Por que estresse e tristeza podem alterar o apetite?

Estresse e tristeza têm efeitos profundos sobre o apetite, podendo tanto reduzi-lo quanto aumentá-lo, dependendo de múltiplos fatores
Por Kelvin Leão Nunes da Costa
O apetite humano é regulado por uma complexa interação entre fatores hormonais, emocionais e neurológicos. Quando sentimentos como estresse e tristeza entram em cena, essa engrenagem pode se desestabilizar, provocando alterações alimentares significativas. Mas por que essas variações acontecem? Descubra agora.
O estresse é uma reação natural do organismo diante de situações desafiadoras. Em momentos assim, o corpo ativa o chamado mecanismo de luta ou fuga, liberando hormônios como CRH (hormônio liberador de corticotrofina) e cortisol, ambos com impactos diretos sobre o apetite. De forma geral, o estresse agudo, que surge de forma súbita e intensa, tende a reduzir o apetite. Isso ocorre porque o CRH interfere no sistema digestivo, suprimindo o desejo de comer. Além disso, o aumento do suco gástrico promovido pelo cortisol pode causar sintomas como náuseas, indigestão e diarreia, tornando a alimentação menos atraente.
Por outro lado, em situações de estresse crônico, a resposta é inversa: os níveis prolongadamente elevados de cortisol estimulam o consumo de alimentos calóricos, principalmente ricos em gordura e açúcar. Isso ocorre porque o hormônio aumenta os níveis de grelina (conhecido como “hormônio da fome”) e reduz os de leptina (o “hormônio da saciedade”), incentivando a ingestão excessiva de alimentos. A repetição desse padrão pode levar ao chamado comportamento de comer emocionalmente, marcado por episódios de compulsão alimentar.
Assim como o estresse, a tristeza também afeta o apetite, mas de maneira um pouco diferente. Emoções como melancolia, desânimo e luto geralmente levam à inibição do apetite. A explicação está nas regiões cerebrais envolvidas no processamento emocional, como o hipotálamo e a amígdala cerebral, que também atuam no controle da fome.
Quando dominadas por sentimentos negativos, essas áreas podem reduzir o estímulo à alimentação. No entanto, nem todas as pessoas reagem da mesma forma. Para alguns, a comida funciona como um refúgio emocional diante da dor ou da perda. Nesse caso, ocorre o fenômeno da fome emocional, caracterizado pela busca por alimentos para aliviar emoções desconfortáveis, que geralmente são de baixa qualidade nutricional, como doces e ultraprocessados.
Segundo especialistas, essa prática ativa o sistema de recompensa cerebral, promovendo uma liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores associados ao prazer e ao bem-estar, criando um alívio momentâneo, mas com possíveis consequências negativas a longo prazo, como ganho de peso, culpa e problemas de saúde.

A fome emocional é um dos principais indicadores de que há um desequilíbrio na forma como uma pessoa lida com suas emoções. Diferente da fome física, que se instala gradualmente, a fome emocional surge de forma repentina, não é saciada facilmente e, muitas vezes, vem acompanhada de sentimentos de culpa após a ingestão. Ela está comumente associada a transtornos como ansiedade, depressão, burnout e transtorno bipolar.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas afetadas. Esse cenário torna ainda mais relevante o reconhecimento e o tratamento desses comportamentos, uma vez que podem evoluir para distúrbios alimentares mais graves.
A maneira como o estresse e a tristeza afetam o apetite varia de pessoa para pessoa. Fatores genéticos, hormonais e comportamentais influenciam fortemente essa resposta. Pesquisas apontam que mulheres, por exemplo, têm maior tendência a aumentar o consumo alimentar em situações de estresse, o que pode estar relacionado a questões hormonais e padrões socioculturais.
Pessoas com histórico de restrição alimentar também são mais vulneráveis a episódios de compulsão sob estresse. Um estudo da George Mason University mostrou que essas pessoas tendem a romper o autocontrole quando estão emocionalmente abaladas, recorrendo a alimentos como forma de consolo. Felizmente, existem formas saudáveis de lidar com o estresse e a tristeza sem recorrer à alimentação como válvula de escape. A prática regular de exercícios físicos estimula a produção de endorfina, hormônio que gera sensação de prazer e bem-estar.
Atividades como yoga, meditação, caminhadas e escrita terapêutica também são recomendadas para aliviar a carga emocional. Além disso, é importante identificar os gatilhos emocionais que levam à mudança no apetite.
Reconhecer padrões e procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica quando necessário pode ser fundamental. Pequenas ações, como manter alimentos saudáveis em casa e evitar o consumo impulsivo, também ajudam na construção de uma relação mais equilibrada com a comida.
Fonte: Olhar Digital