Economia

Mercado financeiro aumenta pessimismo com Lula por intervencionismo e contas públicas

Pesquisa da Quaest mostra um aumento do “mau humor” do mercado financeiro com Lula, mas otimismo com Haddad

Por Guilherme Grandi

Os agentes do mercado financeiro sinalizam uma espécie de “mau humor” com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de acordo com a nova rodada da pesquisa Quaest divulgada na manhã desta quarta (20). O instituto foi a campo para ouvir do mercado a percepção com o rumo das políticas econômicas do petista, e ouviu que o intervencionismo em empresas públicas e privadas e a possibilidade de não zerar o rombo das contas públicas geram um pessimismo nos investidores, mesmo com uma melhor avaliação do trabalho do ministro Fernando Haddad, da Fazenda.
A Quaest ouviu 101 pessoas entre gestores, economistas, traders (operadores do mercado de capitais) e analistas das 84 maiores casas de investimento do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre os dias 14 e 19 de março (veja na íntegra). A nova rodada da pesquisa aponta que 64% dos agentes do mercado financeiro avaliam negativamente o governo de Lula, um aumento de 12 pontos percentuais na comparação com o último levantamento de novembro de 2023 e de 20 pontos com o de julho do ano passado, quando houve primeiro aumento mais acentuado na percepção. Já a avaliação positiva que era de 0 na primeira pesquisa do governo Lula 3, em março do ano passado, chegou a ter um pico de 20% em julho e foi regredindo gradativamente até alcançar 6% agora.

Veja abaixo a série histórica:

Avaliação do governo Lula em março de 2024 (Divulgação/Quaest)

O aumento da avaliação negativa de Lula se dá, entre outros motivos segundo a Quaest, por conta do intervencionismo do governo na economia principalmente em empresas públicas e privadas. Nos mais recentes episódios, Lula determinou o não pagamento dos dividendos extraordinários aos acionistas da Petrobras e tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega no conselho da Vale.

O intervencionismo do governo é apontado como o maior risco de Lula no mercado (50%), seguido pelo estouro da meta fiscal (23%), ou seja, de não alcançar o prometido equilíbrio das contas públicas, e a perda de popularidade do presidente (19%). Este último ponto, por sinal, levou o petista a convocar a reunião ministerial da última segunda (18), em que cobrou mais ações, resultados e divulgações dos seus ministros.

A questão da meta fiscal também foi apurada pela Quaest, que apontou que 99% dos entrevistados — uma opinião quase unânime — acreditam que o governo não vai conseguir zerar o rombo das contas públicas neste ano. Para 33% dos entrevistados, a meta será revista após a divulgação do Relatório de Receitas e Despesas, em maio, e apenas 10% não acreditam em uma alteração.

Entre outros números relativos aos motivos de pessimismo do mercado com o governo Lula, 97% dos entrevistados acreditam que não pagar os dividendos da Petrobras foi uma decisão errada, 52% acreditam que o governo vai voltar atrás e pagar até o final do ano, e 89% preveem uma redução dos investimentos estrangeiros no Brasil por conta da interferência na gestão da Vale.

Com isso, 45% dos entrevistados veem que a imagem do Brasil no exterior piorou desde a posse de Lula. A avaliação negativa era de apenas 20% em julho de 2023, mas foi subindo gradativamente até esta rodada da pesquisa. Já a avaliação positiva da imagem do Brasil no exterior era de 51% na metade do ano passado e caiu para 25% na percepção dos entrevistados.

Pessimismo com Lula, otimismo com Haddad
Por outro lado, os agentes do mercado financeiro passaram a ver a atuação do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, com mais otimismo do que o presidente, embora ele faça parte do governo. Felipe Nunes, diretor da Quaest, vê que o petista se tornou “um ministro mais forte do que no começo do seu mandato na Fazenda”, aumentando a aprovação com o passar do tempo.

A avaliação positiva de Haddad chegou aos 50% dos entrevistados, com um aumento de 7 pontos porcentuais na comparação com a pesquisa divulgada em novembro do ano passado. É uma recuperação do tombo que tomou dois meses antes, quando a pesquisa de setembro mostrou uma queda de 20 pontos na avaliação positiva. Para 51% dos agentes do mercado financeiro, neste momento, Haddad é mais forte do que no começo do mandato, contra 35% que consideram igual e 14% menos forte.

Veja abaixo a série histórica da avaliação de Haddad pelos agentes do mercado financeiro:

Avaliação do trabalho do ministro Fernando Haddad, da Fazenda (Divulgação/Quaest)

O mercado financeiro também se mostra otimista com o controle da inflação, que agora vê uma preocupação maior do governo (51%). Houve um avanço ao longo da série história, que chegou a ter um pico de 80% de desconfiança em maio do ano passado.

Inflação que, para a maioria dos agentes de mercado, deve permanecer parecida a de 2023 (36%) ou reduzir ainda mais (46%). Inflação é um dos principais indicadores da sensibilidade de opinião. O governo pode colher bons frutos de popularidade com isso”, destacou Felipe Nunes na análise da pesquisa.

Isso faz com que a expectativa de piora da economia seja reduzida em 23 pontos entre a pesquisa de novembro do ano passado (55%) e esta nova rodada (32%). O otimismo por uma melhora se manteve estável em 21%, enquanto que a expectativa de que tudo continue como está aumentou de 34% para 47%.

A continuidade do atual cenário econômico vai depender de como o governo conseguirá aprovar mais projetos de interesse, como “reoneração de setores econômicos, de compensação previdenciária dos municípios, […] de regulamentação dos dispositivos da reforma tributária compreendendo a realidade do Congresso”, disse o ministro Alexandre Padilha na última segunda (18) antes da reunião ministerial.

Sobre a capacidade de aprovar sua agenda no Congresso, os agentes de mercado não estão nem otimistas nem pessimistas. Se consolidou a avaliação que o governo tem uma capacidade regular de aprovação, nem alta nem baixa”, analisa Felipe Nunes.

59% dos agentes do mercado financeiro consideram “regular” a capacidade do governo de aprovar a agenda pretendida no Congresso, contra 23% que consideram “baixa” e 18% “alta”.

Fonte: Gazeta do Povo

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