Cientistas recriam perfume de Cleópatra: ‘Base picante acompanhada de doçura’
Como teria sido a fragrância usada pela última rainha do Egito? Com este estudo, estamos cada vez mais perto
Uma essência que parecia com o perfume que Cleópatra usou enquanto reinava o Egito Antigo foi recriada por cientistas a partir de uma combinação de receitas históricas de textos hieróglifos, expedições arqueológicas, análise química e muita tentativa e erro.
Por muito tempo, tudo o que a ciência sabia sobre essas fragrâncias estava em registros não tão fáceis de serem entendidos: o significado exato dos hieróglifos dessas receitas foram se perdendo e se tornou difícil reproduzir o perfume de maneira fiel. O que se sabe ao certo são os nomes dos óleos usados em ritos funerários e rituais do templo da época de Cleópatra, que puderam ser entendidos a partir, principalmente, de um livro de receitas atribuído a rainha após sua morte. No entanto, sua composição é incerta.
Em 2012, porém, pesquisadores se animaram com a descoberta do que pode ter sido uma fábrica de perfumes no passado em Thmouis, uma extensão de Mendes, conhecida por suas fragrâncias em todo o Mediterrâneo.
A partir dos resíduos coletados no fundo de ânforas — como são chamados os antigos vasos cerâmicos que armazenavam produtos e, neste caso, provavelmente perfumes — encontradas na região, os especialistas puderam recriar o possível cheiro de Cleópatra.
Perfume da rainha egípcia
Com esse conhecimento em mente, uma equipe de pesquisadores reproduziu o aroma em 2019, exibindo o resultado do projeto aos visitantes da exposição Queens of Egypt do National Geographic Museum, que puderam sentir o possível cheiro da rainha.
No perfume exposto, havia cardamomo, canela e azeite de oliva em uma base de mirra, resina aromática extraída de uma planta homônima, como relatou o portal Gizmodo, do UOL. Ainda assim, esse provavelmente não é o produto final desse estudo.
Isso porque a receita ainda não é considerada conclusiva por muitos pesquisadores que, com a análise, publicaram, em setembro de 2021, um artigo em que descrevem a pesquisa no periódico científico Near Eastern Archaeology.
No texto, os cientistas escrevem que “a base para perfumes e unguentos [egípcios] era óleo vegetal ou gordura animal, em vez de nosso álcool moderno”. “Os aromas foram criados através da fumaça da queima de resinas perfumadas, cascas e ervas (‘perfume’ deriva de per fumum ‘através da fumaça’), ou através da maceração por resinas, flores, ervas, especiarias e madeira embebidas”, acrescentaram.
A dupla de especialistas, formada por Dora Goldsmith, da Universidade Livre de Berlim, e Sean Coughlin, da Universidade Humboldt de Berlim, ambas na Alemanha, usou fluorescência de raios-X, combinada a textos históricos, para recriar o cheiro.
“Uma constelação de variáveis produziu um aroma extremamente agradável, com uma nota de base picante de mirra e canela recém-moídas e acompanhada de doçura”, afirmaram os dois no estudo.
Eles usaram uma variedade de ingredientes e métodos de cozimento para reproduzir o famoso perfume “Mendesiano”, segundo reportou o IFLScience. Fora o próprio lodo do Nilo usado para fazer os recipientes e os resíduos da cerâmica.
Além de podermos finalmente sentir como seria o cheiro de Cleópatra, também conseguimos avaliar o tempo de validade do odor, visto que existem relatos de que os perfumes egípcios mantinham sua qualidade mesmo quando transportados para outros locais.
Fonte: Aventuras na História