Adolescência hoje, as dependências, as violências — Parte I

E quando teremos a inauguração da Cultura dos Afetos, do Respeito, a garantia efetiva do Melhor Interesse da Criança? Quando seremos capazes de valorar o afeto de um vínculo de qualidade no lugar de achar, achar, que os bens materiais vão produzir mais “oportunidades”?

Nosso jardim do trabalho está tão lindo! São oito espécies de orquídeas de inverno floridas, com pendões de cinco a 12 flores, nos visitando por um mês. Mais três plantas exibem seus pendões com muitos botões que crescem a cada dia, anunciando mais belezas chegando. Além das orquídeas, de os mais lindos coloridos, e tamanhos variados, está lá a menorzinha, com seus cachinhos de flores de dois centímetros e intenso perfume, item que não é muito comum entre as orquídeas. Um festival sensorial que faz bem ao corpo e à alma. Para completar, a floração da Mirra, folhas aveludadas muito cheirosas, um dos presentes bíblicos. De uma delicadeza estonteante, os cachos de minúsculas flores brancas, suavemente rosadinhas, em tufos na ponta dos galhos, capturam nosso olhar.

As folhagens graúdas, não sei o nome da espécie, mas sei que suas flores de um vermelho forte, em palmas, seguem essa ordem de beleza da natureza. O alecrim, quase um arbusto, lindo exalando seu sabor delicioso. E as jabuticabeiras cheias de flores e de jabuticabas em seus caules, que alimentam os mais de 50 passarinhos que nos visitam todos os dias. Todo o alvorecer eles vêm pedir o café da manhã para mim. Momento único… Nem imaginam quanto. Há tempos que o lindo gavião preto e branco de colar vermelho e sua companheira, e o outro preto e amarelo, esse solteiro, não aparecem. Ainda bem. Que cacem em outros lugares. Já testemunhamos, impotentes, algumas batalhas ferozes. É horrível ver um forte atacar um vulnerável. Mas, hoje encontramos um ninho em construção em meio às trepadeiras que florescem na primavera e no verão. Os novos bebês passarinhos, como os anteriores, chegam nessa época.

No próximo domingo, dia de Arte, no meu FB, prometo que vou publicar algumas fotos, para compartilhar com todos os que gostam da Natureza conjugada ao trabalho. Não temos um consultório rural. Não. Em meio ao burburinho da cidade, polvilhada de turistas de várias partes, apenas, cuidamos de um pedacinho de Natureza.

Gostaria de escrever sempre sobre essas coisas bonitas que consigo cultivar, manter. Como eu queria. Mas, se temos essas belezas, esses perfumes, essa Natureza que se mostra generosamente, temos as feiuras humanas. Lamentável. Muito.

Veio a público a adultização de crianças e adolescentes com fins lucrativos. Foi no momento certo, confeccionado de maneira certa, com título certo. O tema já foi denunciado muitas e muitas vezes, mas o Felca, ficamos devendo essa para ele, dívida enorme, foi um arqueiro de rara pontaria, e acertou o alvo. Precipitou até a pauta e votação de Regulamentação, inicial, da Internet usada por crianças e adolescentes. A digital da resistência ao combate à pedofilia, ficou por conta, uma das coisas, da restrição dos possíveis denunciantes. Sendo poucos os autorizados a denunciar esses crimes que deveriam ter o selo “Hediondo”, são poucos os que precisam ser ludibriados na continuidade da exploração do trabalho sexual escravo infantil, e de toda a variada prática de atos de pedofilia. Mas é um ótimo começo.

Para além do aliciamento, da exploração, da comercialização de vídeos pornográficos, acrescento aqui a produção e venda na internet de vídeos de estupros de bebês que venho denunciando há bastante tempo. Algumas outras pessoas também vêm tentando que se pense como fazer esse combate, e, entre essas pessoas, muitas vezes a Paula Reis, que dirigiu, brilhantemente, o Departamento da Polícia Federal de Combate ao Crime Sexual Cibernético contra Criança, relatou, publicamente, várias vezes a ocorrência, a investigação, e algumas prisões, não sabemos por quanto tempo, de criminosos que comercializavam, comercializam, vídeos pornográficos de bebês. Se, com provas materiais, relato pormenorizado e coerente da criança, Exame de Corpo de Delito afirmando positividade para conjunção carnal, um estupro de vulnerável é travestido de alienação da mãe, imaginemos como será se uma mãe denunciar um estupro de vulnerável bebê. Vai sair da Delegacia ou da audiência numa camisa de força.

É complexo, sim, julgar essa suspeita. E filmar já não vale mais, tudo cai na “afirmação” de montagem, de IA, já que a Verdade foi derrotada em nosso tempo. Não tem mais nenhuma importância, e, muitas vezes, fica impossível de enxergá-la. Temos agora 50 tons de verdade.

E quando teremos a inauguração da Cultura dos Afetos, do Respeito, a garantia efetiva do Melhor Interesse da Criança? Quando seremos capazes de valorar o afeto de um vínculo de qualidade no lugar de achar, achar, que os bens materiais vão produzir mais “oportunidades”? Os pais daquelas crianças e adolescentes que viviam em cárcere sexual privado e publicitado, certamente, achavam que estavam oferecendo melhores oportunidades para seus filhos e filhas. Mas esse equívoco não é exclusividade da pobreza. Essa é uma miséria psicológica que está disseminada até nas cortes judiciais. Quantas sentenças de subtração de criança da Guarda da mãe se baseia nessa Cultura do material, da monetização de genitores abastados. Quantas vezes as crianças são vítimas dessa argumentação em juízo, que apontam vantagens materiais, por exemplo: “ficar com seu pai é melhor, você vai pra Disney”. É matar dois coelhos com uma só cajadada. A identificação com o agressor, valorizando o seu Poder aquisitivo, desqualificando a mãe, fornecendo uma visão de inferior. O segundo coelho.
Esse é um pensamento viciado. É um vício estrutural que serve ao pequeno grupo dominante, predador em benefício próprio, que produz violência.

Violências que vêm contaminando os adolescentes. A característica vulnerabilidade da instabilidade dessa fase do desenvolvimento tem surgido em dimensões nunca antes imaginadas. Dois casos de violência contra adolescentes, praticada por adolescentes serão tratados no próximo artigo.