Faz bem cuidar dos netos, mas com equilíbrio para não prejudicar a saúde
Pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, já há algum tempo noticiaram, com base em estudos científicos, que crianças crescem mais felizes quando avôs e avós assumem parte de sua educação. Em 2015, foi a vez da Universidade de Melbourne, na Austrália, anunciar os efeitos à outra parte: cuidar dos netos com equilíbrio pode fazer bem à saúde.
Mas atenção, quando os avós são idosos, essa interação exige mais cuidados: “Quando é um prazer, distrai e traz alegria e bem-estar, ótimo. Agora, quando vira obrigação ou demanda demais, a ponto de o idoso deixar de fazer suas coisas, de se cuidar, não conseguir gerenciar a própria vida, é prejudicial. Além disso, em pandemia, vale lembrar que são um dos grupos de risco”, explica Alessandra Fiuza, geriatra da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
É preciso reconhecer os limites
Outro especialista nesse assunto, o médico Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), lembra que a tarefa de cuidar dos netos, quando não equilibrada, pode irromper no idoso um mal conhecido como estresse do cuidador, uma tensão emocional decorrente do cuidado.
“Não é aconselhável o idoso colocar a própria saúde em risco. É preciso que ele e a família tenham bom senso e racionalizem a situação para não cruzar essa linha. Se for o seu caso, reconheça limites e se não der conta, não se proponha a cuidar”, orienta Camiz.
É que, se por um lado pode ser prazeroso e até uma novidade cuidar do próprio neto, ainda mais se for o primeiro, do outro exige tempo, disposição e leva a uma transformação na rotina. Avós cuidadores geralmente ficam responsáveis por tudo: higiene, alimentação, o que inclui o preparo dela, medicações, segurança, brincadeiras, levar e buscar a criança na escola. Por isso, cabe aos filhos se atentarem e consultá-los antes se realmente há disponibilidade e desejo.
Prós e contras dessa relação
A “netoterapia”, segundo a pesquisa australiana, pode retardar o envelhecimento cerebral e as doenças demenciais em cerca de dez anos. Para chegar a essa conclusão, os cientistas monitoraram 186 avós, entre 57 e 68 anos, que durante esse acompanhamento realizaram testes variados: de agudeza mental, memória operacional e velocidade de processamento.
Se saíram melhor 120 avós que cuidavam dos netos uma vez por semana. Em entrevista na época, a pesquisadora Cassandra Szoeke garantiu que no teste de memória esse total se lembrou de 69% das palavras, 6% a mais do que quem nunca ficou com os netos. Porém, avós que cuidavam dos netos mais que um dia na semana tiveram desempenho pior. Por cinco ou mais dias, a memória reduziu 14% e a velocidade de raciocínio 21%, o pior resultado obtido.
Não para por aí. Os especialistas garantem que sobrecarregado e exausto, o idoso pode apresentar quadros depressivos e de ansiedade, insônia, falta de apetite e se não tiver bom preparo físico, funcionalidade e força muscular, ainda dores. Sobretudo articulares, que pioram a depender das demandas e da situação a que se imponha, como deixar o neto pular sobre si, correr o tempo todo atrás dele, ou carregá-lo demais no colo.
Como garantir o equilíbrio?
Desde o começo, além de reconhecer os próprios limites, o idoso deve manter uma rotina de cuidados reais, ou seja, fazer o que é necessário e não buscar agradar aos pais, ou ceder a todos os caprichos infantis. Se a criança já entende, vale explicar a ela os cuidados com os mais velhos. Peça para que não espalhe brinquedos pela casa para não causar quedas, por exemplo.
O idoso deve ainda manter seus exames em dia, se divertir, se exercitar e se relacionar — e não apenas com netos e filhos. “Cada vez mais os idosos querem e precisam de sua individualidade e liberdade”, lembra Paula Ducatti de Medeiros, geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e do programa de atenção à saúde QualiViva, da Qualicorp.
Quando o idoso perceber “exageros” por parte dos filhos, é fundamental que estipule regras e, caso não esteja dando conta de olhar o neto, admitir que precisa diminuir ou descontinuar com os cuidados. Não respeitar isso aumenta os riscos de acidentes para si e para a criança.
“Se estiver com problemas de imunidade, dores e estressado, precisa informar. As crianças também têm muito mais infecções virais quando frequentam escola, creche e isso pode ser um problema para o idoso. Além da vacina da gripe, para que não se infectem com a coqueluche, aconselhamos até que os avós realizem pelo menos uma vez a vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa)”, aconselha a geriatra Alessandra Fiuza.
Fonte: UOL