Política

“Acredito na transformação pela educação”

A educação não dá voto, mas transforma uma cidade e eu sou prova disso, pois transformou a minha vida

Pré-candidata à prefeita pela Serra/ES, delegada Gracimeri Gaviorno, falou à coluna Olhar de uma Lente sobre sua trajetória. Nascida em Colatina e, há 25 anos, morando em Manoel Plaza, ingressou na polícia civil como perita papiloscópica e depois como delegada, através de concursos. Formada em Direito e com duas pós-graduações pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), além de um mestrado e um doutorado em outra instituição, diz que a vida nunca foi fácil para ela.
Com quinze anos, teve a sua carteira profissional assinada por um supermercado, fez mecânica na antiga Escola Técnica Federal, estagiou na Vale e como pensava em concluir um curso superior, precisa passar na Ufes, porque não tinha recursos para estudar nas instituições privadas da época.
“Trabalhei em várias delegacias do interior e da Grande Vitória, fui Superintendente de Polícia Técnico-Científica, fui chefe de polícia e subsecretária de Integração Institucional na Segurança Pública, assumi a subsecretaria de Inclusão Social e Cidadania da Secretaria de Direitos Humanos do governo do Estado e, por fim, em 2019, fui Ouvidora, me aposentando para começar uma nova caminhada dedicada à cidade que tanto amo, a Serra.
“Em 2018, eu me inscrevi num concurso nacional que premia trajetória do serviço público… foram doze finalistas na área de segurança, na área de educação, na área de gestão e na área de meio ambiente e eu fui uma dessas pessoas. Como premiação, fomos a Londres conhecer a excelência dos serviços públicos, tivemos uma formação em Londres onde fiquei encantada com o modelo de gestão, como a cidade se relacionava com o cidadão. O cidadão era estimulado a participar, indicava suas prioridades, não interferia na gestão técnica, porém, monitorava o movimento das políticas públicas e fiscalizava o emprego do dinheiro público. Aí, tinham dois desafios quando a gente traz isso para o nosso País. Primeiro, estimular o cidadão a participar, essa vontade de fazer o cidadão participar e, segundo, o poder público deixar o cidadão participar, são dois viés de olhar. Quando há esse encontro, a gente vê que os resultados são infinitamente melhores. Até mesmo para identificar quando uma política pública implantada não deu certo”.

“A educação não dá voto, mas transforma uma cidade e eu sou prova disso, pois transformou a minha vida. Se não fosse a educação, eu estaria como muitos amigos que se perderem para a droga ou outros malefícios”


Em maio de 2018, Gracimeri foi convidada a entrar na política estadual. “Eu estava muito focada no desenvolvimento de política pública e nunca tinha feito política partidária, então eu rejeitei porque não era o meu plano de vida. Quando eu voltei de Londres, entendi que podia fazer mais pela minha cidade. Nesses quarenta e quatro anos que eu estou aqui eu não tenho visto uma gestão focada nas pessoas, a gente conversa com a população, com os empresários e observamos que eles se sentem muito abandonados. Os empresários têm dificuldades com a burocracia emperrada que o modelo de gestão tem em vários níveis e, aqui, no nosso município, não é diferente, às vezes você tem que peregrinar em vários órgãos e às vezes os órgãos não apresentam solução. A gestão atual é ultrapassada, inviabiliza muitos negócios”, critica.
“Quando vou estudar a Serra, e essa é a parte que me move, é uma reclamação geral. Uma comunidade reclamando do atendimento de uma unidade de saúde, os indicativos educacionais bem abaixo da média, percebo que a verdade é que estamos emperrados. Essa disputa política que vivemos há vinte e quatro anos está saindo caro para o município. A população está desassistida, temos uma cidade de amigos ou de parentes, não temos uma cidade de cidadania. Quando a gente vê publicações dizendo que vivemos num modelo de capitania, isso ofende nossa cidadania, ofende a cidadania das mais de 500 mil pessoas que vivem aqui”.
“Os serviços de saúde estão precários, porque a gestão não prioriza as pessoas. Quando falo em priorizar as pessoas eu digo priorizar os serviços públicos, os servidores também, isso é uma corrente. Temos deficiências de gestão de pessoas muito graves aqui no município, isso precisa se alinhar. Uma cidade como a nossa podia estar muito lá na frente, estamos atrasados”, ressalta.
“A mentalidade dos nossos gestores é fazer algo para que ele seja lembrado e que se transforme em voto. Quando falo da educação, me vem à cabeça esse modelo falido. A educação não dá voto, mas transforma uma cidade e eu sou prova disso, pois transformou a minha vida. Se não fosse a educação, eu estaria como muitos amigos que se perderem para a droga ou outros malefícios. Se pegarmos o índice de aproveitamento, vimos que os nossos jovens saem do nono ano com 11% de aproveitamento em matemática e português. Esses jovens não vão entrar no mercado de trabalho, não vão desenvolver o ensino médio, vão ficar sujeitos, na maioria das vezes, ao tráfico de drogas. Ou ele vai matar, ou ele vai roubar ou ele vai morrer”, enfatiza.

Mestre Álvaro (Foto: Site Hotel Serra Grande)

“Quando pegamos municípios vizinhos, como Vitória e Vila Velha, eles têm 24% de aproveitamento, e olha que não são modelos educacionais, mas são mais que o dobro do nosso município, que tem a segunda maior arrecadação do Estado”.
“Até maio, nós gastamos R$ 136 milhões em educação, só que nossa educação estava parada, nossos alunos estavam em casa, um ano perdido. Tivemos custos e os professores não foram acionados para discutir, a pandemia é algo novo, ninguém viveu isso, mas não é porque ninguém viveu que a gente tenha que ficar parado, os professores não podem ficar em casa sem estar discutindo a viabilidade de prestar um serviço que está caro, estou falando de um serviço que não foi prestado”, alerta.

“Como a gente casa uma Serra de oportunidades para essas pessoas que não acessam essas oportunidades? Para quem estamos produzindo riqueza? Que município é esse grandioso, rico e pobre ao mesmo tempo?”, questiona.

“Nós temos oferta de empregos, mas elas não contemplam os nossos jovens, não contemplam os nossos trabalhadores. Temos pessoas que trabalham em Viana, em Cariacica ou Vila Velha, por sua vocação não ter sido direcionada para as necessidades do município. Essas pessoas saem de casa às quatro e meia da manhã e chegam às oito da noite, que qualidade de vida tem essa pessoa?”, indaga.
“Não posso falar das questões sociais como caixinhas separadas porque elas se interligam. Quando falo de educação tenho que abordar o trabalho e renda. Temos a assistência social que fechou os Centros de Referência de Assistência Social (Cras), durante a pandemia, ninguém entende, é inexplicável, não tem lógica, essa conta não fecha”.
“Não tenho uma carreira política, me aposentei agora em abril, estou como pré-candidata porque eu entendo que o meu propósito de vida é cuidar do coletivo. Temos problemas que não dá para maquiar, não é só parque da cidade. Existem, na comunidade de Taquara, moradias irregulares em cima de esgoto, por exemplo, então, se não colocarmos técnicos qualificados no topo e na base e o gestor não dizer para eles que a prioridade são pessoas e que eles são parte desse processo e o governo orientar essas pessoas a caminharem, a gente nunca fará diferente”, finalizou.

Errata: foi dito nessa matéria que a ex-delegada tinha, além das graduação e pós-graduação, mestrado e doutorado pela Ufes. Mas, na realidade, o mestrado e o doutorado foram realizados em outra instituição. A matéria foi corrigida em 27/08/2020, às 8:30.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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