Educação

Países bem posicionados no Pisa fecharam escolas por menos dias

A pandemia escancarou as abissais desigualdades de condições de ensino e aprendizado ofertados a nossa população

Países que são considerados modelos de educação e com os melhores resultados no Pisa, a maior avaliação internacional de estudantes, fecharam escolas por menos tempo durante a pandemia. AlemanhaReino UnidoDinamarcaSuéciaSingapura e França ficaram menos de 90 dias com aulas não presenciais. O Brasil – sempre entre as últimas colocações no ranking do exame – teve 267 dias de escolas fechadas até o fim de janeiro. A maioria dos Estados ainda não reabriu suas redes e a preocupação com a situação atual da pandemia de coronavírus no País está fazendo com que governadores e prefeitos adiem a volta.
Os dados foram tabulados pela consultoria Vozes da Educação, com apoio da Fundação Lemann e do fundo Imaginable Futures, considerando a situação da educação em 21 países durante a pandemia. Ao cruzarem informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre números de casos com os dias em que escolas ficaram abertas, concluíram que elas não foram responsáveis pelo aumento das transmissões – assim como outros estudos científicos têm mostrado.
“Temos que comprar brigas maiores antes de pensar em deixar as escolas fechadas”, diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne. “Dados os efeitos deletérios sobre a aprendizagem, para a saúde mental e para as famílias, e a quantidade de evidências de baixa infecção nas escolas, a gente deveria estar discutindo o que mais se pode fazer para abrir escola mais rápido”, completa.
Um exemplo no estudo é a França, que fechou bares e restaurantes, mantém as escolas abertas desde o dia 4 de janeiro, e não teve aumento de casos. No Reino Unido, apesar de escolas terem sido fechadas em janeiro e fevereiro em um duro lockdown, o primeiro ministro Boris Johnson anunciou que elas voltarão em março, mais de um mês antes de academias, salões de beleza e outros serviços.
Segundo a fundadora do Vozes da Educação, Carolina Campos, responsável pela pesquisa, as análises mostram que outros locais abertos, como bares, restaurantes e comércio, influenciaram muito mais na subida da curva de casos do que as escolas. O estudo também indica que os países que ficaram menos tempo com a educação fechada também tiveram uma reabertura de sucesso. Entre os fatores em comum estão uma comunicação transparente com a sociedade, monitoramento dos casos de covid e uma coordenação nacional da abertura, pontos também deficientes no Brasil.
Entre os 21 países analisados, 17 deles fizeram monitoramento dos casos de covid, com rastreamento de contatos para isolar infectados e entender se a contaminação foi na escola ou fora dela. Só cinco deles (ArgentinaChileFrançaReino Unido e Uruguai) incluíram os professores na lista prioritária para vacinação contra a covid.
Muitos deles tiveram que abrir e fechar escolas diversas vezes, mas, para Carolina, isso é o esperado para o “novo normal na educação” já que estamos ainda no meio de um pandemia e “infecções infelizmente ainda vão ocorrer”. “É importante que os pais no Brasil se acostumem que abrir e fechar escola ou colocar uma turma em quarentena não são sinônimos de insucesso”, diz. “Isso é muito melhor do que manter as escolas fechadas. Se o Brasil tivesse reaberto em setembro, quando a curva estava baixa, teríamos oferecido com dignidade um semestre para as crianças”.
O estudo mostra que países que tiveram sucesso na reabertura realizaram uma comunicação homogênea e coerente entre gestores, fizeram lives frequentes com o ministro da educação, criaram sites com números de casos de cada escola, chamaram sindicatos para colaborar. “A escola é um espaço de informação e ao passar boas informações, ela passa confiança. Os pais querem ouvir do professor, do diretor se vai abrir ou fechar, não só do secretário de educação”, diz Carolina.
“Se você tem a experiência de que pode confiar no governo e nas autoridades, é mais provável que você siga as orientações que forem passadas”, disse o vice-presidente do sindicato de professores da Dinamarca, Dorte Lange, citado no estudo. O país se tornou um exemplo de cooperação entre entidades e governo na Europa durante o processo de abertura de escolas. Mesmo nas nações latinas vizinhas, há exemplos de melhor comunicação e integração nacional. O ministro da Educação argentino tem viajado pelas 24 províncias do país, buscando dialogar com governos locais e representantes sindicais. No Chile, foi criado o programa “Yo confío en mi escuela” (Eu confio na minha escola), dando autonomia para as comunidades escolares nas decisões de reabertura.
No Brasil, não há nenhum plano do Ministério da Educação (MEC) para a volta presencial. Sindicatos também têm tentado impedir a abertura das escolas em Estados como São Paulo, um dos primeiros a retornar em 1º de fevereiro. Antes dele, Goiás autorizou a volta em 25 de janeiro. Têm atualmente aulas presenciais também os Estados do Rio de Janeiro e Paraná.
Já o Piauí anunciou esta semana que adiou a volta presencial por causa da nova onda da pandemia no País e em vários outros Estados do Nordeste, como BahiaRio Grande do Norte e Paraíba, as aulas serão apenas remotas por enquanto. Para Mizne, o calendário de aberturas no País está muito lento. “Países que levam a educação a sério priorizaram a reabertura”, diz Mizne. “Essa discussão já está superada lá fora, agora precisaríamos estar pensando no micro, se precisa de professores extras, como melhorar a infraestrutura para higiene, chamar pais para ajudar, e não se abrimos ou não”.

Fonte: MSN Notícias

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