Apenas uma noite

“Antônio, eu descobri a gravidez com quatro meses, estava trabalhando em uma loja como atendente. Foi a pior dor que eu sofri, após perder os meus pais. A minha avó estava muito doente e eu precisava cuidar dela. Nossas condições financeiras não eram boas, mas tínhamos o apartamento, a aposentadoria dela e o meu salário. No meu desespero de pensar em criar uma criança sozinha, eu te procurei sim. Fui até o bairro nobre em que morava, sentei na calçada próxima a sua casa e esperei. Esperei pela minha coragem, esperei passar as minhas dúvidas e insegurança. Também esperei passar o medo de contar para o senhor e a sua família uma notícia daquela. Esperei por horas e nada de coragem, nada do medo passar e quando vocês saíram de casa, juntos, para uma caminhada, eu simplesmente deixei de esperar, pois, vi que ali havia o amor, você, apesar do que me disse naquela noite, parecia feliz. Decidi voltar e apenas sobreviver. Minha avó faleceu antes do Caio nascer. Eu aprendi a fazer artesanatos com a dona da loja que trabalhei e depois continuei sozinha, assim eu cuidava do Caio e conseguia manter a casa.

— Amarílis, eu poderia ter ajudado, ter sido um pai para o Caio. Você não agiu corretamente! — disse ele com a voz quase inaudível e fraco emocionalmente.
— Bem, eu fui mesmo uma idiota, mas na época a palavra correta que descreveu a minha decisão, foi dignidade. Eu só pensei nisso e sobrevivi até hoje. Até eu o colocar pela quarta vez na minha vida hoje e ter a coragem de dizer a verdade.
Amarílis se levantou e partiu. Antônio permaneceu imóvel e sem reação.

Os dias que se seguiram não foram agradáveis para nenhum dos dois, eles evitaram qualquer contato. Suas mentes vagavam em possibilidades infinitas, indo do positivo ao negativo. Não havia mais palavras a serem ditas, apenas ações ou esquecimento. Amarílis sabia que um dia a verdade seria revelada para Caio, mas o seu sorriso transmitia a melhor paz do mundo e dentro daquela sala, nenhuma tristeza poderia entrar”.