Cultura

Suspeitos

Ele passeava por entre os bons como se fosse um deles, como se fizesse parte de uma parcela íntegra da sociedade. Todas as tardes, ele caminhava por entre os parques e praças, sorria para nossas crianças e mulheres, era um bom amigo de copo para os fins de semana. Contudo, a sua vida era solitária, não existiam risos em sua face, nem histórias aconchegantes, ele era bom ouvinte, daqueles que todos queriam ter por perto para desabafar.
A cidade era pequena, e desaparecimentos começaram a ocorrer de maneira mais frequente. Os cartazes eram expostos por todos os lados, praças, bares, postes, escolas, etc. Homens, mulheres, crianças e idosos, todos sumiam sem deixar rastros. Os meses se passavam e as pessoas começaram a se acostumar com os desaparecidos. A população começou a sentir medo e insegurança em cada esquina da cidade. Os parques não eram os mesmos, até o vento atravessava cauteloso por entre os suspeitos. Afinal, todos eram suspeitos.

Algo começou a me incomodar naquele que parecia ser um bom homem, solitário e misterioso. Em uma noite sem cor, eu o vi como nunca havia visto antes. Ele caminhava sorrateiro por entre vegetações e pelas partes mais sombrias da cidade. Ele não olhava para os lados, era como se estivesse atrasado para algum compromisso. Resolvi me aproximar por trás dele, quando o toquei, ele se virou calmamente e em sua face, a cada segundo, surgia um rosto diferente, logo reconheci que as imagens refletidas na face daquele homem eram as mesmas pessoas que estavam nos cartazes como desaparecidos. Eram os mesmos cujas famílias choravam sem respostas. Atordoado, eu me afastei sem compreender o que estava ocorrendo. Nas faces, nenhuma reação, era como se eles não me vissem, eu parecia estar invisível. Ao deixar de tocá-lo, ele simplesmente se virou e continuou a caminhar para o interior da mata.

Acordei no dia seguinte, sem compreender e sem acreditar, não me lembrava nem ao menos como havia retornado para casa, contudo, agradeci por estar bem. Sem provas relevantes, comecei a seguir o homem de várias faces. Ele vivia como um bom homem entre todos nós na sociedade, contudo, o mistério o envolvia e as minhas noites jamais foram as mesmas.

Autora: Silvia Vanderss
Conto: Suspeitos
Inédito
Palavras: 368

Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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