Sentido contrário
(Foto: Freepik com IA)
Naquela noite, despertei em uma rua solitária. Diante dos meus olhos, uma intensa chuva lavava o pó seco do chão. Senti a necessidade de me banhar naquelas águas gélidas que caíam de um céu profundamente negro. Após o banho, busquei por aqueles que diziam me amar, mas nenhum deles olhou em meus olhos. A solidão me tocou de um modo que eu nunca havia sentido antes. Retornei para a rua molhada, porém, nenhuma gota de água tocava o chão.
Um ruído contínuo e acelerado se aproximava lentamente, permaneci imóvel, para compreender. Logo uma multidão passou por mim, todos no mesmo sentido. Após alguns segundos, observei que poucos caminhavam em sentido contrário. Eles não conversavam, o silêncio só era quebrado pelos passos que ecoavam para longe.
Busquei respostas, mas nem ao menos me olhavam, eu estava invisível ou não era importante. Tentei imaginar o que se passava em cada uma daquelas mentes lacradas por algum comando que eu desconhecia. Percebi que todos eram manipulados por algo realmente invisível. Resolvi caminhar em sentido contrário. Por horas foi assim, até que lembrei-me da minha mãe e a busquei, pois eu sabia que dentre todos, ela não estaria junto a eles e acreditei que ela ficaria ao meu lado.
Caminhei sem noção de distância até chegar próximo à casa dela. A verdade é que tudo parecia igual, a mesma rua e a mesma multidão, na mesma direção e em cada olhar um vazio intenso, uma inércia preocupante. Atravessei por eles incansavelmente até encontrar a minha mãe. Quando de longe a avistei, apavorada, escondida atrás de um muro de pedras brancas.
— Filha, o que está acontecendo? Eles não nos avisaram sobre nada disso? As mídias não revelam esses segredos. Temo em saber a verdade, mas sinto que não devo seguir esse povo que nem ao menos sabe para onde está indo.
— Mãe, eu vejo a luz nos seus olhos e sei que estamos no caminho certo. A verdade não é a mesma para todos. Vamos em sentido contrário e acreditar que algo de bom surgirá nisso tudo.
Nossos olhos brilhavam em determinação, seguimos com medo, sim, porém firmes em nossa intuição.
Autora: Silvia Vanderss
Conto: Sentido contrário
Palavras: 359
Inédito
