Síndrome da boazinha: por que algumas pessoas têm necessidade de agradar
Você conhece — ou é — alguém que precisa da aprovação dos outros? É comum ouvir sobre pessoas que se colocam em segundo plano, necessitam constantemente agradar quem está ao seu redor, têm dificuldade em dizer não ou mesmo fazer críticas construtivas, já que evitam conflitos a todo custo e temem que os outros fiquem com raiva — tudo isso para não correrem o risco de não serem amadas. E se você sente que se encaixa nesse perfil, talvez você sofra da “Síndrome da Boazinha — termo cunhado pela psicóloga Harriet B. Braiker em livro homônimo.
Apesar de não ser uma doença reconhecida em manuais de psiquiatria, é um padrão de comportamento fácil de reconhecer. Como explica a psicóloga cognitiva Daniela Faertes, especialista em mudança de comportamento, essa é uma condição caracterizada pela compulsão por agradar. “No geral, atinge quem tem baixa autoestima e não consegue dizer não ou impor limites. As pessoas que sofrem desse problema vivem atrás de aprovação e acreditam que ela virá se elas forem generosas e compreensivas com todo mundo e o tempo todo”.
Os bonzinhos demais, quase sempre, são inseguros e passivos na interação com os demais, tendendo sempre a ceder às vontades de parceiros, familiares, amigos e colegas de trabalho. Eles sentem medo de serem malvistos e de ficarem sozinhos caso não atendam as demandas alheias. Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), acrescenta que esses indivíduos têm a convicção de que se forem adequados às expectativas que o outro tem sobre eles serão amados e protegidos. “Na visão deles, amor está associado à obediência, aceitação e subordinação e, por isso, fazem de tudo para não contrariar ou então serão punidos”.
A princípio não há nada de errado no desejo de satisfazer quem se quer bem. O alerta é ligado quando esse tipo de atitude gera uma preocupação excessiva e quando o “agradador”, para “cumprir sua missão”, causa prejuízos para si mesmo, negligenciando a própria felicidade, bem como suas vontades e necessidades. “A consequência de estar sempre com foco no que o outro quer, de ter esse ímpeto interno de não desagradar de jeito nenhum, é que a pessoa deixa de ouvir a sua voz interior. Ela se esquece de si, e, com o tempo, fica frustrada e sofre por não conseguir atingir seus objetivos”, pontua Faertes. “Se você perguntar, ela vai dizer que age dessa forma porque se sente bem e não quer nada em troca. Mas, no fim das contas, não é bem assim, ela faz isso por medo e esperando não ser rejeitada ou abandonada”, acrescenta a profissional.
Com o passar do tempo, todo esse desgaste emocional pode gerar estresse, insatisfação e angústia constantes e levar a uma sobrecarga de atividades, com efeitos deletérios sobre as saúde física e mental — alguns bonzinhos patológicos acabam desenvolvendo dores crônicas, doenças, transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade e, por terem dificuldade na questão dos limites, podem apresentar compulsões, como a alimentar e a por compras.
“Essas pessoas também tendem a enfrentar dificuldades nos relacionamentos. Justamente por fazerem tudo o que pedem, com frequência são enganadas, menosprezadas e usadas. Ainda correm o risco de serem abandonadas, pois nem todo mundo tolera esse tipo de comportamento por muito tempo. Muitas vezes o amor se transforma em pena, em compaixão e, aí, o parceiro passa a buscar caminhos para a separação, que pode ser bastante dolorosa”, pontua Dunker.
A Síndrome da Boazinha se estende para os diversos âmbitos da vida, afetando não apenas o pessoal e o amoroso, mas também o social e o profissional — e essa generosidade exagerada pode ser destinada a todos os conhecidos ou a alguém específico, por exemplo, os pais, o parceiro ou o chefe.
Fonte: UOL