O rio chora
O suor escorre
Pelas vielas
Da cidade velha
O sangue coagula
Pelas artérias
Do corpo inerte
E a água ferve pelos
Canos entupidos
Do subsolo
O rio sujo chora
Lembrando do quão
Límpido fora outrora
E de tristeza cala pelo
Jeito que é tratado agora
As copas das árvores
Tremem sob o sol
Escaldante, o verde,
Por seu turno, sofre
Com a subida de mais
Um andaime, enquanto
Que as nuvens somem
De vergonha da gente
Os pássaros
Se escondem e já não
Cantam como cantavam
Antes, os animais fogem
Do bicho homem,
Enquanto que o silêncio
Foi trocado pelo barulho
Trepidante das máquinas
O lixo decora
O que era belo antes,
A calma refugiou-se
Assustada, deixando no ar
A questão angustiante
E a pergunta ululante
Que não se cala, afinal,
Quem poderá
Nos salvar da gente?