Meio ambiente

Subespécie de coruja é vista na ilha de Bornéu pela 1ª vez em 125 anos

Encontrada nas florestas montanhosas do Monte Kinabalu, na Malásia, ave identificada como “Otus brookii brookii” tem chance de ser inédita

Quando o ecologista Andy Boyce avistou uma coruja da subespécie Otus brookii brookii, sabia estar diante de uma “ave mítica”. A uma altitude de 1.650 metros nas florestas montanhosas do Monte Kinabalu, o ponto mais alto da ilha do Bornéu, na Malásia, o animal foi captado pelas lentes fotográficas do pesquisador após quase 125 anos sem registros de aparições na natureza e, pela primeira vez na história, virou objeto de um retrato.
Divulgada na última quarta-feira (28) em artigo no periódico The Wilson Journal of Ornithology, a descoberta aconteceu em maio de 2016, quando pesquisadores norte-americanos deram início a um projeto que pretendia estudar os 10 últimos anos de evolução das aves que povoaram o Monte Kinabalu. Quem notificou Boyce sobre a possível aparição da coruja rara foi o biólogo Keegan Tranquilo, para quem ela parecia maior e diferente das que são regularmente encontradas nas montanhas.
O pesquisador do instituto norte-americano Centro de Aves Migratórias Smithsonian concordou e quase não acreditou no que viu, já que a ave foi documentada viva pela última vez em 1892. “Foi uma progressão muito rápida de emoções quando vi a coruja pela primeira vez — choque e empolgação absolutos por termos encontrado essa ave mítica — depois, pura ansiedade por ter que documentá-la o mais rápido que pude”, relata Boyce, em comunicado oficial.
Três características visíveis a olho nu sinalizavam para a hipótese: tamanho, cor dos olhos e habitat. Pequena — não pesa mais do que 100 gramas — e dona de olhos laranja-flamejantes, a Otus brookii brookii é nativa da ilha de Bornéu, no sudeste da Ásia, assim como a outra subespécie de sua família, a Otus brookii solokensis, oriunda das florestas da Sumatra.
De acordo com Boyce, atributos específicos do animal (como plumagem, padrões de especiação do gênero Otus e parâmetros filogenéticos de aves montanhosas em Bornéu e Sumatra) sugerem que a coruja encontrada corresponda a uma nova espécie endêmica da ilha asiática. A suspeita, no entanto, ainda não pôde ser posta à prova, uma vez que os dados sobre a subespécie são raros e, em sua maioria, se apoiam em referências de sua subespécie-irmã mais comum na natureza, a Otus brookii solokensis.
Segundo os pesquisadores, quase todos os elementos básicos da ecologia da Otus brookii brookii são desconhecidos, incluindo distribuição geográfica, biologia reprodutiva, tamanho da população e comportamento vocal. “Nossa única observação durante este estudo intensivo confirma que esta coruja vive em florestas de montanha, provavelmente acima ou abaixo da área de pesquisa”, avalia Boyce.

Até agora, a espécie Otus brookii só era representada em fotografias pela subespécie Otus brookii solokensis, oriunda das florestas da Sumatra, acima representada (Foto: Lars Petersson/eBird)

Desvendar esses dados pode ter implicações importantes para a conservação de ambas as subespécies de Otus brookii, endêmicas de ilhas do sudeste asiático. A floresta onde a Otus brookii brookii  foi localizada justifica o raciocínio: já se encontra ameaçada pela perda de habitat devido às mudanças climáticasdesmatamento e exploração do óleo de palma na região.
Não à toa, os pesquisadores recomendam que sejam feitos levantamentos noturnos para estudar o habitat, registrar vocalizações e coletar amostras de sangue ou penas da coruja inédita. “Para proteger esta ave, precisamos de um conhecimento sólido de seu habitat e ecologia, destaca Boyce. “Infelizmente, só somos bons em conservar o que sabemos e o que nomeamos”. Apesar da ausência de informações, o estado de conservação da espécie foi designado como de “pouca preocupação” pela União Internacional para Conservação da Natureza.

Foto de capa: Andy Boyce/Smithsonian Migratory Bird Center

Fonte: Revista Galileu

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