Comportamento & Equilíbrio

O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e só por ela Parte — IV

Essa conexão visceral constrói um afeto. É um fato da Natureza, que ocorre também entre animais, principalmente, entre os da categoria dos mamíferos

Umbigo, marca banal, mas universal. Todas as etnias, todas as nacionalidades, todos os tipos de corpos, mesmo que cada corpo seja único. A marca da vida, a marca da primeira relação que alimentou para que aquela célula germinada se multiplique e se desdobre em vários tipos de sistemas diferenciados. Tudo patrocinado pelo que corre no cordão umbilical que deixará sua marca permanente.
Essa conexão visceral constrói um afeto. É um fato da Natureza, que ocorre também entre animais, principalmente, entre os da categoria dos mamíferos. Esse espaço de tempo entre o embrionário e o fetal, seguido do bebê, acontece entre Mulher/Mãe e criatura que vai chegar à luz do mundo.

Quando estamos nos debruçando sobre a origem do umbigo, sobre a primeira relação física-afetiva do bebê com sua Mãe, não estamos sacralizando a Maternidade. Sabemos que a Maternidade não é compulsória, não deveria ser exercida por algumas mulheres, muito pelo contrário, temos pleno conhecimento de que existem mulheres que teria uma contraindicação redonda para exercê-la. São pessoas que não têm vocação para essa experiência afetiva.

(Foto: Freepik gerada por IA)

Estamos buscando uma reflexão para encontrar indícios primários da dificuldade de reconhecer o Direito a essa experiência, pela inveja da capacidade criativa do útero. Parece-nos que há um gotejamento de incômodo em mentes que negam que já estiveram nesse lugar do bebê atual, que já foram contempladas pela plenitude dessa experiência. A Misoginia, tanto de homens quanto de mulheres, tem raízes muito profundas, que circulam entre nós sem ser percebida facilmente. O Machismo estrutural também. Tem consistência de água que vai escorrendo sem ser vista, como as infiltrações nas paredes de nossas residências. Quando aparecem, já estragaram muita coisa por dentro.

Apontamos a Misoginia quando ela surge já banhada de violência, como a mancha na parede que solta o reboco, deixando à mostra, o que há muito acontecia por baixo da aparente tinta. Precisamos pensar na sua etiologia, onde está a fonte de tamanha violência que se torna, por vezes, assassinato.
A violência sexual é a forma mais esmagadora, talvez. Os números dos casos notificados, que são apenas uma parte dos casos existentes, são assombrosos.

Um estupro a cada oito minutos. Contra as Crianças, Meninas e meninos, incluindo os bebês, a estatística é ainda maior. E fica como estatística mesmo. A Lei de alienação parental, termo inventado por um médico pedófilo, venerado em nosso país, garante a invisibilidade dos criminosos intrafamiliares, e a inversão dos vetores. A vítima e sua Mãe é que são punidas. E cada vez mais nos aproximamos da criminalização da Mulher/Mãe que ousa denunciar o “pobre violador”, que é auspiciado pelo Estado no lugar de vítima, ganhando de bônus a Guarda Unilateral da Criança que é violentada por ele.

Muito nos inquieta a insistência desse termo, alienação parental, que aniquila o exercício da Maternidade. Sua eficácia é tão grande que tem arrebatado também situações de mágoas e ressentimentos em pais que não são violentos, mas que têm seguido as instruções de advogados que consagraram essa lei. Juntam-se a eles, os profissionais de psicologia que emitem laudos sentenciais, sem nenhuma fundamentação nem de bom senso, onde decidem até o regime de Guarda e usam a lei como vingança contra Mães para destilar sua Misoginia.

Do mesmo jeito que existem mulheres que não deveriam nunca se tornar mães, pela incapacidade de empatia e de compartilhamento de seu corpo, existem homens que não deveriam se tornar pais porque não estão habilitados pela responsabilidade e pelo respeito à relação plena entre mãe e filho. Esses homens costumam atacar essa conexão, exibindo um “Poder opressor”, na busca de um acalento para a frustração, profundamente, sentida, na busca de um pequeno prazer embebido de dominação.

(Foto: Freepik gerada por IA)

Não estamos nos referindo aos elementos que têm desvio de caráter e exibem seu segredo social, a violência física e a violência sexual contra a Criança, o que atinge, diretamente a mãe. O Estupro de Vulnerável é predatório. Também na situação inversa, ou seja, um homem que é um péssimo marido, que espanca a mulher, é um péssimo pai. Quando o homem bate na mãe, ele bate na família toda, em todos os filhos porque dói em cada criança, mesmo que ela não seja tocada. É falta de cognição adequada e é um atestado de misoginia, afirmar que um péssimo marido pode ser um ótimo pai. Falta um bom número de sinapses nesse cérebro.

Mas também encontramos homens que aprendem a exercer a paternidade de maneira saudável, mostrando que é possível respeitar e, até admirar uma Mulher/Mãe, respaldando sua função de maternar a cria deles, sem atrapalhar. Dar uma retaguarda para a Mãe é a pedra fundamental para edificar a boa relação Pai/Filho.

A Paternidade, no entanto, não recebe nenhuma condição da Natureza. Ela é uma construção difícil, que precisa lidar com preconceitos, estereótipos, marcadores sociais que aprisionam o homem em figurações que acumulam obstáculos. Toda a desvalorização do cuidado, atribuído, socialmente há séculos à Mulher, recai sobre o Homem. Sintonizar com um bebê, com sua linguagem corporal confusa, mas expressiva quando bem olhado, é tarefa desestimulada aos homens.

Assim como há Justos na Justiça, há Bons Pais entre os Homens. Continuaremos esse tema no próximo artigo.

Ana Maria Iencarelli

Ana Maria Iencarelli

Psicanalista Clínica, especializada no atendimento a Crianças e Adolescentes. Presidente da ONG Vozes de Anjos.

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