Meio ambiente

Nova espécie de sapo-pulga é descoberta na Mata Atlântica

Com apenas 6,95 mm, Brachycephalus dacnis revela adaptações únicas e é o segundo menor vertebrado do mundo

Brachycephalus dacnis, uma nova espécie de sapo-pulga, foi descoberta por pesquisadores da Unicamp em um trecho da Mata Atlântica, no litoral norte de São Paulo. Com uma média de 6,95 milímetros de comprimento, este anfíbio é considerado o segundo menor vertebrado do mundo, ficando atrás apenas da espécie Brachycephalus pulex, descrita anteriormente na Bahia.
A pesquisa foi publicada na última sexta-feira (25) na revista PeerJ e revela detalhes sobre as adaptações desse pequeno sapo, que é endêmico da Mata Atlântica. O novo sapo-pulga foi descoberto em áreas de floresta entre as cidades de Ubatuba (SP) e Paraty (RJ), em uma reserva mantida pelo Projeto Dacnis, organização não governamental que promove a conservação da biodiversidade desde 2010.

O nome da nova espécie é uma homenagem ao projeto. A descoberta faz parte do trabalho realizado pelo Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia da Unicamp.

A miniaturização e as características únicas
Espécies do gênero Brachycephalus são conhecidas por sua miniaturização extrema, uma adaptação que resulta em características anatômicas únicas. Segundo o professor Luís Felipe Toledo, que lidera a pesquisa, “o tamanho reduzido desses anfíbios levanta questões sobre o limite físico de órgãos complexos, como coração e pulmão”.

A espécie apresenta fusão e perda de ossos, diferentemente de sapos de tamanho maior, e não possui dentes comuns em outros anfíbios. Além disso, também carece de alguns ossos do ouvido, como o tímpano externo. Uma das características mais curiosas do Brachycephalus dacnis é a ausência da fase de girino. Os filhotes já saem dos ovos formados, prontos para andar.

Indivíduos paratípicos de Brachycephalus dacnis encontrados na reserva particular Projeto Dacnis, município de Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. (A) ZUEC-AMP 25272; (B) ZUEC-AMP 25274; (C e D) ZUEC-AMP 25275 exibindo comportamento de boca aberta e o mesmo indivíduo em cima do dedo de um herpetólogo (Foto: Luís Felipe Toledo at all 2024 doi.org/10.7717/peerj.18265)

Metodologia e análises
Para descrever o novo sapo, os pesquisadores usaram uma combinação de métodos morfológicos, genéticos e bioacústicos. Foram realizadas tomografias computadorizadas para analisar o esqueleto, e as gravações do canto do sapinho mostraram que sua vocalização é distinta de outras espécies do mesmo gênero.

O canto se assemelha ao som de um grilo e possui volume baixo, característica importante para diferenciar a espécie da Brachycephalus hermogenesi, outra espécie que habita a mesma região. A coleta dos exemplares foi feita com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), seguindo todas as diretrizes de cuidado animal. Os indivíduos coletados foram depositados em coleções científicas da Universidade Estadual de Campinas e da Universidade Estadual Paulista.

Implicações para a conservação
Embora ainda não exista uma avaliação oficial do risco de extinção do Brachycephalus dacnis, a espécie depende de áreas florestais preservadas para sobreviver. Toledo ressalta que “a diversidade desses sapos em miniatura pode ser muito maior do que imaginamos” e que novas descobertas só serão possíveis com a preservação da Mata Atlântica. A equipe do LaHNAB continua suas pesquisas na região, com novas descobertas de espécies semelhantes já em andamento, particularmente em áreas como Bananal (SP), próxima à divisa com o Rio de Janeiro.

Fonte: Epoch Times Brasil

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