O tempo é criança
O tempo é criança que dança na chuva
Que ginga comigo brincando na lama,
Que morre de rir, rolando no chão e
Que empina sua pipa olhando pro céu
Menino travesso que desce e que sobe
Que roda feito pião, fazendo ciranda,
Trançando firulas em meu coração
Guri serelepe que dança e que ri
Que sofre e que chora e que sente
Saudades dos tempos de outrora
Que cai e levanta e que mesmo
Ferido sacode a poeira e dá a volta por cima
Que zomba e se zanga com a gente
Que agita e chacoalha, fazendo pirraça
Sem culpa e sem qualquer pudor
Moleque atrevido que vive correndo,
Que acelera, acalma e apronta e
Consome sorrindo a energia da gente
O tempo é assim, arisco, vivo e buliçoso
Menino danado que clama carinho,
Que pede cuidado, atenção e desvelo
E mesmo ao seu modo, o tempo é
Um Mestre que arruma maneiras de nos
Ensinar, pois, fingindo descaso está
Sempre ligado, está sempre antenado
Com tudo ao redor
O tempo é sábio e reúne num só laço
O nosso passado, o nosso presente e o
Nosso futuro, condensando todos os tempos
Numa só existência, numa só jornada, como
Se fossem peças de um grande quebra-cabeças
O tempo é enfim, uma criança amorosa,
Pura e zelosa que clama atenção e cuidado
Piá vivo e carente que como menino que é,
Também sente saudade da vida, saudade da gente.