Economia

O modal viário e o desenvolvimento econômico do ES

Entrevista com Carlos Alberto Teixeira, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Espírito Santo

O setor de transportes sempre esteve presente como um dos pilares no processo de construção e essencial para o desenvolvimento econômico do país. Para se ter uma ideia da importância desse setor, hoje, ele é responsável por 62% de todos os negócios da indústria, do comércio e de serviços, segundo o empresário Carlos Alberto Teixeira, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Espírito Santo (Transcares), convidado da revista AÇO 5.0BR (Fatos & Notícias) para falar um pouco dos entraves que o setor enfrenta nesse momento tão importante no desenvolvimento portuário e industrial do Espírito Santo.

Qual a participação do modal viário para o desenvolvimento da indústria capixaba?
O Transcares é uma instituição que representa mais de duas mil empresas de transportes de cargas e logística do Espírito Santo, setores que têm uma grande importância, não só para o nosso Estado, mas, também, para o Brasil. Para se ter uma ideia, o setor é responsável por 62% de toda movimentação da indústria, do comércio e de serviços do consumidor final, ou seja, mais da metade da economia é transportada sobre pneus.

Por isso, posso dizer que a importância é muito grande. Veja bem, a matéria-prima chega através do transporte rodoviário de cargas e o produto acabado sai da indústria através do transporte rodoviário de cargas. O vínculo e a importância do transporte rodoviário para o segmento industrial, não só capixaba, mas para todo o país, são fundamentais.

Nossa malha viária está preparada para receber os grandes investimentos industriais e portuários em andamento?
Demonstro uma certa preocupação nos processos de privatização das rodovias federais e a malha viária, tão necessárias para atender aos grandes projetos portuários em andamento, que tem o Estado como responsável. Podemos pegar como exemplo a BR-101, que foi licitada e privatizada em 2012 para duplicação dos seus 490 km, da divisa do Rio de Janeiro até a divisa da Bahia e, até hoje, apenas 82 km foram duplicados, isso treze anos depois de sua privatização.

O senhor citou a BR-101, e para BR-262, o que falta?
A privatização da BR-262 ainda não deu certo devido ao seu traçado tão sinuoso e desafiador, mas está surgindo o projeto de outra pista, com trajeto diferente da BR-262, que terá a mesma função. A diferença é que essa nova pista subirá da BR-101 até Belo Horizonte, uma nova alternativa para propor às empresas que participarão da próxima licitação de privatização da BR-262, a grande ligação do Centro-Oeste com o Espírito Santo.

Outra opção muito boa para o transporte de cargas e logística é a BR-259, que tem o propósito de ligar o Centro-Oeste de Minas Gerais ao Espírito Santo, na sua primeira etapa. Saindo de João Neiva, ela atravessa Colatina e entra em Minas Gerais. E, uma vez que chegue ao Centro-Oeste mineiro, será fácil conseguirmos chegar aos estados vizinhos. Isso sem falar na grande oportunidade de fazer o Espírito Santo ter duas saídas transversais à BR-101, ligando o Brasil conosco via Minas Gerais. Outro motivo que faz da BR 259 uma boa opção é o fato de se tratar de uma malha mais fácil e com obras de engenharia muito mais barata e que já foi analisada. O Transcares vem acompanhando e cobrando do governo estadual.

Quais outros investimentos essenciais o senhor citaria?
Temos a ES-115, em Civit II, no município da Serra, estrada que vai até Aracruz. Essa é uma obra em pleno andamento, que inclui terraplanagem, pavimentação, drenagem e viadutos. Este ano, será entregue essa pista dupla até Nova Almeida e, em 2026, de Nova Almeida a Aracruz. Também conhecida como Contorno de Jacaraípe, visa desafogar o trânsito da ES-010. Com o início da operação, a ES-010, que norteia à beira-mar, será voltada para o turismo.

Friso bem a importância desses investimentos porque estão saindo terminais portuários e os maiores da América Latina estão em Aracruz. A Imetame vai entregar, até o final desse ano, um porto com o maior calado do país, chegando a 17 metros de profundidade; onde os grandes navios do mundo, que nunca puderam frequentar essa faixa da América do Sul, vão poder atracar em Aracruz.
Isso é um boom que a gente não imagina o tamanho, é simplesmente uma coisa fantástica! E as rodovias que precisam alimentar tudo isso? A malha viária tem que andar na mesma velocidade, com a mesma passada dos projetos portuários.
A Seatrium Aracruz (Jurong) está dobrando de tamanho, a Portocel e a Imetame estão construindo, e as operações disso tudo se tornam muito mais complexas. Precisamos de vias duplas da BR-101 aos portos de Aracruz, de Presidente Kennedy e de São Mateus, caso contrário, essas operações estariam comprometidas.

O transporte rodoviário é responsável pelo deslocamento de 65% das cargas e de 95% dos passageiros no país (Foto: Freepik/Gerada com IA)

O senhor se diz preocupado como as privatizações das rodovias federais, mas o Estado vem cumprindo com sua parte nesse processo?
O Estado do Espírito Santo está num bom momento, temos tudo para ser um grande polo logístico do país. Nossa posição geográfica é favorável, estamos a 1.100km de 72% de todo PIB nacional, num país dessa dimensão, perto de Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Com estruturas de vias que alimentem esses grandes centros produtores para desovar mercadorias aqui no nosso Estado para exportar para o mundo, sem dúvida nenhuma, o Espírito Santo pode ser tornar o maior polo logístico da América Latina.

A sinergia entre governos e parcerias público-privadas é fundamental. Imagina se o porto da Imetame fica pronto e as rodovias, não? O Estado está saindo um pouco atrasado, mas corre para tentar entregar as vias de sua competência, caso contrário, não valerá a pena todo esse investimento, imagina se fizermos as rodovias depois do porto pronto? A diária de um navio é caríssima, ele só atraca num porto se tiver certeza que vai descarregar e carregar no tempo previsto.

Para finalizar, como a tecnologia está sendo utilizada no setor?
A tecnologia tem se mostrado uma aliada no enfrentamento desses desafios no transporte rodoviário. O faturamento, a movimentação, o estoque, o controle, tudo isso acontece com tecnologia. São sistemas e programas que ajudam muito no desenvolvimento da logística. A inteligência artificial está vindo com tudo para facilitar em controles e movimentações dentro de grandes terminais logísticos.
Na segurança, ela rastreia o caminhão, diz sua localização, quanto tempo ficou parado, para o equipamento até que chegue um socorro. Essa concorrência de tecnologia é muito gostosa para a evolução de todos nós.

Concluo dizendo que o Espírito Santo vive um momento muito bom, precisa apenas se adequar aos projetos. O município de Aracruz mostra isso muito bem, olha o boom portuário daquela região, são investimentos que trarão fornecedores de diversos produtos, muitas empresas, armazéns logísticos, movimentação de contêineres com produtos de importação e exportação, mas, para que tudo aconteça, precisamos estar alguns passos à frente.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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