Avanço da direita faz Lula e PT acenderem sinal amarelo para as eleições
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Pesquisas de opinião e articulação da direita fazem Lula advertir militância petista para a necessidade de revisar a estratégia para as eleições de 2024
Por Sílvio Ribas
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Os principais líderes do Partido dos Trabalhadores (PT), incluindo a sua maior estrela, Luiz Inácio Lula da Silva, mostraram nos últimos dias preocupações em relação ao futuro eleitoral do partido. Nos seus discursos e gestos, ficaram evidentes as apreensões em relação à queda na popularidade de Lula, às perspectivas para as disputas de 2024 e 2026 e à dominância crescente do Legislativo, de maioria conservadora, não só na pauta do Executivo, mas também nos recursos do Orçamento.
Os sinais amarelos acesos destacaram ainda divisões internas dentro do PT e pressões do governo para que a legenda reformule as suas estratégias a tempo. Não por acaso, o Planalto anunciou, no fim de semana, uma nova campanha institucional sob o slogan “Brasil é um só povo”, buscando destacar políticas sociais e tentando se reconciliar tardiamente com segmentos da população que mais o rejeitam, incluindo jovens empreendedores, evangélicos e produtores rurais.
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Mas na Conferência Eleitoral do partido, que ocorreu na última sexta-feira (8) e no sábado (09) em Brasília, véspera da estreia em rede nacional das peças de propaganda com tom conciliador, o próprio Lula chamou a atenção da militância petista para um cenário polarizado nas eleições municipais do próximo ano, no qual os principais protagonistas serão ele próprio e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Lula vê soberba do PT e pede diálogo com o povo
Como líder máximo do PT, Lula puxou a orelha de líderes do partido, denunciou a soberba deles e pediu que sejam evitadas “briguinhas” internas. Ele também aproveitou para cobrar mais diálogo com os evangélicos e mais atenção com a classe média. Neste ponto, o desafio proposto se torna um dilema complexo, uma vez que o discurso de Lula sempre esteve centrado em proporcionar aos menos favorecidos maior acesso a bens e educação.
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Como destacou o petista, “basta esse eleitor melhorar um milímetro a sua renda ou se instruir mais para já não mais querer votar na gente”.
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Aqui reside uma contradição inerente à estratégia política histórica do PT: promover o avanço material de eleitores sem saber como manter essa base alinhada às suas propostas. Na dúvida, investe-se no público-alvo cativo, com rendimentos mensais de até dois salários mínimos.
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Postada como militante número um do PT, Janja da Silva, mostrou postura inversa à proposta pela propaganda de governo voltada à reconciliação nacional. Usou sua fala para pedir combate aos “bolsonaristas”, a quem chamou de “fascistas”. Gerou grande repercussão a sua expectativa de prisão iminente de Bolsonaro, “se tudo der certo”, reforçando a polarização política do País.
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Apelo por gastança em ano eleitoral isola Haddad
A gestão da política econômica foi onde o PT mostrou suas maiores divisões, com um nítido movimento para rechaçar a meta fiscal de déficit zero do governo e defendida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), que ficou praticamente isolado.
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A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR) disse querer o “Estado que gasta” e o líder na Câmara, José Guimarães (CE) fez apelo mais explícito por gastança para “ganhar as eleições”. Gleisi e Haddad só mostraram convergir nas críticas ao Centrão e ao Banco Central.
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Noutro sincericídio, a presidente do PT disse que Lula não pode perder mais popularidade para o governo não ser “engolido” pelo Congresso. De certa forma, ela confirma que Lula não consegue mais se impor como liderança popular perante o Parlamento, ficando sujeito aos caciques do centro e da centro-direita.
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A resolução final da conferência eleitoral, repleta de críticas às alianças com partidos de centro e contra a austeridade fiscal, mostra tanto o racha petista quanto temores com o desempenho nas urnas. Isso pode ter repercussões negativas no Congresso, especialmente quando o governo busca aprovar projetos para aumentar a receita fiscal. Para completar, o documento ainda faz uma abordagem polêmica contrária à reação Israel na guerra contra o Hamas e reconhece a rearticulação da direita após a derrota de 2022.
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Dirceu alerta para o risco de “um tranco da direita”
Esse cenário adverso para o partido de Lula foi exposto internamente no mês passado, quando o ex-ministro José Dirceu fez duras advertências ao comando do partido numa reunião da corrente Avante PT. No vídeo vazado do encontro, o outrora mais poderoso líder partidário da legenda avisou que, se erros e movimentações no mundo político não fossem debatidos, o PT iria “tomar um tranco da direita”. Ele avaliou que o partido vacilou em não ter aproveitado o 1º de maio para deflagrar uma mobilização política.
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O seu apelo é para que o partido encare temas sensíveis e reconheça a necessidade de adaptar a sua estratégia. Uma preocupação de Dirceu está na perspectiva de uma maior “ocupação” do ministério pelo Centrão. “Logo eles vão pegar mais um naco do governo”, previu.
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A urgência em acumular munição para enfrentar o já iniciado avanço eleitoral de movimentos de conservadores e de direita, em contraste com a propaganda oficial pró-pacificação, foi detalhada pelas palavras do ministro que chefia a Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, que conta com R$ 647 milhões para gastar em publicidade em 2024.
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Na mais recente edição do podcast Conversa com o Presidente, Lula pediu às famílias brasileiras que “esqueçam as divergências políticas e vamos outra vez ser felizes”. “É o momento da união do povo brasileiro”, completou Pimenta.
Um dia antes, contudo, em reunião na Embaixada do Brasil em Berlim, ele mostrou uma fala bem diferente e mais realista, admitindo que o resultado das últimas eleições trouxe desafios para o PT. Com o eleitorado de Lula concentrado nos estados do Norte e Nordeste e na população de menor escolaridade, além de um Congresso de maioria conservadora, o partido precisa ter importante inflexão em 2024 para não se inviabilizar em 2026.
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Precisamos eleger candidatos que sejam contra o Bolsonaro. Não estamos mais na época de construir nomes, temos de ganhar a eleição e derrotar o bolsonarismo. Porque 2026 já está em jogo”, disse.
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Lula e Bolsonaro serão os cabos eleitorais de 2024
Pesquisas de opinião indicam resiliência da polarização de esquerda (Lula) e direita (Bolsonaro), fenômeno ainda relacionado às redes sociais. Segundo analistas, é aí justamente onde a direita tem obtido mais sucesso e o PT começa a reconhecer suas falhas nesse terreno. Além disso, a direita tem colocado em debate temas como o papel do Estado na economia e, sobretudo, valores e costumes. A esquerda, por sua vez, intensifica a questão identitária como se fosse assunto de maior interesse na sociedade.
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Depois de consagrar 2023 como um ano dedicado à agenda internacional, que consumiu quase um terço do ano em viagens, Lula promete “percorrer todo o País” em 2024 e ser o melhor “cabo eleitoral” para seu partido. Nesse papel desde que voltou do exílio de três meses nos Estados Unidos, Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle, vêm preparando o PL e siglas aliadas para o pleito municipal. O ex-presidente faz questão de provocar seu arquirrival, o desafiando a percorrer as ruas e colher as mesmas recepções numerosas e calorosas que tem registrado, até mesmo em Buenos Aires.
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A vitória do presidente argentino Javier Milei, inclusive, derrotando os esquerdistas no poder, mostrou uma tendência internacional que preocupa o PT. As pressões da ala do Planalto e do PT para que o governo coloque o pé no acelerador dos gastos para produzir resultados eleitorais levaram Lula a derrubar a meta fiscal de déficit zero em 2024, para depois recuar diante das ponderações feitas por Haddad.
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Esse dilema deve voltar ao centro do governo conforme variarem os números de pesquisas de intenção de voto e de avaliação do governo. O contexto também pressiona o governo a fazer uma reforma ministerial em janeiro para estabilizar sua governança e reorientar seus atores nas articulações políticas.
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Lula poderá levar Gleisi Hoffmann para a Esplanada, mas tem dúvidas de como ficará o comando do PT diante de uma campanha eleitoral sabidamente difícil no ano que vem. Entre os cotados para substituir a deputada paranaense à frente da legenda está, por exemplo, Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP), um dos petistas mais próximos do presidente da República. Em recente entrevista ao Correio Braziliense, Edinho admitiu que o PT não tem “plano B” para as eleições presidenciais de 2026 e precisa de Lula para continuar no Planalto.
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Fonte: Gazeta do Povo