Você sabe o que é perversão?
Texto: Janaína Bernardo Cordeiro
No senso comum, a palavra perversão está associada ao sentido de depravação, geralmente ligada às questões da sexualidade. Seriam àquelas pessoas denominadas “pervertidas sexuais”. O termo perversão também se confunde com a questão da perversidade, mas esta possui um viés diferenciado, já que está associada a comportamentos de maldade e total falta de empatia com o próximo, que são características típicas da psicopatia. Sendo assim, uma pessoa pode ter uma estrutura perversa, mas não necessariamente praticar atos de perversidade. O tema perversão passou por várias modificações ao longo do tempo, deixando assim, margem para diversas interpretações. A palavra perversão vem do latim, pervertere, que significa corromper, desmoralizar. Em um primeiro momento, a perversão foi introduzida socialmente num sentido moral e ético, ligada ao ato de transgressão às normais sociais e, posteriormente, a perversão estruturou-se como uma espécie de depravação sexual. Porém, em 1905, Sigmund Freud (o pai da Psicanálise), em seu famoso livro: “Três ensaios sobre a sexualidade” (1909), vai trazer um conceito totalmente novo a respeito do tema. Freud vai abordar a perversão não mais como um termo pejorativo, mas, sim, como uma das três estruturas psíquicas de constituição do sujeito, assim como a neurose e a psicose. Essa estrutura se origina no período do desenvolvimento psicossocial que vai dos três aos sete anos de idade. Para o sujeito perverso, houve nessa fase uma recusa da Castração Edipiana, que é quando a criança inconscientemente aceita a lei imposta pelo pai no processo denominado Complexo de Édipo.
Sendo assim, a perversão passa a ser analisada como um modo de subjetividade e uma forma que o sujeito escolhe para se colocar no mundo. Ainda para Freud, a perversão trata-se de um conjunto de comportamentos psicossociais, onde o sujeito busca a obtenção do prazer de forma contínua, no que tange seus comportamentos e fantasias. Nesta estrutura, há uma não aceitação das normas sociais. O sujeito perverso até reconhece as leis impostas, mas escolhe recusá-las de acordo com suas conveniências. A lei está aí para lhe servir, sendo seu instrumento de gozo e de satisfação. Normalmente, a pessoa perversa é manipuladora, impulsiva, sedutora e se sente superior aos demais. O perverso sempre anseia por algum tipo de poder e pode também adotar práticas sexuais entendidas como “desviantes”. A pessoa perversa obtém prazer em produzir angústia no outro, que ele escolhe ou elege como seu “objeto” para, através desta parceria, colocar seu desejo em cena. Para tanto, utiliza de persuasão e jogos psicológicos para mostrar a sua força e atingir seus objetivos. Mas do ponto de vista clínico, toda essa grande cena do perverso é um modo inconsciente de terceirizar a sua angústia, para que não precise lidar com a falta e com o vazio, que lhe são peculiares, direcionando-as a um outro para que se angustie por ele. A perversão não tem cura e o seu diagnóstico é geralmente complexo, sendo necessário o manejo adequado do profissional na tentativa de desarticular os sintomas e o seu desejo de manipulação. O termo tentativa aqui é bem utilizado, pois na grande parte dos casos, o acompanhamento psicológico se torna até mesmo inviável.