Cultura

O Sangue — Parte I

Naquela madrugada de inverno, o frio estava intenso, a chuva fina e fria insistia em contribuir com a estação. Em uma pequena casa de um bairro simples, dormiam uma jovem mãe, que estava grávida com sete meses de gestação e sua filha de seis anos de idade. O pai, um viajante que dispunha de pouco tempo para a sua família. Mãe e filha dormiam juntas na cama do casal. Por volta das três horas da madrugada, a mãe sentiu um desconforto e acordou com o ruído assustador que o vento causava ao redor da casa. Ela despertou com palpitações e falta de ar, temeu que a hora do parto estivesse se aproximando. A sua filha dormia um sono de anjo. Vagarosamente, ela se sentou na cama para respirar. A família havia se mudado para aquela casa há poucos meses. A jovem senhora estava desconfiada de que algo estranho ocorria por ali, durante as madrugadas. Porém, ela guardava tal segredo do esposo, pois temia que talvez fossem apenas medos infundados, gerados pelo seu estado físico.

Diante da escuridão do quarto e do som do vento lá fora, seu coração não se acalmou, mas ela controlou a respiração e prestou atenção no silêncio. A casa estava fria, ela cobriu a sua filha. Os seus olhos estavam atentos a todos os lados. Um ruído misterioso surgiu na cozinha, ela pensou: “são passos de alguém, ou apenas o vento?”. Ela tentou esvaziar a mente e focar no sono enquanto passava a mão em sua barriga. Lentamente ela adormeceu sentada, entre o seu pavor e o frio, contudo, a sensação de que algo estava lá fora a fez despertar algumas vezes do seu sono leve e conturbado, com o seu instinto de mãe, ela só queria proteger a sua filha.

Quando o relógio marcou três da manhã, um sussurro repentino a fez despertar em um susto:
— O sangue! — exclamou uma voz assustadora em seus ouvidos.
A jovem mãe se levantou desesperada e seu corpo estava todo arrepiado. Ela olhou para o lado e sua filha dormia profundamente. Ao respirar fundo, a mulher se direcionou para a porta, caminhando passo a passo, com a sua pulsação acelerada e a sua boca seca, as suas mãos tremiam e ela pensou em Deus, com fé e confiança. Sua veste era uma camisola longa e larga, com mangas compridas, estava descalça e o frio penetrava pelo seu corpo a cada passo. Ao abrir a maçaneta, ela se deparou com o ruído do vento lá fora e a escuridão ao seu redor. Nada parecia bem, nem ela e nem a casa. E, novamente, o ruído de um passo na cozinha, ela chegou a cogitar a possibilidade de uma invasão. Sem pensar muito, ela retirou um enfeite que estava pendurado na parede do corredor, e o segurou para servir como arma, caso necessário. A jovem respirou fundo e caminhou em meio ao silêncio.

Ao pisar no chão frio, ela sentiu algo diferente em seus pés, mas sem luz não conseguiu visualizar, porém sentia que o chão estava molhado. O interruptor estava próximo à cozinha e ela precisava andar mais alguns metros, para alcançá-lo. Em meio à agonia de não saber em que estava pisando, ela seguiu em frente com coragem, porém ela temia em se deparar com um ladrão. Todavia, no meio do corredor ela escorregou na substância em que andava, assustada, gritou, mas logo colocou a mão sobre a boca para não acordar a sua filha. Para evitar uma queda, ela se jogou contra a parede e se apoiou no chão com uma das mãos. Após se levantar, em profundo desespero, ela correu para cozinha sem ao menos temer o que encontraria por lá. Ao chegar até o interruptor, ela acendeu a luz. Ao visualizar a sua casa, ela sentiu a mais profunda paralisia, havia um rastro de sangue em todo corredor e, ao olhar para si, notou que estava com as mãos e os pés sujos com aquele sangue misterioso e nojento.

Autora: Silvia Vanderss
Palavras: 664
Conto inédito: O Sangue — Parte I
Conto inspirado em uma história real

Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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