Comportamento & Equilíbrio

Sim ao tédio: por que as crianças precisam de tempo sem fazer nada?

Pedagoga explica como os momentos de ócio podem ajudar a formar crianças mais criativas, autônomas e capazes de lidar com desafios

Ninguém gosta de sentir tédio, sobretudo as crianças que têm tanta energia e criatividade. Durante as férias, o tédio infantil pode ser uma armadilha para os pais que acreditam que todos os momentos devem ser preenchidos com estímulos diversos. Acontece que quando uma criança tem tempo para “não fazer nada”, o que parece ser apenas um momento de tédio é, na verdade, uma oportunidade valiosa para o desenvolvimento do cérebro. É o que explica a pedagoga e fundadora da escola Interpares, Deyse Campos. De acordo com Deyse, quando o cérebro de uma criança não está ocupado com tarefas ou dispositivos eletrônicos, ele ativa a chamada rede neural padrão.

Essa rede cerebral entra em ação quando estamos em repouso mental, permitindo que as crianças reflitam sobre experiências passadas, imaginem cenários futuros e desenvolvam autoconhecimento”, explica.

Momentos de inatividade também fomentam a criatividade. Sem estímulos externos constantes, as crianças precisam inventar formas de se entreter, o que as leva a criar histórias, jogos e até soluções para problemas cotidianos.

A ausência de atividades programadas desafia o cérebro a explorar novas possibilidades, fortalecendo conexões neurais relacionadas ao pensamento criativo”, completa a pedagoga.

Além disso, o tédio ajuda no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais. Ao lidar com a sensação de “não saber o que fazer”, a criança aprende a tolerar pequenos desconfortos e a buscar alternativas para preencher o tempo, tornando-se mais resiliente e autônoma. “Esses momentos são fundamentais para o fortalecimento emocional, porque permitem que as crianças processem o que estão sentindo e aprendam a lidar com estes sentimentos”, afirma Deyse.

Importância do ócio
Os períodos de inatividade oferecem ao cérebro um tempo necessário para recuperação mental. Assim como o corpo precisa de descanso após atividades intensas, o cérebro infantil também se beneficia de pausas para evitar a fadiga cognitiva e melhorar o foco em tarefas futuras.

Dessa forma, ao contrário do que muitos imaginam, manter os pequenos constantemente envolvidos em atividades estruturadas e estimulantes pode limitar sua capacidade de explorar o mundo e criar soluções originais para desafios do dia a dia.

“Muitos pais se preocupam com a falta de atividades, mas é importante entender que o ócio também é uma forma de cuidado”, alerta. Pesquisas apontam que o excesso de atividades planejadas pode levar à fadiga mental e ao esgotamento emocional das crianças. Isso ocorre porque o espaço para momentos de calmaria e introspecção é frequentemente negligenciado.

Permitir que a criança experimente períodos livres não significa abandono ou descuido. Pelo contrário, é uma forma de oferecer espaço para ela exercer sua liberdade criativa e se conectar consigo mesma”, afirma a especialista.

Nas escolas, o ócio criativo pode ser promovido através da organização de espaços e momentos não dirigidos. Por exemplo, criar “cantos de imaginação” ou áreas abertas onde as crianças possam explorar materiais variados sem um objetivo predeterminado incentiva a colaboração entre os alunos e o desenvolvimento de soluções criativas em grupo.

“No caso da Interpares, uma das estratégias que usamos é observar o tempo e a disposição de cada criança ao longo do dia, trazendo-as para atividades pedagógicas nos momentos de maior energia e interesse e dando espaço e liberdade para o ócio em tempos intercalados a esses”, explica Deyse.
Ela explica que esses contextos permitem que o aprendizado aconteça de maneira natural e interativa, promovendo uma educação que valoriza a autonomia e o protagonismo infantil.

Dar espaço ao tédio é dar asas à imaginação”, finaliza a pedagoga.

Fonte: CicloVivo

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