Mobilidade

Carro movido a hidrogênio vira pesadelo e gera onda de processos nos EUA

Motoristas entraram com uma ação coletiva contra a Toyota por propaganda enganosa; problema está na falta de pontos de abastecimento

Por Bob Furuya

Eu sempre defendi aqui as novas tecnologias para carros. Principalmente aquelas que poluem menos. Mas nunca disse que seria fácil. Inúmeros textos já trataram sobre as dificuldades que donos de veículos elétricos encontram para abastecer nos Estados Unidos. A situação é muito parecida com os proprietários de modelos que usam célula de combustível de hidrogênio.
O carro movido a hidrogênio tem uma grande vantagem sobre o elétrico: um tanque cheio pode fazer mais de 500 quilômetros, dependendo do modelo. Além disso, você não demora mais do que cinco minutos para completar o tanque — diferentemente do EV, que às vezes fica horas para carregar a bateria.

As desvantagens, porém, acabaram se sobressaindo nas primeiras experiências registradas no estado da Califórnia. A começar pelo preço: um quilo de hidrogênio não sai por menos de US$ 20, muito mais caro que o galão de gasolina, que custa cerca de US$ 5. O grande problema, porém, é a oferta de pontos de abastecimento. A Califórnia tem hoje apenas 54 deles — no estado todo! A promessa era de alcançar 200 até 2025, mas o governo não deve conseguir bater a meta.

O resultado? Vários donos de veículos movidos a hidrogênio estão deixando seus carros na garagem. Alguns deles foram além e resolveram processar a Toyota por propaganda enganosa em relação ao modelo Mirai. Eles entraram com uma ação coletiva em julho deste ano.

A principal reclamação dos americanos
A reportagem do site gringo TechXplore ouviu alguns proprietários do Toyota Mirai, a grande aposta da montadora japonesa para esse segmento. E, antes de trazer a impressão dessas pessoas, vale deixar claro que todas elas adoram o carro. Acham o veículo bonito, tecnológico e dizem que ele anda superbem.
O grande porém é mesmo a infraestrutura — o que não é culpa somente da empresa, mas também do poder público nos EUA. Ryan Kiskis, por exemplo, diz ter sido enganado pela Toyota, pois os vendedores teriam garantido a ele que os pontos de abastecimento seriam “convenientes” e estariam “prontamente disponíveis”.

A realidade, no entanto, é bem diferente. Ele é um dos proprietários que deixa o Mirai na garagem e que teve de comprar outro veículo para o dia a dia. O aposentado Bryan Caluwe fez a mesma coisa. Ele contou ter tomado a decisão após ficar sem combustível durante uma viagem.

Como já disse, a Califórnia tem apenas 54 pontos de abastecimento de hidrogênio e quase todos eles estão agrupados na Grande Los Angeles. Certa vez, Caluwe viajou para outra cidade e, na hora de voltar para a capital, planejou uma parada no meio da rodovia Interstate 5. Só que o único ponto de carregamento disponível no caminho estava se funcionar. Resultado? Teve de voltar para casa de guincho. Apesar de o processo citar apenas a Toyota, a Hyundai também vende um carro movido a célula de combustível na Califórnia. E os proprietários do Nexo também apresentam as mesmas queixas.

O que dizem as montadoras
A Toyota disse ao The Times que está “comprometida com a satisfação do cliente e continuará a avaliar como podemos dar melhor suporte aos nossos clientes. Responderemos às alegações neste processo no fórum apropriado”.

A Hyundai, por sua vez, afirmou que “compartilha da preocupação com o estado atual da infraestrutura de abastecimento de hidrogênio na Califórnia” e que “também estamos colaborando estreitamente com agências governamentais, como a Comissão de Energia da Califórnia, que forneceu a maior parte do financiamento para postos de abastecimento públicos”.

Como explica a nota da Hyundai, a tal Comissão de Energia da Califórnia é a responsável pela criação de novos pontos de abastecimento de hidrogênio no estado. O trabalho dela, entretanto vem deixando muito a desejar.

Para você ter uma ideia, quase 18 mil carros com célula de combustível foram comprados ou alugados até o momento na Califórnia. Desse total, mais de 10 mil, ou seja, mais da metade, vieram depois de 2020. Só que de 2020 para cá, sabe quantas novas estações de hidrogênio foram inauguradas? Apenas duas, segundo informa o TechXplore.

Em meio a essas reclamações, todos os envolvidos saem perdendo. Os proprietários, as montadoras e o governo californiano. Os primeiros por não poderem usar seus carros. As montadoras por terem investido dinheiro e agora sofrem com uma crise nas vendas. E o governo por estar cada vez mais distante da meta de emissão zero. A Califórnia quer tornar o estado neutro em carbono até 2045. No atual ritmo, porém, as chances disso acontecer são praticamente nulas. As informações são do TechXplore.

Fonte: Olhar Digital

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