, de botar
Para fora coisas simples
E que vivem por aí
Entaladas na garganta
Letras oblíquas que não
Trazem em seu bojo
Respostas do tipo, quem
Sou eu, o que faço aqui,
Para onde vou, o que eu
Tenho a ver com isto e o
Que vocês esperam de mim?

Letras fortes
Que questionam e que
Cobram, através de frases
Imperativas e resolutivas,
Sem dó, empatia ou piedade,
Por nunca terem sentido
A nossa dor ou a menos,
Sequer ter calçado os
Nossos calejados calçados
Letras frias e cruéis que
Julgam e não estão nem
Aí e que simplesmente não
Se importam, letras mortas
Que nada criam, que só
Criticam e lamentam, que
Lacram, que matam e que
Cancelam qualquer esperança

Letras mudas que se calam
E que se omitem diante da
Dor e da injustiça, que são
Incapazes de dizer eu te amo
Ou eu peço perdão e eu me
Importo
Letras enviesadas, obtusas
E nefastas que nunca mesmo
Deveriam ter sido ditas, ouvidas
Registradas ou escritas, que
Sequer merecem ser lembradas
