Força de vontade é suficiente?
Texto: *Nágela Isa Carneiro Sirqueira
Por que motivo muitas vezes, uma pessoa não consegue perder peso, mesmo querendo muito? Começa uma dieta e não consegue manter, entra na academia e não consegue dar continuidade? Muda a alimentação, mas não tem resultado?
Pelo mesmo motivo que uma pessoa com depressão não consegue transformar o que está sentindo, apesar do desejo de ser mais feliz e se sentir melhor. A força de vontade faz parte apenas da parte racional da nossa mente. E o que realmente comanda nossas ações, é a parte emocional dela. É onde estão armazenadas nossas memórias, onde nossa personalidade reside, onde o caminho para pensar como pensamos e agir como agimos, está criado.
Uma alma muito sábia me disse certa vez, que não existe caminho que não possa ser mudado. Isso vale para nossas escolhas e vale também para nossa mente! Não é porque nosso cérebro criou um mapa, conforme nosso aprendizado, que quer dizer que precisamos seguir por ele até o fim da vida. Da mesma forma que nossa mente aprendeu a assimilar situações e emoções, representar o mundo ou construir nossa autoimagem, ela pode aprender a fazer isso de forma diferente.
Tudo que vivenciamos e registramos desde a vida intrauterina, forma e constitui nossa maneira de reagir aos estímulos do mundo. Sejam estímulos externos — que envolvem outras pessoas, sejam estímulos internos — referente aos pensamentos que manifestamos.
A principal função da nossa mente, é nos proteger. O ser humano sempre busca o prazer e foge da dor. Por isso temos o instinto de luta e fuga, instinto sexual que perpetua a espécie, fome, frio, sede… tudo é magnificamente orquestrado por nosso cérebro!
Em algum momento, a mente aprende que precisa se comportar de determinada maneira, para que a pessoa fique protegida, ou para se sentir afetivamente correspondida.
Por isso, a força de vontade não basta para que as pessoas consigam realmente fazer a transformação que precisam em suas vidas. Mesmo que o desejo seja genuíno — e precisa mesmo ser! Algo muito mais profundo precisa ser recodificado.
Imagine nossa mente como um sofisticado HD. Tudo que vivemos fica registrado ali. Alguns arquivos mais acessados vão ficando maiores e mais visíveis. Outros menos importantes vão ficando mais escondidos e pouco acessados. Talvez alguns irão para a lixeira. Mas eles nunca deixam de existir de verdade. Agora imagine que existem formas de recodificar um arquivo que não esteja funcionando direito, ou que precisa de um novo design ou configuração.
É mais ou menos assim que nossa mente funciona. Não é possível apagar uma lembrança ou mudá-la. Mas é possível mudar o seu contexto e o prisma pelo qual foi assimilada por nós.
Em meus atendimentos como terapeuta, fico sempre admirada com a forma em que as crenças e padrões se desenvolveram nas vidas das pessoas, causando os transtornos que se manifestam em suas vidas. Nossa mente aprende por repetição ou por impacto emocional. Dessa forma, todas as nossas experiências serão peça chave para construção de quem somos. Porém muitas vezes, não é uma experiência traumática em si, que gera uma demanda. Mas sim, o reflexo e reprodução do comportamento e das crenças familiares.
A melhor maneira de se obter resultados realmente eficazes e conseguir transformar nossas sensações, é tratando a causa, o motivo de termos essas emoções que geram tanto transtorno. O Autoconhecimento por si só, não traz mudanças. Ele precisa estar aliado a ressignificação e reeducação mental. Não basta tratar apenas um sintoma, mas sim a necessidade que a mente criou, para que ele exista.
A partir daí, podemos nos dizer livres. Por sermos nós a comandar nossa mente, e não o contrário!