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Trump pode influenciar decisões do BC brasileiro sobre alta nos juros; entenda

Por Vandré Kramer

As decisões econômicas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, especialmente na política comercial, vão ser consideradas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para definir a taxa básica de juros (Selic) nesta quarta-feira (19). A ata da última reunião, no final de janeiro, indicou um aumento de um ponto percentual. Esse é o cenário mais provável, segundo os contratos de opção de Copom negociados na B3, que nesta terça-feira (18) apontavam 94,7% de chance disso ocorrer.
José Maria Correia da Silva, coordenador de alocação da corretora Avenue, explica que os aumentos nas tarifas de importação dos EUA promovidos pelo republicano geram muitas incertezas e volatilidade. Mas decisões são tomadas e muitas vezes acabam adiadas. O banco espanhol BBVA ressalta que as políticas de Trump afetam o comércio global, desacelerando a economia e aumentando a inflação nos EUA.

Ainda não está claro se os EUA enfrentarão recessão, o que poderia levar o Federal Reserve (Fed) a cortar juros, o que atrairia capital para países emergentes, como o Brasil. Nesse cenário, haveria um fluxo maior ajudando a controlar a inflação por meio da valorização do real, dado que muitos produtos têm preços atrelados à moeda americana.

Medidas de Trump já afetam economia brasileira
As medidas de Trump já afetam a economia brasileira, com o aumento de 25% nas tarifas de importação de alumínio e aço, segmento em que o Brasil é o segundo maior exportador para os EUA. A instituição financeira espanhola estima que isso resulte em uma redução de 0,03 ponto percentual no PIB brasileiro neste ano.

Rodolpho Damasco, head de private offshore e sócio da Nomos Investimento, afirma que o protecionismo americano reduz a competitividade dos produtos brasileiros e prejudica a balança comercial e a atividade econômica. Como consequência, o Copom pode manter a Selic elevada por mais tempo. A desaceleração do crescimento da economia global vai afetar o comércio internacional de bens e serviços, que atingiu US$ 33 trilhões em 2024, um recorde de acordo com dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês).

A movimentação deve perder força a partir do segundo trimestre. Essa perda de fôlego pode reduzir a demanda por commodities brasileiras, como soja, minério de ferro e petróleo, alguns dos principais produtos da pauta de exportações. A perda de ritmo da economia global, aliado aos problemas causados pela inflação elevada e pelo aumento nos juros internos, deve contribuir para a redução no crescimento do PIB brasileiro em 2025. Segundo o mercado financeiro, as expectativas para este ano são inferiores a 2%. Isso ocorre após quatro anos de expansão próxima ou acima de 3%.

Recessão nos Estados Unidos poderia ter reflexo positivo no Brasil
Uma eventual recessão nos Estados Unidos pode ter um impacto positivo no Brasil, pois pode fazer com que a diferença nos juros entre os dois países seja maior. “Isso é uma situação vantajosa, pois facilita a entrada de recursos aqui”, diz Bruno Shahini, da Nomad.

O Fed vem adotando uma postura cautelosa — à espera de desdobramentos. Na reunião — que acontece também nesta quarta — não se esperam mudanças na taxa atual. O Itaú sinaliza que antes de 2026 não haverá mudanças.
Damasco aponta que uma eventual mudança na postura depende da desaceleração do PIB e da alta nos preços ao consumidor. O pior cenário possível seria a combinação de inflação alta com desaceleração econômica, o que poderia criar um cenário estagflacionário preocupante.

Além da economia mundial, Copom considera mais fatores ao decidir sobre alta nos juros
Outros fatores estão na balança do Copom para definir os rumos da política monetária. No Brasil, a inflação segue acima da meta de 4,5% e com sinais de aceleração. O IPCA acumulado em 12 meses em fevereiro foi de 5,06%. A mediana das expectativas para a alta nos preços ao consumidor indicavam, nesta segunda (17), para uma elevação de 5,66%.

Uma expectativa dos economistas é em relação ao comportamento futuro do Banco Central (BC) frente à inflação. Em dezembro, o BC comprometeu-se a subir a Selic em um ponto percentual por duas reuniões seguidas. Gustavo Sung, da Suno Research, sugere que o cenário mais prudente para maio é deixar a política monetária em aberto, monitorando os impactos concretos das tarifas americanas e os riscos de uma possível guerra comercial. A avaliação é de que o Copom deve aguardar para ter maior clareza antes de ajustar sua estratégia.

Fonte: Gazeta do Povo

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