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Papagaio-da-Nova-Zelândia tem noção estatística vista apenas em primatas

Em pesquisa liderada por bióloga brasileira, especialistas perceberam que espécie tem capacidade de associar probabilidades com eventos futuros

Os papagaios-da-Nova-Zelândia (Nestor notabilis) são capazes de julgar probabilidades estatísticas com base em comportamentos – habilidade vista antes apenas em primatas. A descoberta foi feita por uma equipe liderada pela bióloga brasileira Amália Bastos, que estuda na Universidade de Auckland, e os resultados do estudo foram publicados na última terça-feira (3) na Nature Communications.
Para a pesquisa, os especialistas ensinaram aos papagaios que, ao entregarem uma ficha preta aos seus cuidadores, ganhariam um petisco. Para testar a noção de probabilidade dos animais, os pesquisadores preencheram dois frascos que apresentavam proporções diferentes de fichas nas cores preto e laranja e os colocaram em frente às aves. Então, o cuidador deveria retirar um objeto de cada pote sem permitir que o pássaro enxergasse sua cor. Para conseguir o quitute, o papagaio deveria indicar em qual mão do cuidador a ficha preta estava.
O que aconteceu a seguir foi surpreendente: os animais apontaram sempre para a mão que havia retirado um objeto do pote em que haviam mais fichas pretas. Segundo os especialistas, isso indica que os papagaios têm noção de probabilidade: mais fichas pretas em um recipiente indicam uma chance maior de uma delas ter sido escolhida, aumentando a probabilidade deles conseguirem um lanchinho.
Os pesquisadores, então, decidiram explorar se os papagaios-da-Nova-Zelândia poderiam combinar outras fontes de conhecimento para prever acontecimentos futuros. Veio a outra etapa do estudo: os pesquisadores colocaram a mesma quantidade de fichas pretas e laranja nos potes, mas disponibilizaram os recipientes de forma que, em um deles, as pretas ficassem por cima, mais próximas à mão do cuidador, enquanto no outro as de cor laranja estivessem no topo.
Novamente, os cientistas fizeram as aves adivinhar em qual mão estava a comida. Resultado? Os pássaros escolheram a mão que pegou fichas do pote cujas pretas estavam no topo. De acordo com os pesquisadores, isso sugere que os pássaros foram capazes de combinar informações sobre o mundo físico com a probabilidade – algo notado apenas em crianças humanas e chimpanzés.
“Os resultados do estudo são surpreendentes, pois refletem os de bebês e chimpanzés em testes semelhantes”, afirmou Amália Bastos, em comunicado. “Eles mostram que o papagaio-da-Nova-Zelândia pode analisar a proporção de objetos para fazer uma previsão sobre eventos incertos, o que chamamos de inferência estatística”.
O último teste conduzido envolveu dois pesquisadores selecionando fichas de maneiras diferentes: enquanto um sempre pegava as pretas, mesmo dos potes em que havia mais laranjas, o outro variava. Depois de assistir aos dois pesquisadores selecionando as fichas, os papagaios aprenderam qual dos cuidadores sempre pegava as fichas pretas – e passaram a apontar sempre para esse profissional.
“O papagaio-da-Nova-Zelândia também pôde, então, integrar diferentes tipos de informação a essas previsões, o que foi realmente inesperado: acreditava-se que esse tipo de combinação ocorresse apenas em espécies que tivessem linguagem”, explicou Bastos. “Essa é a primeira evidência de que um pássaro pode fazer inferências estatísticas verdadeiras e integrar diferentes tipos de informações em suas previsões de eventos incertos”.

Fonte: Galileu.com

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