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Mas, afinal de contas, o que de fato é nosso, o que realmente nos pertence? A história demonstra que alguns povos antigos, entre os quais os egípcios, enterravam os seus mortos junto com comida, joias, armas e outros artefatos. Eles acreditavam que poderiam desfrutar dos despojos em outra vida. Muito mais tarde, alguns Profetas, entre eles Abraão, Moisés, Ezequiel e Daniel, através da revelação anunciaram a ideia de pecado, de vida eterna, de paraíso e danação.
Já, Filon de Alexandria, um judeu que viveu em 25 a.C. e que mesclou as ideias de Platão com o judaísmo, afirmava que o homem se divide basicamente em três partes, quais sejam, o corpo, a alma-intelecto e o espírito. O corpo, como se sabe, é mortal e perecível; a alma-intelecto, que corresponderia às ideias e ao pensamento, poderia almejar a eternidade desde que buscasse a Deus, reforçando a ideia de um deus único, poderoso e onipresente, criador e governador do orbe, uma inteligência suprema, causa incriada, o criador e governador de todas as coisas, trazendo para o debate a ideia de logos dos estoicos.

Já o espírito este é imortal, superior, incorruptível e tende à divindade. O pensamento humano viajou na poeira do tempo e se racionalizou com Descartes e, atualmente, já mais consciente sobre os atributos do espírito ainda patina sobre determinados temas, tais como: por que ainda tememos tanto a morte? Para onde vamos, afinal? Por que ainda nos apegamos tanto às coisas, já que todas elas somente nos foram confiadas por empréstimo e que deveremos devolver todas, sem exceção, no fim desta jornada terrestre. Eis, a questão.

Mário Vieira

Mário Vieira

Capixaba, casado, autor e advogado

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